Roberto Bascchera
A história do DKW alemão do engenheiro mecânico Rene Witzke se confunde com a de seu dono. A começar pelo ano em que ambos nasceram: 1957.
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O cupê de Witzke, um F-93, se diferencia dos DKW nacionais (F-94) por ter bancos de tecido, ventilação forçada e vidro lateral traseiro móvel, sem coluna central. O charme são as portas do tipo suicida (abrem pela frente).
O carro foi importado no final da década de 50 para ser usado por um diretor da Vemag. Algum tempo depois, acabou sendo vendido a outro executivo alemão. “Eu conhecia esse carro desde criança porque a manutenção era feita na oficina do meu avô, um concessionário DKW desde os anos 30”, conta Witzke.
Viagem. Anos depois o DKW sumiu de vista, mas continuou sendo tema de conversas nas reuniões da família. Até que o jovem Witzke e seu pai resolveram desvendar o paradeiro do F-93.
Como sabiam que o então dono do carro vendia vinhos para monges, foram bater às portas do Mosteiro de São Bento, no centro da capital. Descobriram que o alemão morava em Vinhedo, no interior do Estado.
Chegando à cidade, souberam que o vinicultor morava em um sítio. “Não acreditei quando vi que o DKW estava na garagem, coberto de poeira e com pneus arriados, mas íntegro”, conta Witzke. “A negociação foi difícil, mas ocorreu ali mesmo, na hora. Vencemos a resistência do antigo dono e voltamos com o DKW no mesmo dia.” Isso foi em 1975.
O carrinho de motor dois tempos, três cilindros e 900 cm³, que gera 45 cv, passou a ser o carro do dia a dia de Witzke. Com câmbio longo, primeira marcha seca (não sincronizada) e embreagem Saxomat (de acionamento centrífugo e pneumático, sem pedal), o F-93 já rodou mais de 400 mil quilômetros sem grandes problemas até passar por uma restauração minuciosa em 2006, na casa do engenheiro. “O trabalho foi fácil de fazer”, diz.
Postal. Ainda garoto, Witzke se apaixonou por um DKW que viu no material de divulgação de “Valerie”, filme de 1957 estrelado por Anita Ekberg. “Nunca me esqueci.” Ele prometeu a si mesmo que, se tivesse um DKW, seria igual àquele.
Assim foi feito. A cor creme da carroceria deu lugar à azul, igual ao tom do carro do cinema. Hoje, nos passeios de fim de semana, o F-93 chama a atenção pela elegância e os acessórios de época, como o som Sabamobil alemão, aparelho pré-estéreo, com sistema de quatro pistas mono que só toca suas próprias fitas. Ele pode ser retirado do painel e funciona como um rádio portátil (apenas AM) com pilhas.
Coisas da “pequena maravilha” – significado, em tradução livre, da sigla alemã DKW (Das Kleine Wunder).