
O veículo que o motorista Marcio Medina guia no dia a dia tem seis metros de comprimento e não passa de 130 km/h. Trata-se de um caminhão Scania 1997, com caçamba basculante feita para carregar areia, pedras e cascalho. Nos fins de semana, porém, a pegada é outra. É ao volante de um impecável Maverick GT V8 1975 que ele gosta de trafegar.
O pai de Medina, empresário, recebeu o Ford em 1977, com apenas 2 mil km de uso, como parte do pagamento de algumas máquinas. Ele decidiu que daria o carro de presente ao filho, à época com dois anos de idade. Enquanto o pequeno Marcio crescia, o carro era usado por sua família, até ser colocado sobre cavaletes, em 1985, com 12.300 km rodados.
“O Maverick estava prometido para mim, mas meu pai não o liberou quando fiz 18 anos. Disse que eu precisava ter pelo menos dez anos de experiência como motorista para guiá-lo. Completei 30 anos em 2005 e só então recebi as chaves e o documento”, conta Medina.
Agora, ele afirma que entende as razões do pai. “O V8 tem tração atrás e é meio violento. Se você entrar na curva de qualquer jeito e acelerar, o carro sai de traseira mesmo. Alguém que não saiba bem o que está fazendo pode acabar se matando com ele. É preciso guiá-lo de forma bem suave.”
++ Siga o Jornal do Carro no Facebook
++ Fã de Kombi mantém belo exemplar de 1975
Nove anos depois de voltar às ruas, o “Mavecão” registra 20.800 km rodados e preserva os pneus originais de fábrica. A manutenção se limita ao essencial: troca de óleo, velas e platinado. Medina roda com o Ford apenas duas vezes por mês.
“Tenho adoração por esse carro, mas não dá para usá-lo no dia a dia, é muito risco. Tenho medo de sofrer uma batida ou ser roubado. Com chuva, nem pensar em tirá-lo da garagem.” Quando sai de casa, o Maverick GT causa frisson. A vocação de estrela está até no apelido recebido da família Medina: Elvis Presley. “Somos todos fãs do cantor, até nosso cachorro se chama Elvis”, revela o dono.
Apesar de ser fã da maciez e da potência do Ford, Medina diz que terá de vendê-lo. “A família cresceu e preciso investir em um negócio. Dá dor no coração, mas há decisões que precisam ser tomadas.” Ele espera fechar negócio por um valor na casa dos seis dígitos.
Quando a separação tiver sido consumada, restará a Medina voltar à boleia do caminhão, pensar no Maverick e cantarolar “you ‘are’ always on my mind…” (você “está” sempre em meus pensamentos).
História. O Maverick foi lançado pela Ford nos EUA em 1969. No Brasil, o modelo surgiu em 1973, nas versões Super e SL (Super Luxo), com carrocerias cupê e sedã, e GT, apenas com duas portas. Uma opção luxuosa, LDO, veio em 1977. O modelo teve 108.106 unidades vendidas até ser extinto, em 1979.