Diz a sabedoria popular que ninguém morre na véspera. O Maverick Sedan Super 1975 desta página é um exemplo disso. Ele foi abalroado em um acidente em 1987 e a seguradora declarou sua perda total. Mas ainda não era sua hora de partir, e hoje o Ford esbanja vigor.
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É verdade que o sedã só teve esse destino por insistência do administrador Paul William Gregson. O Ford foi comprado novo pelo pai dele. Depois de muitos anos dando expediente como o carro da família, ele deu ao então adolescente Paul suas primeiras lições de direção e tornou-se seu amigo inseparável.
“Foi com este Maverick que passei a juventude, com amigos, festas, namoradas. Meus colegas tinham modelos bem mais novos, mas eu gostava do cheiro e do barulho do motor dele”, recorda o administrador.
A parceria teria tido um ponto final dramático com a colisão. Afinal, com o valor de mercado que o Ford tinha à época, a seguradora considerou que consertá-lo não compensava financeiramente. Mas Gregson não suportou a ideia de ver seu velho parceiro virar sucata.
“Fiz meu pai ir até a companhia de seguros. Ele pagou uma quantia em dinheiro para que a empresa concordasse em tirá-lo da perda total”, conta. O carro foi recuperado e voltou para a família. Embora a propriedade do veículo nunca tivesse saído das mãos do pai, era com o filho que o Maverick vivia seus grandes momentos.
No ano seguinte, o administrador associou-se a um clube dedicado ao modelo e enveredou de vez pelo mundo do Maverick. Hoje, ele tem seis unidades. Além do sedã desta reportagem, que ele herdou após a morte do pai, em 2014, a coleção inclui dois cupês americanos e um exemplar da rara perua.
“Eu queria ter tido ainda mais exemplares. Mas aí surgiram outras prioridades de vida, e o Maverick ficou muito caro”, diz Gregson. “Hoje em dia, talvez esse acervo nem tivesse acontecido. Tive sorte, as coisas ocorreram no tempo certo.”
Estrela de cinema
Em 2013, o sedã teve a pintura raspada e refeita, no mesmo tom de fábrica. “Meu pai já estava doente. Fomos buscar o carro pronto sem avisá-lo e fizemos uma surpresa para ele. Quando ele viu o Maverick entrando, quase caiu duro de emoção. Depois, olhou o Ford com um sorriso de orelha a orelha”, lembra.
Caprichoso, Gregson registra desde 1994 a evolução da quilometragem do Maverick em uma planilha. Dos 136 mil km de 24 anos atrás, o hodômetro passou para os 159.949 km atuais – uma média de comedidos mil quilômetros por ano.
Destes, alguns foram rodados diante de câmeras. Isso porque, vez ou outra, o Ford é recrutado para estrelar filmes. Nessas ocasiões, Gregson faz questão de vigiar o carro de perto.
“Não gosto de emprestá-lo para pessoas que não conhecem antigos, pois não sabem lidar com o câmbio e os freios dele”, justifica. “Uma vez, o ator não conseguia fazer a redução de jeito nenhum. Tive que ir trocando as marchas deitado no assoalho, para não sair no filme.”