A vida é cheia de términos e recomeços, mas o advogado Leonardo Mazzillo nunca lidou bem com isso. Na hora de dizer adeus, o apego sempre fala mais alto e ele fica com o coração dilacerado. Quando Basílio cruzou o seu caminho, porém, ele sentiu que a história seria diferente. “Desta vez, é para sempre”, ele garante. “Basílio” é um Mercedes-Benz 280 de 1980.
“Ele é indestrutível. Essa geração, a W123, roda como táxi no Marrocos até hoje. O motor dele, um 2.8 seis-cilindros, foi feito por 17 anos”, diz Mazzillo. “Quando eu vendo um carro, a dor é tanta que até tira o prazer de comprar um novo. Pelo menos este é para o resto da vida.”
O fascínio pela marca alemã o acompanha desde a infância, quando foi vizinho de um diplomata que só usava carros da Mercedes. “No início dos anos 80, aqueles carros eram inacessíveis. Tive Ford Del Rey Série Ouro e Chevrolet Monza Classic, o luxo que dava para ter.”
Quando começou a dirigir, Mazzillo foi “comendo pelas beiradas”. Teve Ka, 206 SW, Fusion e Azera, até realizar seu sonho.
“Primeiro, comprei um CLC 200 usado. Depois, troquei por um C 200. Hoje, meu carro de uso diário é um C 180.”
Basílio surgiu em 2015, anunciado por R$ 21.500. “O preço me atraiu e fui ver o carro, mas estava bem ‘judiado’. Fui embora certo de que jamais o compraria”, conta o advogado.
Voltando para casa, porém, ele pensou no acabamento interno em tom verde-musgo e mudou de ideia. “Foi a mesma coisa quando conheci meu cachorro, o Banana, no centro de doação. Na hora tive medo de levá-lo para casa, mas voltei para buscá-lo no dia seguinte.”
Foram necessárias três oficinas e R$ 50 mil para revigorar o sedã. Acertar a regulagem do carburador foi um desafio. As portas, que estavam cheias de massa plástica, tiveram as chapas refeitas. Itens de acabamento foram garimpados. “Não me incomodei em gastar esse dinheiro, pois o Basílio nunca vai se desvalorizar.”
Mazzillo e Basílio passeiam juntos pelo menos uma vez por semana. “Fico impressionado ao ver como um carro de 37 anos continua perfeitamente funcional. Ele é muito resistente e confortável. Só faz falta uma direção hidráulica progressiva. Acima de 100 km/h, ele dá uma certa insegurança.”
O advogado jura que não tem ciúmes de Basílio e deixa que os amigos dirijam o sedã – desde que não o confiem a manobristas. “Se for para quebrar uma lanterna, que seja eu. Assim, pelo menos terei uma história interessante para contar”, justifica.
Ele também vê com bons olhos o interesse que Basílio desperta nas ruas. “Eu sempre evitava ficar olhando para um carro antigo de forma mais ostensiva, ou mesmo me aproximar do dono, com medo de incomodá-lo”, diz Mazzillo. “Agora que estou do outro lado, vejo como é gostoso quando as pessoas puxam conversa.”
O hábito de “batizar” os carros sempre esteve presente na vida do advogado. “Meu C 180 é o “Banguela”, o C 200 era o “Obama”… Este sedã é como um membro da família. As pessoas sempre me perguntam como estão o Banana, os meus quatro gatos e o Basílio.”