O MP Lafer enche de prazer a rotina do dentista Gilberto Martines. Quando não está atendendo pacientes, ele leva seu exemplar Marrom Avelã, de 1981, a encontros com outros fãs do modelo, ou passa horas na garagem que montou só para mexer em unidades desse conversível. “O MP é meu brinquedo e meu calmante”, ele define.
A admiração pelo modelo surgiu nos anos 80, quando Martines e seu irmão eram universitários. “Um médico emprestou um exemplar ao meu irmão e fiquei fascinado. Mas não quis dirigi-lo, pois era muito caro e eu não poderia arcar com o conserto em caso de acidente.”
Passados 16 anos, finalmente o dentista comprou seu primeiro MP Lafer, mas ficou pouco tempo com o carro. “Meu irmão me influenciou a trocá-lo por um modelo mais confortável para levar minha esposa e filhos. Escolhi um Fiat Tempra, mas me arrependi. No fundo, eu não queria um familiar”, diz.
O “erro” foi reparado em abril de 1998, quando Martines encontrou seu atual xodó. Com pouco mais de 20 mil km rodados, bancos reclináveis e vidros elétricos, incorporados à linha em 1980, o conversível mantinha os pneus originais (que só seriam substituídos em 2013) e precisou apenas de uma nova pintura para recuperar o vigor.
Após a compra, o dentista se juntou a outros entusiastas que frequentavam a praça Charles Miller, na zona oeste da capital, para formar um clube dedicado ao MP Lafer. “Éramos meia dúzia de pessoas. Mas comecei a distribuir cartões a outros proprietários na rua, e hoje somos 450 ‘laferistas’”, comemora.
Era natural que outros exemplares surgissem, e o dentista não se fez de rogado. Em parceria com o irmão, adquiriu outros 26 MP Lafer entre 1998 e 2016. Sempre com parcimônia: o favorito marrom nunca dividiu a garagem com mais de uma réplica do britânico MG.
“Se pinta algum carro interessante, vejo o alinhamento da estrutura, o estado do assoalho e do motor e a originalidade. Assim, não corro o risco de comprar uma réplica da réplica.”
Inseparável. O xodó de Martines já conta 98 mil km de uso e tem presença garantida em eventos de antigos da capital. “Sou um dos poucos membros do nosso clube que foram a todos os passeios do grupo com o mesmo carro”, ele conta.
Mas é nas viagens que o conversível revela sua maior virtude. “Ele proporciona o vento no rosto, como uma moto, mas com muito mais segurança”, compara. “Não foi feito para correr, mas roda bem a 120 km/h.”
O dono reconhece que o vento entra na cabine, mesmo com a capota levantada, o que incomoda em dias frios. E diz que o barulho do motor VW a ar atrapalha quando ele ouve música. Mas não deixa de elogiar o carro.
“É elegante, tem mecânica de manutenção fácil e barata e agrada a muita gente, incluindo mulheres, crianças e idosos. Ao mesmo tempo, não é um modelo visado por ladrões.”
Réplica. Legítimo representante dos fora de série nacionais, o MP Lafer é uma réplica do roadster TD, que a inglesa MG fabricou entre 1950 e 1953.
Produzido no Brasil pelo fabricante de móveis Percival Lafer, o modelo foi apresentado em 1972 e lançado dois anos depois. Usava a plataforma e os motores boxer 1.5 e 1.6 refrigerados a ar do VW Fusca, sob a tampa traseira – que exibia um falso estepe, enquanto o verdadeiro era guardado na dianteira.
Em 1978, surgiu a opção TI, em que os cromados deram lugar a peças em tom preto fosco, com apelo mais jovem. A opção tinha escapamento esportivo e suspensão mais baixa. Até 1989, foram fabricadas 4.300 unidades do modelo, das quais 1.300 foram exportadas.