Curiosidade sempre, espanto às vezes, indiferença jamais. O PAG Nick 1989 do comerciante Maurício Tchakerian intriga as pessoas. Especialmente aquelas que não viveram os anos 80, quando, na ausência de carros importados, transformações feitas de fibra de vidro eram uma solução para quem buscava exclusividade.
INSCREVA-SE NO CANAL DO JORNAL DO CARRO NO YOUTUBE
O carrinho foi uma criação da PAG, um braço da extinta concessionária Dacon, que marcou época em São Paulo com modificações de produtos Volkswagen. Sua base podia ser a picape Saveiro, o hatch Gol GTS ou GTI ou ainda o sedã Voyage. O modelo original era desmontado, cortado e, já encurtado, vestia uma nova carroceria de fibra de vidro. Nascia assim mais uma unidade do Nick, que foi produzido entre 1988 e 1991.
“Trinta anos atrás, aos 18 anos de idade, eu descia a Rua Augusta e a Avenida Europa só para passar pela Dacon. Eu ficava sonhando com o Nick exposto na vitrine”, lembra Tchakerian. “Muitos aficionados faziam isso, eram carros maravilhosos. Essa é uma lembrança marcante da minha geração, e que não faz sentido para os mais novos: ter um lugar aonde ir para ‘namorar’ carros. Hoje o Nick é um modelo para quem era adolescente naquela época.”
A intenção de tornar realidade o antigo sonho de adolescência já vinha de longa data. O difícil era encontrar um modelo íntegro. Se era raro encontrar exemplares de Gol GTS que não tivessem sido detonados, no caso do Nick ainda havia o agravante da transformação, que tirava o reforço da estrutura da carroceria.
O comerciante viu vários exemplares com algum tipo de problema. Até que, cinco anos atrás, ele se deparou com o Nick que seria dele, largado no pátio de uma loja multimarcas, em consignação. “O carro tinha tido um único dono e estava à espera de um comprador havia um tempão.”
Nick foi renovado nos mínimos detalhes
O carro estava em boas condições. Mas um detalhe incomodava Tchakerian. Com o tempo, começaram a surgir trincas nos pontos de junção entre a carroceria e as peças de fibra de vidro. A solução foi desmontar o carro. O serviço, porém, acabou tomando dimensões maiores que as previstas.
“A ideia inicial era apenas dar um banho de tinta por fora da carroceria. Depois, resolvi trocar a tapeçaria e repintar também a parte interna da estrutura. Quando dei por mim, apenas dois parafusos do eixo traseiro haviam sido preservados”, conta o proprietário.
Aos poucos, a originalidade do carro foi restabelecida, das lanternas às peças plásticas do acabamento. O comerciante inclusive removeu alguns acessórios, como alarme, sistema de levantamento automático dos vidros e trava de segurança na alavanca de câmbio. “Deixei o chicote elétrico imaculado, no estado de fábrica, sem qualquer gambiarra que ele pudesse ter.”
Quando foi adquirido pelo comerciante, em 2014, o carro somava 90 mil km rodados. De lá para cá, o motor 2.0 não rodou mais de 2.500 km. O dono garante que não precisa tirar o Nick da garagem para curti-lo.
SIGA O JORNAL DO CARRO NO INSTAGRAM
“Só de tirar a capa e mexer nele, já me dá uma paz que não tem tamanho. É uma higiene mental para mim”, afirma. “Quando a gente restaura um carro preto, a pintura fica como um espelho. Dá até pena de mexer.”
Durante a restauração, Tchakerian contou com o auxílio do filho, que tinha apenas 10 anos quando o carro ficou pronto. “Ele me ajudava a limpar as peças. Não sei o futuro, mas minha vontade é que o Nick fique com ele. Assim, quando ele tiver 25 anos, poderá dizer aos amigos que participou da reforma do carro. Para quem gosta de antigos, isso é muito legal.”