O GP de Mônaco é um dos mais festejados por qualquer piloto de Fórmula 1. Neste ano, pela primeira vez desde que passou a fazer parte do calendário regular da categoria, em 1955, a prova não foi realizada. Mônaco já foi palco de importantes fatos históricos, como as estreias da Ferrari, em 1950 (quando o circuito ainda era usado esporadicamente), e de uma piloto mulher, em 1958.
O feito foi protagonizado por Maria Teresa de Filippis, que tinha então 32 anos. Nascida em Nápoles, na Itália, em uma família muito rica, ela era contratada pela Maserati.
A italiana não chegou a disputar a prova, pois não conseguiu se classificar. Isso está longe de ser um demérito. Assim como ele, outros 14 pilotos não puderam largar. Entre eles estava Bernie Ecclestone, que corria pela equipe Connaught-Alta e nos anos 1970 passaria a ser o chefão da F-1.
Carreira de piloto começou com aposta
Curiosamente, a ligação de Maria Teresa com o automobilismo surgiu de uma aposta entre seus dois irmãos. Um deles dizia que ela só era boa em equitação e o outro garantia que a garota, então com 22 anos, seria uma ótima piloto.
Aposta feita, Maria Teresa disputou sua primeira corrida de carro, a Salerno-Cava dei’ Tirreni, na Itália, a bordo de um Fiat 500 de sua família. A estreante terminou a prova na segunda posição. Ela ficou fascinada pelo universo das pistas e decidiu que seria piloto.
Em 1954, após terminar o Campeonato Italiano na vice-liderança, ela foi contratada pela Maserati como piloto de testes. A equipe pela qual Juan Manuel Fangio conquistou seu quinto título mundial da F-1, em 1957, abraçou a ideia de ter uma mulher defendendo seu escudo.
Estreia no carro de Fangio
Na temporada de 1958, Maria Teresa estreava como uma das pilotos do time. Aliás, o carro com o qual ela tentou a classificação para o GP de Mônaco era o mesmo que havia sido pilotado pelo argentino na conquista do pentacampeonato.
Em 6 de julho, a italiana foi vítima de uma das mais nefastas arbitrariedades da história da competição. Embora tivesse participado dos treinos, foi impedida de disputar o GP da França pelo fato de ser mulher.
Diretor da prova, Toto Roche, que também dirigiu a Federação Francesa de Automobilismo, foi à coletiva de imprensa antes da corrida levando uma grande foto de Maria Teresa. Ao informar que ela não participaria da prova, ele mostrou a imagem e disse: “Uma jovem tão bonita como essa não deve usar nenhum capacete a não ser o secador do cabeleireiro.”
Fã de Ayrton Senna
A italiana ficou furiosa. Em uma entrevista ao jornal português Público, em 2011, ela disse que se estivesse à frente de Toto o teria esmurrado. “Além disso, creio que não sofri nenhum tipo de preconceito, apenas surpresa com meu sucesso”, afirmou a italiana em uma outra entrevista – ao jornal britânico The Guardian, em 2006.
Menos de dez dias depois ela mostrava a que veio. Em 15 de junho de 1958, a piloto italiana obteve o melhor resultado de sua curta carreira na Fórmula 1.
No GP da Bélgica, largou na 15ª posição e chegou na 10ª colocação. Ficou à frente de estrelas como o australiano Jack Brabham e os britânicos Graham Hill e Stirling Moss.
Na entrevista ao The Guardian, Maria Teresa disse que teve dois grandes ídolos na F-1. Na época em que corria, ela era fã de Fangio. Depois, passou a admirar Ayrton Senna.
Maserati e Porsche
No total, Maria Teresa tentou se classificar em cinco GPs, sendo quatro pela Maserati e um pela alemã Porsche. Mas só conseguiu pontos para disputar três provas.
Uma delas foi o Grande Prêmio da Itália, em Monza, realizado em setembro de 1958. Mas ficou entre os retardatários. Ainda assim, quando a prova foi finalizada ela estava à frente de Moss, Brabham e Carol Shelby.
Oito anos depois, o norte-americano protagonizaria um dos mais impressionantes feitos da história do automobilismo mundial. Shelby liderou o desenvolvimento do Ford GT, modelo que quebraria a hegemonia da Ferrari na 24 Horas de Le Mans. Na edição de 1966 da mítica prova francesa de longa duração, os Ford GT ficaram com as três primeiras posições.
Família em primeiro lugar
Maria Teresa parou de correr em 1959. Ela disse que o motivo foi ter visto muitos de seus amigos morrendo nas pistas, como Luigi Musso, Peter Collins, Alfonso de Portago e Mike Hawthorn.
No mesmo ano ela se casou com Theo Huschek, com quem teve uma filha. Em 1979, entrou no Clube Internacional de Ex-Pilotos de F-1. Em 1997, virou presidente do Maserati Club.
A morte de Maria Teresa de Filippis foi em 9 de janeiro de 2016. Tinha dois netos e morava perto de Milão, na Itália.