O juiz Carlos Noronha é um homem que sabe o que quer. Quando viu o Ford Thunderbird 1955 adquirido pelo vizinho, resolveu que também teria um exemplar. Mas não um qualquer. Depois de estudar o modelo por três meses, concluiu que o carro ideal seria de 1957, com rodas raiadas e duas capotas, uma rígida e outra de lona.
Prático, ele achou pela internet alguns exemplares à venda nos Estados Unidos e contratou uma empresa para avaliá-los. Resolveu comprar o terceiro Thunderbird encontrado. Três meses depois, o conversível negro com 160 mil km desembarcava em sua garagem.
“Eu queria um exemplar completamente original, como todos os meus carros são. Não faço adaptações”, conta Noronha. “Até o rádio é da época.”
Bastou trocar algumas peças, como amortecedores, mangueira do radiador e limpador de para-brisa, para o Ford ganhar as ruas com vigor renovado.
Noronha não poupa elogios à aquisição. “O motor V8 é forte e macio. Pegar uma estrada com ele e baixar a capota é muito gostoso”, diz o juiz, que também tem exemplares conversíveis de Mustang e MP Lafer, além de um Corvette com carroceria do tipo targa.
Zeloso, ele roda com o Thunderbird a cada duas semanas para evitar que a parte mecânica se deteriore. Uma oficina de confiança na zona norte da capital cuida da manutenção necessária. A esposa, Suzana, é companheira nos rolês.
“Um dia, ela vestiu uma longa echarpe ao redor da cabeça e saímos juntos, com a capota abaixada. Os carros primeiro nos ultrapassavam, depois reduziam o passo até nos reencontrarem, e nos fotografavam. Foi um dia especial”, ele lembra.
Nas ruas, aliás, o tom é sempre de reverência. “O respeito que as pessoas têm pelo carro antigo é impressionante. O velhinho atrai gentileza, os outros fazem questão de dar passagem. Já quando estou com meu veículo de uso, é aquela guerra”, brinca o juiz.