Além do belo Landau 1979 que costuma dirigir atualmente, o aposentado Paulo Hilgenberg já teve pelo menos outras dez unidades da linha de sedãs de luxo da Ford brasileira, compradas a partir de 1986. Trata-se de uma paixão que o acompanha desde os 10 anos de idade.
“Eu estava voltando de Santos para São Paulo em um Fusca, em um fim de tarde, quando vi um Galaxie branco com o interior azul. Eu disse a mim mesmo que ainda teria um carro como aquele”, ele recorda.
A história do carro das fotos desta página é marcada por idas e vindas. Hilgenberg o adquiriu em 1991 e, cinco anos depois, acabou por vendê-lo a um amigo – que, por sua vez, repassou o sedã a um outro amigo. Todos faziam parte do mesmo círculo social do aposentado.
“Não me arrependi de ter me desfeito do carro, mas um dia me deu vontade de tê-lo de volta. Eu sempre encontrava com o então proprietário e perguntava se ele não queria vendê-lo para mim. Mas ele só aceitou fechar negócio em 2014”, conta Hilgenberg. “Hoje em dia, tenho apenas esse Landau.”
Tanta insistência se justifica pelo excelente estado de conservação do sedã da Ford, que jamais foi restaurado e rodou cerca de 94 mil km. Hilgenberg diz que a pintura, o estofamento e até os pneus são originais. “Faço apenas a manutenção preventiva normal de um carro dessa idade”, afirma.
Comedimento. Durante o período em que foi dono do Landau pela primeira vez, Hilgenberg fez questão de curti-lo em viagens pelo interior de São Paulo e aos Estados de Santa Catarina e do Rio de Janeiro. “Isso aqui (o carro) vai embora. É só colocar gasolina no tanque e se deliciar”, garante.
Agora, porém, ele se contenta com passeios curtos pela capital paulista, nas manhãs de domingo. Já não leva o sedã a encontros de antigos com tanta frequência e em eventuais viagens prefere usar uma moto.
Mas isso não significa que seu interesse pelo modelo tenha diminuído. “Ainda acho que foi o melhor carro já produzido no Brasil. Não existe nada igual a ele, inclusive hoje em dia. O rodar é diferente: suave, macio, silencioso. É outra concepção de carro, nada se compara. Nem mesmo modelos como os da BMW. Nem da Mercedes-Benz”, afirma.
Ao mesmo tempo que enaltece as virtudes do sedã, o aposentado reconhece que os tempos são outros. “É impraticável rodar com um Landau em uma cidade como São Paulo, com o trânsito de hoje. Há modelos muito mais eficientes. Por isso, é preciso olhar para a frente e se atualizar”, diz.
Prazer ao volante. Hilgenberg diz que o que importa, no fim das contas, é saborear as boas lembranças que o Landau traz à tona. E também as reações positivas que o sedã desperta toda vez que roda por aí. “Quando saio com ele, o assédio já começa com o porteiro do meu prédio”, conta o dono do Ford.
“Em geral, as crianças ficam curiosas, enquanto os mais velhos dividem comigo suas histórias do passado.” Os únicos chatos são os que insistem em fazer a pergunta inescapável: “Gasta muito?”. Para eles, o aposentado responde com uma pergunta retórica. “Um cara de 1,90 metro de altura come a mesma coisa que uma criança? Tudo tem seu preço!”