Viviane Biondo
“O segredo é não acelerar demais nem ‘se arrastar’ pela rua.” Essa foi a instrução dada pelo taxista José Preterotte ao neto Renato Luiz Machado há mais de 30 anos, quando foi ensiná-lo a guiar.
O garoto se tornou engenheiro náutico e, aos 53 anos, diz se lembrar que o pai havia recomendado que ele andasse bem devagar. “Ao assumir a direção do DKW do meu avô, meu ídolo, entendi o que era dirigir”, lembra Machado, que restaurou um Vemag Belcar 1966 igual ao de Preterotte.
O modelo, “novo em folha”, foi encontrado na garagem de uma casas na zona norte da capital. “Na primeira vez que o vi, toquei a campainha decidido a fechar negócio”, conta.
Para ele, guiar o DKW é como entrar em um túnel do tempo. “Guardo até hoje a foto do meu avô ao lado do táxi, azul-claro”, diz Machado, que se considera bom motorista como Preterotte e anda com a relíquia diariamente pela capital. “Exceto quando está chovendo, por questão de cuidado.”
O sedã tem motor 1.0 de três cilindros, dois-tempos (como não há cárter, usa uma mistura de gasolina e óleo que o lubrifica durante a queima) e 44 cv. O câmbio é de quatro velocidades.
Machado fez toda a restauração sozinho. Ele encontrou os componentes que precisaram ser trocados com relativa facilidade. “Fui a feiras, desmanches e encomendei algumas partes”, lembra. “A suspensão teve de ser totalmente refeita. Providenciei buchas de bronze, borrachas e coifas”, conta o engenheiro.
A etapa que exigiu mais minúcia, segundo o engenheiro, foi a funilaria. “As portas estavam desalinhadas e foi preciso desmontar várias partes metálicas para cromar. “ Único serviço terceirizado, a tapeçaria incluiu troca do revestimento do assoalho e dos bancos, que são de courvin.”
Feliz com o sucesso do DKW pelas ruas, Machado procura manter a tradição: já cativou a paixão dos netos, pequenos, pelo carrinho. “Mas não pode bater as portas.”