Sambódromo do Anhembi, zona norte de São Paulo, 7 de setembro de 2015. Ocorre ali um dos desfiles que ocupam diversas capitais brasileiras em comemoração ao aniversário da Independência do Brasil. Diversos veículos militares, entre jipes e tanques de guerra, percorrem a avenida em pares, observados por uma multidão que lota as arquibancadas. Um desses veículos é o jipe Willys CJ-3A de 1951 pilotado pelo publicitário Guilherme Jahara.
Debutando na passarela, ele acena para o público, acompanhado por um veterano da Segunda Guerra Mundial, que viaja no banco do carona.
Assim que Jahara começa a acionar a estridente sirene do jipe, a multidão ao redor vai ao delírio. Colhendo os louros, ele liga e desliga o dispositivo várias vezes durante o trajeto, cumprido em menos de dez minutos. “Foi um barato”, resume o publicitário, que repetiu a dose no ano seguinte.
A participação no desfile, a convite da Associação Paulista de Veículos Militares Antigos, coroou uma trajetória de veneração ao universo militar que ele começou a percorrer na infância. Tudo por influência do avô de Jahara, que foi praça do Exército brasileiro e lutou na Segunda Guerra Mundial.
“Ele sempre se emocionava com as lembranças. Isso fez com que eu começasse a gostar de história e de jipes militares, até comprar este carro”, ele explica. “Até guardei os uniformes que ele trouxe da Itália.”
A ideia de ter um jipe surgiu em 2011, quando o publicitário conheceu um rapaz que havia reformado um modelo de 1944. Mas a compra só ocorreu em 2013, depois que Jahara viu o CJ-3A rodando nas imediações do parque do Ibirapuera, com um aviso de “vende-se”. A capota aberta permitia ver que o dono estava ao volante devidamente fardado.
“Liguei para ele, negociei e comprei. Depois, ficamos amigos e até emprestei o jipe para ele desfilar no Anhembi, em um ano em que não pude comparecer à parada”, diz o publicitário.
SENSÍVEL
O Willys CJ-3A é um jipe civil parecido com o M38A1, que foi fabricado para uso na Segunda Guerra Mundial. Jahara preferia um modelo autenticamente militar, mas não conseguiu achar um em bom estado e não queria bancar uma restauração. “Este aqui tem 80% de originalidade e não precisei fazer nenhum reparo. Só reformei o estofado e instalei alguns acessórios militares.”
De 2013 para cá, o jipe rodou só 2 mil km, sempre em passeios curtos e cercado de cuidados. O dono diz que o carro é mais “sensível” do que aparenta ser. “O volante é meio solto e o câmbio, delicado. A 50 km/h, o jipe já está bem próximo do limite. Ele só sobe ladeiras em primeira marcha e bem devagar.”
O grande barato, de acordo com o publicitário, é rodar com calma e sem a capota, admirando a cidade. O filho caçula, de 4 anos, adora o jipe. “Quando ele viu o filme Carros, que tem um jipe da Segunda Guerra, perguntou: ‘É o seu carro, papai?’”.
Jahara já foi sondado por produtores querendo usar o Willys em filmes e comerciais. “Se a presença do meu jipe for pertinente, tudo bem, desde que não queiram metê-lo na lama”, diz o publicitário. “Meu carro é um senhor de idade, com peças muito antigas, e já sofre demais com os buracos de São Paulo.”