Em visita ao Brasil, Francesco Milicia, vice-presidente mundial de vendas e pós-vendas da Ducati, falou com o Jornal do Carro sobre o momento da marca, as melhorias que aconteceram no último ano e novidades para a operação nacional.
JC – O Brasil tem um passado com a marca, criou uma paixão por ela, mas houve problemas na chegada da companhia como uma subsidiária. Hoje, quão importante é a Ducati Brasil dentro da estrutura mundial?
“Eu diria que o Brasil, junto com a Tailândia, são os únicos países [além da Itália] no mundo onde nossas motos são montadas. Na Tailândia como um “hub” para a Ásia e no Brasil para o mercado interno. Isso é um critério muito importante.”
“O último ano não foi bom para a Ducati no Brasil. O mercado estava sofrendo bastante. Especialmente para companhias que fizeram um grande investimento como nós, e que não têm um importador como outras, mas uma subsidiária [em São Paulo]. Mas nós consideramos o País estratégico, especialmente comparando o volume que já vendemos.”
“Agora nós estamos felizes com nossa eficiência e continuamos investindo no Brasil porque o primeiro quadrimestre de 2019 foi o melhor da história da marca aqui, com um crescimento de mais de 30% comparando ao ano anterior.”
JC – Com o crescimento e a previsão de melhora, quais os próximos passos?
“Continuamos investindo e com o time capitaneado pelo Diego [Diego Borghi, Presidente da Ducati do Brasil], vamos desenvolver as vendas e ampliar a rede com a abertura do novo concessionário em Campo Grande e mais dois logo após o final do ano”.
JC – Com o momento econômico e político do Brasil, você vê capacidade do Brasil virar um hub de exportação para outros países da América Latina, como ocorre com a fábrica da Tailândia? A Ducati faria um investimento nesse sentido?
“No lado industrial, nossa produção no Brasil é bem flexível e acho que nosso volume para o País ainda pode crescer. Nós queremos expandir a participação, mas precisamos aumentar a cobertura de rede, especialmente no Norte e Nordeste do País, considerando até concessionários que trabalham com várias marcas”.
JC – Outras marcas estão investindo forte no segmento de motos clássicas ou de estilo retrô. Por que a Ducati não está fazendo o mesmo com a gama da Scrambler e por que não trouxe a Scrambler Sixty2 [um modelo menor de 399 cm³ e 41 cv] ao Brasil?
“Basicamente, mais de 20 anos atrás nós lançamentos o segmento de naked [com a Monster] e em 2015 de clássicas, com a Scrambler. Recentemente, renovamos a Scrambler com importantes mudanças como embreagem hidráulica, ABS de curva, um novo painel com mais conectividade”
JC – E quando teremos todas essas novidades da Scrambler na Europa no modelo montado no Brasil?
“Claro, nós queremos trazer todo esse conteúdo também para a Scrambler montada no Brasil. E estamos trabalhando nisso para lançar o modelo no início de 2020. Mas reforço que há uma versão especial da Scrambler [Custom] para o Brasil, assim como ocorre com a Multistrada Enduro [Limited], pensada para o consumidor brasileiro”.
JC – Rival da Ducati em diversos segmentos, a Triumph está lançando a Scrambler 1200 no País. A Ducati não vai trazer a Scrambler 1100 para o nosso mercado?
“Acredito que sim, mas não em um curto espaço de tempo. Nós acreditamos que a Scrambler com motor 803 cm³ é um bom produto para o Brasil e vamos continuar a trabalhar o potencial do modelo”.
JC – Com o crescimento local, qual é o produto da marca no País?
“Se eu tiver que dizer apenas um produto, diria a Multistrada. E eu acredito que o potencial da Multistrada ainda não está completo no Brasil. A Enduro pode crescer mais, com as belas estradas que o Brasil tem para viajar.”
“Mas, eu preciso dizer isso, o Brasil é um País muito “esportivo” também, ele tem uma herança de pilotos, como o Ayrton [Senna] que gostava muito e tinha uma Ducati, então sim, as esportivas também são importantes”.
“Eu fui ao concessionário de Campinas, e fiquei surpreso com o número de Panigale preparadas para uso em pista, e a competência e a paixão por corrida da equipe. E isso é algo que gostamos de ver em nossas motos”.
Pós-venda é importante para Ducati
JC – Pós-venda é algo muito importante no Brasil. Se você não tem um bom pós-venda, ganha má reputação. Você acha que a velocidade de crescimento da marca no Brasil foi o ideal para manter o pós-venda em ordem?
“O pós-venda é uma parte valiosa, mas não são apenas os serviços, os acessórios e o atendimento. No Brasil ainda temos algumas reclamações. Que fazem nossa atividade um pouco mais difícil, como produtos feitos pelos melhores no mundo, como os capacetes, mas que não são homologados no Brasil.”
“Nós também temos que afinar questões de logísticas. Mas acredito que temos feito um bom trabalho com nossos concessionários”.
Nos mercados em que ainda não há uma concessionária, a Ducati abriu pontos de serviços, que são oficinas credenciadas, como Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Caxias do Sul (RS), Cascavel (PR) e, em breve, Salvador (BA).
JC – Clientes ainda têm reclamações sobre a parte elétrica das motocicletas. Como a Ducati vê esse tipo de retorno dos clientes?
“Para nós há um questionamento da qualidade dos produtos, mas isso é uma prioridade da marca. Tenho visitados clientes nos Estados Unidos e Reino Unido recentemente e a qualidade é a última das reclamações que chegam dos consumidores. Alguns deles têm mais reclamações sobre como nossas motos são potentes. E que poderiam ser mais suaves, e que a eletrônica faz delas mais fáceis de guiar”.
Milicia está na companhia desde 2012, quando assumiu a operação da marca na Tailândia até 2015. De lá passou a Diretor de Logística da Ducati até setembro de 2018, quando passou a seu cargo atual. Além disso, ele faz parte do conselho da fabricante.