Yvon Carvalho, o brasileiro que ajudou a desenvolver o projeto da LiveWire, avisa antes da avaliação da moto: “essa Harley não é um chato carrinho do golfe elétrico, é um foguete. Até mesmo o som é parecido”. E não é que ele tem certa razão. A moto, ainda mostrada como projeto, acelera quase tão forte quanto uma superesportiva – vai de zero a 100 km/h em apenas 3,8 segundos – e oferece uma ciclística similar às das nakeds mais modernas. Se alguém voltasse dez anos no tempo e falasse que uma H-D seria assim em 2014 seria ridicularizado.
Mas o projeto da LiveWire, que é uma moto pronta que já poderia ser vendida hoje, mas deve chegar às lojas somente em 2016, trata justamente de tempo. A marca precisa evoluir, quebrar seus paradigmas e cativar novos clientes que não sejam os barbudos de meia idade acelerando os dois cilindros em “V” estereotipados nas camisetas da marca. E ao andar na LiveWire, vimos sucesso nesta tentativa, já que a sensação é a de se estar em um moto do filme “Tron”.
Com o botão de ignição acionado, o sistema da moto pergunta qual será o modo de condução. O Range dá a autonomia total de 100 quilômetros, mas só libera 70% dos 55 KW – cerca de 74 cv – de potência. Já o modo Power, mais divertido, dá toda a potência e o torque de 7,14 mkgf, mas joga a autonomia para 50 km. A recarga, independentemente do modo usado, é de 3,5 horas.
Não foi possível chegar aos 148 km/h de velocidade máxima do modelo, pois a avaliação ocorreu somente nas ruas do distrito de Cutler Bay, em Miami. Mas isso permitiu ver que a LiveWire é ótima para o uso urbano, coisa que quase nenhuma Harley consegue ser por suas dimensões e estilo de pilotagem. A ausência da embreagem facilita no anda e para do trânsito e o freio é usado mais para sinalização e parada definitiva, já que em uso normal basta aliviar o manete direito para que a moto perca aceleração. Em alguns minutos de uso o piloto se acostuma e começa a usar isso como substituição ao freio.
Apesar da moto não ter um peso absurdo, com 208 kg, só o conjunto de baterias de íons de lítio pesa 113,5 kg. Por isso, a Harley teve que fazer um quadro todo de alumínio para aliviar a massa da moto. Como as baterias ficam embaixo, o centro de gravidade também ficou baixo e centralizado, o que proporciona à LiveWire uma ciclística leve e ágil, ajudada pela rabeta curta.
Nos primeiros três quilômetros de avaliação sentimos alguma coisa estranha. Faltava aquele calorzinho saindo do motor e do escapamento que ajudaria a amenizar o frio de 12 graus que fazia. Sim, a moto não emite calor e vibração e pode ser montada por qualquer lado, já que também não tem escapamento. A LiveWire é mesmo capaz de gerar muitas reações, até agora nenhuma negativa. Ponto para a H-D, que demorou para colocar tecnologia em suas motos, mas agora jogou tudo de uma vez, sem economizar, e dá um salto quântico perante suas concorrentes.