No poker, o blefe serve para simular um bom jogo, quando você não tem, e fazer seus adversários desistirem pelo medo de perder. No mundo dos negócios, blefar também faz parte da estratégia que, como no jogo, pode dar ou não certo. A General Motors deu um bom exemplo de blefe há algumas semanas, quando enviou um comunicado para seus funcionários, assinado pelo presidente da GM Mercosul, Carlos Zarlenga, que dizia que a presidente mundial da companhia, Mary Barra, teria dado sinais de que estaria considerando tirar a fabricante da América do Sul pela falta de lucros.
O assunto ganhou a grande mídia, se espalhou rápido e motivou reunião com sindicatos de São Caetano e São José dos Campos, cidades onde a GM tem fábrica, e com seus respectivos prefeitos. Milhares de empregados ficaram assustados. Diante do temor instaurado, a montadora pediu mais incentivos fiscais e frouxidão em algumas normas acordos trabalhistas, incluindo reajuste salarial zero para os funcionários neste ano.
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Só que o novo governo de Bolsonaro, como sempre mostrou inclusive em campanha, não é muito sensível a pedidos ou preocupações de sindicatos. Com emprego sim, com sindicatos e leis trabalhistas não, e o que os diretores da GM ouviram do secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade no ministério da Economia, Carlos da Costa, foi: “se precisar fechar, fecha”.
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Blefou com lucro na mão
A marca continuou pressionando e se reunindo com sindicatos e prefeituras nos dias seguintes, mesmo diante do duro revés. Mas agora, ao revelar ontem seus resultados globais, mostrou que tinha apenas um 3 de paus na mão, contra com Ás de ouro do adversário.
A General Motors teve lucro líquido de US$ 8,1 bilhões (cerca de R$ 30 bilhões) em 2018, número 2,3% maior que o de 2017. Segundo a GM, os resultados são fruto de preços fortes, vendas altas e controle disciplinado dos custos. Só na América Latina a montadora vendeu 691 mil veículos, 10% a mais que no ano passado. Sobre os números, a mesma Mary Barra afirmou que a GM entregou mais um ano forte de ganhos.
A General Motors precisa decidir se está na beira do abismo, olhando o fechamento de fábricas lá embaixo, ou entregando mais um ano forte de vendas. Os dois, principalmente sob o ponto de vista institucional, não dá. Mas basta ver os comentários sobre o assunto nas redes sociais para ver que, enquanto não decide, o arranhão em sua imagem aqui no Brasil já está bem profundo.
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