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GM blefou com carta ruim na mão

General Motors alegou falta de lucratividade para pressionar sindicatos no Brasil, mas apresentou resultado com aumento de vendas e lucro

Diego Ortiz

07 de fev, 2019 · 4 minutos de leitura.

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General Motors em São José dos Campos
Crédito: Crédito: Roosevelt Cassio/Reuters

No poker, o blefe serve para simular um bom jogo, quando você não tem, e fazer seus adversários desistirem pelo medo de perder. No mundo dos negócios, blefar também faz parte da estratégia que, como no jogo, pode dar ou não certo. A General Motors deu um bom exemplo de blefe há algumas semanas, quando enviou um comunicado para seus funcionários, assinado pelo presidente da GM Mercosul, Carlos Zarlenga, que dizia que a presidente mundial da companhia, Mary Barra, teria dado sinais de que estaria considerando tirar a fabricante da América do Sul pela falta de lucros.

O assunto ganhou a grande mídia, se espalhou rápido e motivou reunião com sindicatos de São Caetano e São José dos Campos, cidades onde a GM tem fábrica, e com seus respectivos prefeitos. Milhares de empregados ficaram assustados. Diante do temor instaurado, a montadora pediu mais incentivos fiscais e frouxidão em algumas normas acordos trabalhistas, incluindo reajuste salarial zero para os funcionários neste ano.

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Só que o novo governo de Bolsonaro, como sempre mostrou inclusive em campanha, não é muito sensível a pedidos ou preocupações de sindicatos. Com emprego sim, com sindicatos e leis trabalhistas não, e o que os diretores da GM ouviram do secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade no ministério da Economia, Carlos da Costa, foi: “se precisar fechar, fecha”.

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Blefou com lucro na mão

A marca continuou pressionando e se reunindo com sindicatos e prefeituras nos dias seguintes, mesmo diante do duro revés. Mas agora, ao revelar ontem seus resultados globais, mostrou que tinha apenas um 3 de paus na mão, contra com Ás de ouro do adversário.

A General Motors teve lucro líquido de US$ 8,1 bilhões (cerca de R$ 30 bilhões) em 2018, número 2,3% maior que o de 2017. Segundo a GM, os resultados são fruto de preços fortes, vendas altas e controle disciplinado dos custos. Só na América Latina a montadora vendeu 691 mil veículos, 10% a mais que no ano passado. Sobre os números, a mesma Mary Barra afirmou que a GM entregou mais um ano forte de ganhos.

A General Motors precisa decidir se está na beira do abismo, olhando o fechamento de fábricas lá embaixo, ou entregando mais um ano forte de vendas. Os dois, principalmente sob o ponto de vista institucional, não dá. Mas basta ver os comentários sobre o assunto nas redes sociais para ver que, enquanto não decide, o arranhão em sua imagem aqui no Brasil já está bem profundo.


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