Por que odiamos os SUVs e você não?

Com a dominância dos SUVs no mercado mundial, o prazer ao dirigir vai sendo deixado de lado, para tristeza dos entusiastas

Miniatura do Lamborghini Urus Crédito: Crédito: Lamborghini

“Batatas são batatas, é tudo igual”. Não, não são, e essa frase mostra que generalizar as coisas apenas sinaliza falta de conhecimento. Batatas doces têm um índice glicêmico menor e liberam os carboidratos de forma mais lenta no organismo, ou seja, engordam menos. Isso não torna a batata inglesa, que faz o oposto, ser uma vilã, é apenas uma questão de gosto e de necessidades.

No mundo das quatro rodas é a mesma coisa. Carro não é tudo igual, pelo menos por enquanto. Mas há uma onda, uma moda ou seja lá qual for a palavra para definir isso, que está fazendo com que os SUVs comecem a dominar o mercado mundial. Em todos os últimos salões automotivos as estrelas foram sempre os SUVs e mais deles estão sendo prometidos por marcas que até então só faziam modelos específicos, como a Lamborghini e seu Urus.

Isso não torna o utilitário esportivo um vilão, mas é justamente nesta mesmice que mora o problema para quem é um apaixonado por carros como eu. Triste em minha cadeira à frente do computador, prevejo um mercado dominado por SUVs na próxima década. Eles já mataram os monovolumes, as peruas e agora dizimam lentamente os hatch médios até que não vai sobrar mais nada. Até a Renault inventou de chamar seu novo hatch compacto de SUV, o que cria uma jurisprudência perigosa – não perigosa de verdade, só estou querendo ser implicante.

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Com isso, meu trabalho, que é o de avaliar carros, vai ser tornando chato. Você poderia me perguntar: “como assim dirigir carros que são desejados por todas as pessoas pode ser uma coisa chata?”. E eu te responderia sem pensar duas vezes: porque dirigir SUVs é chato para caramba.

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Há alguns bons exemplos do que fazer, como o Range Rover SVR ou, em tamanho menor, o Jeep Renegade a diesel. Mas mesmo assim, a dirigibilidade deles não chega nem perto da de uma perua com motor decente ou da de um acertado hatch médio. Na maior parte dos utilitário esportivos, há rolagem excessiva da carroceria – não suporto “colar” a orelha no asfalto a cada curva mais rápida -, efeito balsa em velocidades mais altas e um retorno de mola interminável após passar em buracos e lombadas que parece que você está fazendo agachamento na academia.


Há coisas boas nos SUvs? Sim. O espaço interno (menor que o de peruas do mesmo segmento), a posição de dirigir elevada (igual a do Citroën C4 Picasso, que é um monovolume) e a tração 4X4 – que quase nenhum SUV compacto, destes que vendem mais, têm.

Porém, há uma coisa em que os SUVs são muito melhores que os outros carros: lucro. Como bem analisa o blog Primeira Classe, os utilitários compactos são, quase todos, derivados de plataformas de carros compactos que custam muito menos. Muuuito menos. Minha intenção aqui não é julgar o negócio. Se há demanda e o consumidor está disposto a pagar, que se faça o preço. A Apple ganhou o mundo assim e ninguém reclama.

O objetivo real é mensurar o prazer ao dirigir. Usando carros de mesma marca como exemplo, o Honda HR-V não é melhor que o Civic e o Chevrolet Tracker não é melhor que o Cruze na hora de dirigir e nem em nada – talvez na hora de transpor alagados de meio de roda. Porém, custam basicamente a mesma coisa, o  que, para um analista do setor, como eu, é surreal.


Agora, se você está lendo até aqui essa minha ode ao ódio aos SUVs e não mudou de ideia e vai mesmo comprar um utilitário esportivo, tudo bem, não vou ficar chateado. Porém, lembre-se das suas fotos na década de 70 e 80. Veja as roupas que você vestia nelas. Seguir a moda pode ser legal, mas também pode causar certa vergonha depois.

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