Como transformar um carro popular em um SUV requintado

Sem muitos atrativos, modelo popular fez três pedidos à sua fada madrinha. Mudança foi tão grande que ele mudou de nome

Kicks Crédito: Versão de entrada custará R$ 70.500

Era uma vez um carro chamado March. Motor econômico, dirigibilidade adequada, até um pouco acima da média do segmento. E só. Nunca cativou pelo estilo. E nunca se destacou no ranking de vendas de carros.

Então, surgiu a fada madrinha da engenharia e concedeu ao March três pedidos. Ele pediu para ficar mais bonito. Já estava cansado da rejeição ao seu visual. E, como sabe que de nada adianta uma boa aparência sem um ótimo conteúdo, decidiu requisitar também uma cabine deslumbrante, digna de um menino rico, e cheia de equipamentos.

Quando chegou o momento de fazer o terceiro pedido, ele ficou confuso. Ele queria correr, ser mais rápido do que todos. Mas, aí, ponderou: “Será que isso é mesmo importante? E se eu trocar meu fôlego por uma dirigibilidade acima do padrão de meu segmento? Afinal, meu futuro dono prefere correr ou ter conforto ao volante?”

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Então, o March fez a escolha, e recebeu vários itens eletrônicos, até mesmo um controle dinâmico de chassi, para entregar uma dirigibilidade exemplar. Após passar pelo tratamento da varinha de condão, ele se olhou no espelho, e não se reconheceu mais. Decidiu mudar de nome.

E assim nasceu o Kicks. Dando continuidade ao debate levantado no último post, sobre SUVs compactos que têm base de popular, mas preços de carro médio, o Nissan Kicks merece um capítulo à parte.

Naquela análise, eu escrevi que, POR ENQUANTO, o Kicks tem preço de Sentra. Por enquanto mesmo. Antes vindo do México, mas agora nacionalizado, o Nissan em breve terá uma versão de entrada muito mais barata que o Sentra. Ela custará R$ 70.500 e fará do modelo um dos mais baratos da categoria.


É mais um elemento para corroborar um “case” de sucesso que, quem diria, partiu da apagadinha Nissan. Os SUVs compactos, derivados de bases de carros populares, são, na essência, muito parecidos com seus modelos de origem.

Impossível entrar no Tracker e não reconhecer, imediatamente, elementos do Onix. O mesmo pode ser aplicado à Honda, com seu HR-V e, principalmente, com o WR-V. Este é um Fit alto, assim como o Ecosport é uma versão anabolizada do Fiesta. A mesma relação vale para 208 e 2008, e Sandero e Duster.

Com o Kicks, isso não acontece. Nele, não há nenhum elemento que remeta ao March. Sua cabine, apesar de alguns deslizes, é uma das mais bem acabadas e sofisticadas do segmento. Sua dirigibilidade é um milagre: como pode um March “vestir” o motorista tão bem?


Ele pode, graças ao controle eletrônico que age diretamente no chassi. Esse fato, entre outros, fazem do Kicks uma das transformações mais bem sucedidas da história da indústria automobilística. Os engenheiros e designers da Nissan conseguiram transformar um carro popular em um SUV com aura de sofisticação.

Já escutei alguns representantes de montadoras baterem na tecla que é um lugar comum: o do “imenso” esforço e “excelente” trabalho feito pelas respectivas engenharias para dar origem àquele carro. Desculpe-me, mas, no caso dos SUVs compactos, só o pessoal da Nissan pode se gabar de um processo de transformação exemplar.

Eu não estou falando que o Kicks é o melhor carro do segmento. Ele tem falhas graves, que vou listar abaixo. O que estou dizendo é que, se a missão é transformar em um carro popular em um modelo que tem preço de médio, a Nissan foi a montadora que cumpriu melhor essa tarefa.


O conjunto mecânico, porém, é seu calcanhar de Aquiles. O fraco motor 1.6 chega a ser indecente para um carro bem mais pesado que o March. E o câmbio CVT, ruim, e em alguns casos até desconfortável (algo que vai contra a essência desse tipo de transmissã), parece uma piada de mau gosto. Em resumo: o Kicks não anda. Não anda mesmo.

Alguém pode dizer que o carro tem aptidão urbana, e andar não importa tanto assim. Mas, nas cidades, retomadas de velocidade são importantes. Especialmente as feitas em baixa rotação. O Kicks é sofrível nesses quesitos.

 


GALERIA: KICKS X CRETA X TRACKER X HR-V X RENEGADE

Veja mais: detalhes da galeria

 

 


Ele não tem um motor mais forte porque a Nissan do Brasil não tem esse propulsor. “E o 2.0 do Sentra?” Fiz essa pergunta a um engenheiro da Nissan. O fato é que a plataforma do Kicks (e aqui fica claro o problema da base popular) não comporta esse propulsor.

Então, nos próximos anos, não há muita salvação para o desempenho do Kicks. Com o mercado em baixa, as montadoras estão abandonando investimentos em inovação. E, a propósito, esse propulsor, nesse carro, nem é dos mais econômicos – ao menos, não em conjunto com o câmbio CVT.

Mas e as vendas? Mesmo tendo até agora só versões a partir de cerca de R$ 85 mil, o Kicks surpreende. No mês passado, teve uma forte queda de vendas, mas, até então, estava ameaçando o vice-líder dos SUVs compactos, o Jeep Renegade.


A estratégia de lançamento ajudou o Kicks. Ele começou a ser vendido em agosto, mês dos jogos olímpicos, do qual a Nissan foi patrocinadora. Lembra do revezamento da tocha? Que carro aparecia atrás do atleta a carregar o símbolo olímpico? O Kicks.

Inclusive, esse SUV é um projeto mundial que, fato raro, foi lançado primeiro no Brasil. A Olímpiada do Rio de Janeiro tem tudo a ver com isso.

Agora, com a versão de R$ 70.500, o Kicks tem tudo para aumentar sua ameaça dos líderes. Essa versão é manual, tipo de transmissão que não é a preferida dos consumidores de SUVs. Ainda assim, o preço é bastante atraente. O líder HR-V, por exemplo, começa em R$ 80 mil com câmbio manual.


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