Brasileiro se preocupa com segurança?
Esta pergunta gerava controvérsia até o mês passado, quando se comprovou que o motorista é indiferente ao assunto. A comprovação veio com os testes de impacto lateral realizados pelo Latin NCAP no Chevrolet Onix que atribuíram “zero estrela” no requisito de proteção aos ocupantes do banco dianteiro.
Se o hatch da GM leva uma batida lateral, são grandes as chances do motorista ou passageiro se ferir grave ou fatalmente.
Por se tratar do modelo mais vendido no Brasil, o assunto rendeu espaço nobre na imprensa nacional. A fábrica foi questionada e deu desculpas esfarrapadas, o Proteste vociferou e pediu que o governo impedisse sua venda, embora seja fato indiscutível que o carro cumpre as exigências legais do país.
Mas o governo continua se fazendo de desentendido. A diretoria da GM, que conhece bem o consumidor brasileiro, não deixou de dormir por causa do resultado. Deve ter até pensado: “Falem bem ou falem mal, mas falem de mim”.
Estava certa: logo depois da divulgação do Latin NCAP, há dois meses, o Onix registrou crescimento de vendas…
A Bosch, maior fabricante mundial de componentes elétricos e eletrônicos para a indústria automobilística, deixou escapar, há alguns anos, que passou a duvidar das pesquisas para verificar a importância atribuída pelo brasileiro ao equipamento de segurança.
A maioria dos entrevistados afirmava que segurança era um dos itens mais importantes na decisão de compra. Fez depois pesquisa idêntica nas concessionárias.
Conclusão oposta: os consumidores não exigiam equipamentos de segurança e até insistiam, às vezes, num modelo sem nenhum deles, para reduzir preço.
Mas, antes de fechar o negócio, encomendavam acessórios como rodas de liga leve, equipamento de som, estofamento em couro e outros que custavam muito mais que os de segurança.
Aliás, para quem não sabe, a obrigatoriedade dos airbags nos nossos automóveis só foi aprovada por nossos parlamentares graças aos esforços lobistas da maior fábrica deste equipamento no mundo, a japonesa Takata.
Que tem filial no Brasil, mas está em processo de falência no Japão pelo gigantesco prejuízo que teve nos mais de 100 milhões de carros envolvidos no recall do airbag.
Por falar em recall, o mercado brasileiro é destaque negativo em relação aos carros chamados de volta à concessionária: mesmo sabendo ser gratuito e que envolve um item de segurança, nem metade dos donos dos carros envolvidos atende ao chamado da fábrica.
Para proteger o mercado, o governo imaginou um intercâmbio de informações entre concessionária, fábrica e Denatran para impedir a venda de um automóvel não levado ao recall. Protestos gerais de concessionárias e lojas derrubaram a medida.
Imaginou-se então algo mais brando: o não comparecimento ao recall ficaria apenas registrado no documento do carro, sem punições. Assim, quem o comprasse pelo menos estaria informado do risco que corria.
Nem isso: governo alegou dificuldades operacionais para efetivar o registro por falta de comunicação adequada entre as partes.
VEJA TAMBÉM: CARROS QUE PAGARAM ‘MICO’ EM TESTES DE SEGURANÇA
FORD MUSTANG
Infelizmente nem sempre carros novos lançados conseguem cumprir os padrões de segurança exigidos e pagam "mico" na hora dos testes. Um dos mais recentes foi o esportivo Ford Mustang, que conseguiu apenas duas estrelas no teste de colisão frontal realizado pelo Euro NCAP. A falta de assistentes ativos de segurança reduziu a nota do modelo.
JEEP GRAND CHEROKEE
Em 2012 a revista sueca Teknikens Värld quase capotou um Jeep Grand Cherokee no chamado teste do alce, que reproduz uma mudança de faixa abrupta em velocidades de cerca de 65 km/h. No teste, o utilitário chega a levantar as rodas do chão e só não vira por causa da rápida reação do piloto.
TATA NANO
Como vários modelos indianos, o Nano também não conseguiu nenhuma estrela em seu primeiro teste de colisão frontal. O carro mais barato do mundo foi considerado altamente inseguro para seus ocupantes.
RENAULT KWID
Prestes a ser lançado no Brasil, o Renault Kwid foi outro a não conseguir nenhuma estrela no teste de colisão frontal na Índia. O modelo de lá não tem nenhum air bag na versão básica - aqui, o modelo terá quatro em todas as versões.
TOYOTA HILUX
A Hilux foi outra a quase tombar no teste da Teknikens Värld. A revista criticou fortemente a atuação dos controles de estabilidade e tração da geração passada da picape. O modelo atual não melhorou muito o comportamento.
MERCEDES-BENZ CLASSE A
Um dos "micos" mais emblemáticos foi o do Mercedes-Benz Classe A. Em 1997, a mesma revista sueca capotou uma unidade do modelo no teste do alce. O problema forçou a marca alemã a instalar controles de estabilidade e tração em todas as versões e a revisar a suspensão do carrinho no mundo todo.
CHERY QQ
Um dos carros mais baratos do Brasil, o Chery QQ também não conseguiu nenhuma estrela no teste do Latin NCAP. O modelo testado, no entanto é diferente do vendido no Brasil, que tem air bags frontais.
CHRYSLER TOWN & COUNTRY
O teste de impacto frontal sobre apenas uma parte pequena da dianteira do carro fez várias "vítimas" no mercado americano. Um dos piores comportamentos foi o da minivan Town & Country, considerada altamente insegura nesta situação. O habitáculo não conseguiu proteger o motorista de ferimentos graves, causados pela intrusão de coluna de direção e pedais sobre os ocupantes.
E deu-se o assunto por encerrado, até que recentemente um projeto de lei foi apresentado na Câmara dos Deputados para que seja impedida a venda de carros chamados mas não levados ao recall.
Por falar em insegurança veicular, a omissão do governo vai além, pois não consegue sequer implantar um registro sistemático de carros que sofrem grandes impactos e ficam semidestruídos.
Que as seguradoras chamam de “Perda Total”. Muitas vezes as ferragens são leiloados e compradas por oficinas desonestas, que os reformam mal e porcamente e os colocam para vender em lojas igualmente descompromissadas.
O incauto acha estar fazendo um ótimo negócio, pois consegue comprá-los muito abaixo da tabela. E não entende por que, depois, não consegue segurá-lo em nenhuma companhia do setor.
Pois nem imagina que as seguradoras se protegem com um sofisticado sistema que cruza informações e divulgam entre si os carros que deram “PT”. Pode?
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