O banco não tem ajuste de altura, a coluna de direção não é regulável e não há comandos no volante – a não ser o que aciona a buzina. As rodas são presas por apenas três parafusos, a alavanca que destrava o capô é tão simples que parece o afogador dos carros antigos. O limpador de para-brisa é único e o motor ainda tem tanquinho para partida a frio. E este hatch deverá ser um sucesso!
Durante a apresentação do Renault Kwid à imprensa, a palavra “frugal” foi repetida várias vezes. “Simples” também foi outro termo recorrente. E ambos se aplicam com perfeição ao novo hatch da marca francesa. Ele traz o essencial, mas em contrapartida chega com preço para ameaçar concorrentes como Fiat Mobi e Volkswagen Up!.
O Kwid é um carro projetado para custar pouco. O preço começa em R$ 29.990 na versão Life, sobe para R$ 35.390 na Zen e chega a R$ 39.990 na Intense. Como comparação, o Fiat Mobi parte de R$ 34.210, e o Volkswagen Up! começa em R$ 37.990. Com exceção da pintura branca, que não tem custo adicional, as demais acrescentam R$ 1.400 ao preço.
Seus maiores trunfos são os quatro air bags (dois laterais, além dos dois frontais, obrigatórios) e duplo sistema Isofix, para fixação de cadeirinha infantil. O motor 1.0 de três cilindros, 12 válvulas e duplo comando rende 70 cavalos com etanol e 66 cv com gasolina. É a menor potência entre os 1.0, mas em compensação o Kwid é muito leve. Dependendo da versão, varia de 758 a 786 kg. O Mobi, mesmo sendo 12 cm mais curto, pesa mais de 900 kg.
A razão é que o Kwid só recebeu o que era indispensável. Ele utiliza a plataforma denominada CMFA, empregada também no Datsun Redi-Go, à venda na Índia. A Datsun é uma marca de baixo custo da Nissan. O Mobi, ao contrário, foi uma adaptação do Uno, ou seja, um projeto que fez o caminho contrário: nasceu maior e foi reduzido.
Além dos sinais de simplicidade já expostos no primeiro parágrafo, mesmo na versão mais cara as calotas disfarçam as rodas de ferro de 14 polegadas. Por dentro, além do plástico rígido que reveste painel e portas, o hatch tem tampa de porta-luvas que, quando aberta, cai sem a menor cerimônia sobre as pernas do passageiro, e há parafusos aparentes em qualquer direção que se olhe.
Andando, o hatch – que a empresa classifica como “SUV”, utilitário-esportivo – mostrou desenvoltura no trânsito urbano. A direção elétrica é leve e o câmbio tem bons engates. Já o pedal de freio não é muito sensível, e é preciso pisar firme para o carro parar.
Os comandos dos vidros elétricos (disponíveis na versão mais cara, e apenas nas janelas frontais) ficam no centro do painel, e não há sistema “um toque” para descida e subida totais. Se o motorista abrir levemente o braço esquerdo bate o cotovelo na porta.
O quadro de instrumentos traz o básico (conta-giros, velocímetro e um display digital com computador de bordo, nível de combustível e indicador de troca de marcha). A versão básica não tem conta-giros. A mais cara, porém, vem com central multimídia, câmera de ré e GPS.
Na estrada, a carroceria a 18 cm do chão – um dos atributos que o qualificam como “SUV” (os outros são os ângulos de entrada e saída) – faz o carro balançar mais que o normal em caso de vento lateral e curvas.
Além disso, a 120 km/h, o motor trabalha a quase 4.000 rpm, rotação um pouco elevada para a velocidade, e provavelmente a causadora do consumo rodoviário elevado. Com gasolina, a montadora declara média de 14,9 km/l na cidade e 15,6 km/l na estrada. Com etanol também não há muita diferença entre consumo urbano (10,3 km/l) e rodoviário (10,8 km/l).
Na traseira, o espaço é bom para dois adultos. Mais do que isso, é aperto na certa. O porta-malas para 290 litros se equipara ao dos Volkswagen Up! e Gol (285 l). O tanque de combustível é minúsculo (38 litros), e assume o posto de menor da categoria. Embora seja classificado como um “SUV”, a praia do Kwid é mesmo a cidade.