Neste ano, 52,4% de todos os automóveis vendidos no Brasil têm câmbio automático. É a primeira vez que isso ocorre. Os dados se referem aos emplacamentos de carros de passeio, picapes e SUVs nos quatro primeiros meses de 2020, incluindo os modelos para PCD. As informações são da IHS Markit, consultoria especializada no setor de veículos. A picape Fiat Toro é o automático mais vendido do País.
Embora os números sejam parciais e possam mudar ao longo do ano, é a primeira vez que isso ocorre. Trata-se da consolidação de uma tendência que vem ganhando força faz tempo.
O Jornal do Carro está no Youtube
Inscreva-se
Em 2010, apenas 10,6% dos automóveis vendidos no País eram automáticos. Mas desde 2013 a opção pelo sistema não para de crescer – saltou para 30,8% em 2015 e 43,1% em 2017. Em 2019, 49,5% dos veículos de passeio emplacados no Brasil tinham esse tipo de transmissão.
Mudança de comportamento
É quase certo que a tendência registrada no primeiro quadrimestre se consolide. Se isso ocorrer, será o primeiro ano da história em que as vendas de automáticos vão superar a de carros com câmbio manual.
Há risco, ainda que pequeno, de que esse avanço perca fôlego. E o motivo tem nome e sobrenome: novo coronavírus. A explicação é simples. O mundo emergirá da pandemia mais pobre do que submergiu. Um dos sinais vem da Comissão Europeia. O produto Interno Bruto (PIB) gerado pelo bloco deverá recuar 7,7% em 2020 na comparação com 2019.
“Alguns comportamentos do consumidor do futuro vão mudar, porque novas ansiedades e dores vão surgir dessa pandemia” disse em entrevista ao jornal O Tempo o presidente da FCA para a América Latina, Antonio Filosa.
China indica tendência
Segundo o executivo, uma mudança possível é o transporte público se tornar opção secundária para muitos consumidores. Esse comportamento foi observado na China.
Filosa acredita que o brasileiro deverá preferir andar com o próprio carro, o que pode dar impulso às vendas de modelos de entrada. E modelos mais baratos têm câmbio manual.
Presidente da Anfavea, associação que reúne as fabricantes de veículos do País, Luiz Carlos Moraes, concorda. De acordo com ele, o brasileiro quer um carro mais completo, com tecnologias avançadas voltadas ao conforto e segurança. Mas há a questão da perda de renda. “Pode ser que em um primeiro momento o consumidor opte por modelos mais simples”.
Fiat Toro lidera vendas
Moraes lembra que o carro é visto como uma “área de proteção” contra o novo coronavírus. “Está havendo uma mudança de comportamento da sociedade por causa da doença”, afirma. Segundo ele, ainda é cedo para saber como o consumidor irá reagir. “A consulta aos sites de venda de veículos continua alta. Há muitos consumidores querendo comprar”, diz.
Moraes lembra que várias marcas passaram a investir mais na oferta online de carros. Essa modalidade de negócio permite que o consumidor inclua o custo do seguro, por exemplo, na parcela do financiamento. O executivo afirma que o cliente busca por modelos específicos e tem clareza sobre os equipamentos que o veículo tem. “Ele sabe o que quer.”
Um dado curioso diz respeito ao ranking de automóveis mais vendidos do País com câmbio automático. No topo está a picape Toro, da Fiat. Das 65,5 mil unidades emplacadas em 2019, 98% tinham esse tipo de transmissão. Em seguida vêm a linha Yaris, da Toyota, os Jeep Renegade e Compass e o Nissan Kicks.
Os automáticos mais vendidos em 2019 | |||
Modelo | Total | Automático | % |
Fiat Toro | 65.569 | 64.133 | 98 |
Toyota Yaris | 67.450 | 63.361 | 94 |
Jeep Renegade | 68.729 | 63.246 | 92 |
Jeep Compass | 60.366 | 60.366 | 100 |
Nissan Kicks | 56.063 | 52.106 | 93 |
Fonte: IHS Markit
Câmbio automático é invenção brasileira
O que nem todo mundo sabe é que o sistema foi inventado por brasileiros. A principal vantagem do câmbio automático é o conforto, sobretudo no trânsito urbano. Isso porque o motorista não precisa ficar acionando o pedal de embreagem o tempo todo para acompanhar o “anda e para” do tráfego pesado.
O sistema de troca automática de marchas foi inventado em 1921 pelo canadense Alfred Horner Munro e patenteado dois anos depois. Mas, como utilizava ar comprimido, não era viável para uso em veículos como automóveis.
Em 1932, os brasileiros José Braz Araripe e Fernando Lehly Lemos criaram um protótipo de transmissão automática acionado por fluido hidráulico. O sistema foi vendido à General Motors, que viabilizou seu desenvolvimento e aplicação.
Sistema foi lançado por US$ 57
Lançado com o nome comercial de Hydra-Matic, o recurso passou a ser oferecido em outubro de 1939 como parte da lista de opcionais da linha 1940 dos carros da Oldsmobile, uma das marcas da GM. O sistema custava US$ 57. Em valores atualizados, isso dá uns US$ 1.050.
O sucesso foi tão grande que o termo virou uma espécie de sinônimo de câmbio automático, inclusive no Brasil.
Alardeado como sendo “o maior avanço desde o motor de partida”, no ano seguinte o Hydra-Matic virou equipamento da Cadillac. Os testes feitos com os “Olds” garantiram a chancela para uso nos carros da marca de maior prestígio do grupo americano.
Sistema equipou tanques na 2ª Guerra
Com a Segunda Guerra, o sistema passou a equipar veículos militares, inclusive tanques. Após o fim do conflito, a GM incluiu a mensagem “testada em batalha” nas campanhas de venda da transmissão.
Entre as curiosidades, de 1952 a 1967 a Rolls-Royce produziu o sistema, sob licença. O câmbio da GM equipava carros da Rolls e da Bentley.
Automatizado não é automático
Há marca de carro que vende câmbio automatizado como se fosse automático. Em comum, eles não têm pedal de embreagem e o motorista não precisa passar as marchas, mas são sistemas bem diferentes.
No automático convencional, o conversor de torque faz o papel de embreagem. Há um conjunto de discos (marchas) e uma engrenagem planetária.
O conversor de torque é acoplado ao volante do motor. Esse tipo de caixa pode ter dez marchas, como a do Chevrolet Camaro e do Ford Mustang.
Mais marchas significam menores consumo de combustível e emissões de poluentes. Além disso, essas caixas aprimoram o conforto e o desempenho.
CVT mira famílias
O CVT, sigla de transmissão continuamente variável, é focado no conforto e na redução do consumo. Esse tipo de transmissão tem relações infinitas. Na prática, as acelerações ocorrem de modo contínuo e gradual.
Tecnicamente, esses câmbios não têm marchas. Mas graças a sistemas de gerenciamento eletrônico, em carros mais modernos é possível simular trocas de “marchas virtuais”.
Pesa contra o CVT as respostas morosas e um tanto anestesiadas. Por isso esse câmbio é comum em veículos cujo apelo não está ligado ao desempenho, como é o caso dos familiares.
Automatizado está em supercarros
O câmbio automatizado, por sua vez, é igual a uma caixa manual, mas seu gerenciamento é eletrônico. Embora haja embreagem (uma ou duas), o acionamento e as passagens de marcha independem de comandos feitos pelo motorista.
No sistema com embreagem única, há trancos nas trocas e elevação excessiva da rotação do motor, o que tende a aumentar o consumo. No de duas, esses problemas são eliminados.
Uma embreagem aciona as marchas pares e a outra, as ímpares. Esses dispositivos garantem trocas rápidas e bastante prazer ao volante. Não à toa, equipam carros de marcas como as alemãs Audi e Porsche.