O para-brisa laminado é um item muito importante nos carros, e um dos aparatos de segurança de maior sucesso da história do automóvel. Com tanta fama assim, nem parece que ele foi inventado ao acaso.
Como toda superinvenção, o para-brisa laminado é conceitualmente simples. Basicamente um “sanduíche” de vidros com um filme plástico adesivo entre eles para que, em caso de quebra, os fragmentos fiquem presos a ele. E não indo em direção aos ocupantes como lâminas voadoras.
O curioso é que a ideia que levou à sua criação partiu da união entre um incidente, um acidente e uma feliz coincidência. Reza a lenda que, em 1903, em seu laboratório, o químico francês Édouard Bénédictus deixou cair um recipiente de vidro no qual havia utilizado nitrato de celulose. O químico, então, estendeu algumas folhas de jornal no chão, preparando-se para embrulhar o recipiente quebrado.
Mas a imagem estampada no papel de pessoas com o rosto sangrando após um acidente de carro lhe chamou a atenção. Quando foi juntar os cacos, no entanto, Édouard Bénédictus notou que o frasco, apesar de quebrado, permanecia com seu formato original. Uma vez que o resíduo de nitrato de celulose ressecado nas paredes internas havia criado uma película adesiva. Foi assim que o químico teve a ideia da aplicação automotiva do que viria a ser o para-brisa laminado.
A popularização inicial do vidro laminado, porém, ocorreu com a indústria bélica. Durante a Primeira Guerra Mundial, ele foi aplicado em máscaras antigás. Elas eram utilizadas nos campos de batalha e não podiam quebrar com facilidade. Se isso acontecesse, não deveriam projetar estilhaços contra os olhos dos soldados.
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Inscreva-seMas foi em 1930, com a invenção do plástico polivinil butiral (PVB), um polímero que não não amarelava e tinha elevados níveis de resistência mecânica e adesividade, que o para-brisa laminado ganhou força. Em 1.940, praticamente todos os carros dos principais mercados (entenda-os como dos Estados Unidos e Europa) saíam de fábrica com o equipamento.
Desde então, o conceito do vidro laminado mudou pouco. O que não quer dizer que ele tenha parado no tempo — muito pelo contrário. Os materiais aplicados nos para-brisas atuais evoluíram demais. Perderam peso, ganharam mais resistência e transparência, incorporaram outras tecnologias.
A película plástica, agora, além do tradicional polivinil butiral, também pode ser de poliuretano termoplástico (TPU). Ou acetato de etileno-vinil (EVA).O processo é muito parecido com o de produção de vidros com resistência balística. O que são aplicados nos carros blindados. O “sanduíche” é colocado numa espécie de saco hermético, o ar é retirado e a fusão entre as partes é completada em fornos especiais. Isso é para que não fique nenhuma bolha de ar entre as camadas.
Vidros utilizados nas indústrias naval, aeronáutica e aeroespacial também são do tipo laminado. E, de maneira cada vez mais recorrente, na arquitetura, sobretudo em projetos comerciais. Lembra que uma das características é evitar que estilhaços desprendidos causem ferimentos nas pessoas?
Fiat Idea foi um dos pioneiros aqui
Pouca gente se lembra, mas a Fiat Idea foi lançada, no final de 2005, com vidros laminados nas janelas das portas dianteiras. Segundo a marca, a intenção era ampliar o conforto acústico e térmico dentro da cabine. Uma vez que a parte plástica tinha eficiência na absorção de ruídos e era capaz de agir como filtro de raios UV-A e UV-B, os ultravioletas mais nocivos à saúde.
À época, também se falava de segurança pessoal e patrimonial. A janela laminada oferecia maior proteção no caso de impactos laterais. O vidro quebrado numa colisão em cruzamento, por exemplo, não seria projetado em direção aos ocupantes. E a maior resistência mecânica protegeria o carro nos casos de tentativa de arrombamento. Como o consumidor não se mostrou disposto a pagar pelas janelas especiais, o item deixou de ser ofertado.
Mesmo com a extrema importância na proteção às pessoas, o para-brisa laminado só passou a ser obrigatório no Brasil em 1991. Na Inglaterra, por exemplo, a obrigatoriedade se deu bem antes, em 1930.