Quase dois anos após a extinção do câmbio Powershift nos – agora falecidos – modelos nacionais da Ford, o Procon-SP multou a montadora em R$ 10,5 milhões. De acordo com o órgão, a polêmica transmissão desrespeitou o Código de Defesa do Consumidor e não houve providências da Ford para reparar o problema.
A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor alega que a Ford feriu o artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor. Por sua vez, ele diz a respeito da responsabilidade dos fornecedores aos problemas de produtos e serviços que “os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor”.
Desse modo, o Procon-SP justifica que a Ford introduziu no mercado um produto com vício oculto, cujo defeito de fabricação se manifesta após certo tempo de uso do produto. Posto que, a montadora sabendo do ocorrido não resolveu o problema, acabou por desrespeitar o artigo 18.
A fundação argumenta que recebeu diversas reclamações de consumidores relatando problemas com o Powershift em modelos ano/modelo 2013 a 2016.
Acordo milionário com os clientes nos EUA
Nesse ínterim, houve notícias de que a empresa firmou um acordo nos EUA com proprietários de veículos equipados com o mesmo componente. Anteriormente, eles haviam entrado com um processo contra a Ford por problemas no câmbio.
Para o Procon-SP, a Ford confirmou que esse acordo não se aplicava no Brasil. De acordo com a fabricante, envolvia apenas um “universo específico de proprietários norte-americanos”.
Para o diretor executivo do Procon-SP, Fernando Capez, “o Brasil tem instituições fortes e uma legislação muito bem construída na defesa e proteção do consumidor, então não adianta querer dar um tratamento aqui no Brasil diferenciado para pior em relação ao que dá em outros países do mundo”.
O câmbio presente desde 2013 no mercado brasileiro, equipou os modelos New Fiesta, Ecosport e Focus. Equipada só em modelos mais caros, foi uma surpresa quando carros mais “populares” ganharam câmbio automático de dupla embreagem.
Contudo, a transmissão gerou uma relação de amor e ódio em alguns leitores. Com o passar do tempo, reclamações constantes sobre trepidações, vibrações anormais, ruídos e superaquecimento ganharam destaque. Inclusive, o Jornal do Carro denunciou em 2015 alguns desse problemas.
A Ford, portanto, pode apresentar defesa contra a milionária multa.
Nos EUA, Ford gastou quase R$ 2,5 bi para sanar clientes
Neste caso específico, a Ford desembolsou no mínimo US$ 30 milhões (cerca de RR$ 172,3 milhões na conversão direta) no acordo judicial. Esse montante foi destinado à reembolsar proprietários de carros feitos entre 2011 e 2016 que dispunham do câmbio Powershift.
Segundo o jornal Detroit Free Pass, cada proprietário prejudicado poderia receber até US$ 22 mil, algo em torno de R$ 126 mil sem taxação de impostos.
Antes desse acordo, documentos da corte norte-americana mostram que a empresa gastou por volta de U$ 47 milhões (R$ 270 mi) para recomprar 2.666 veículos. Para cada unidade, ela pagou de US$ 15 mil a até US$ 22 mil.
Ao todo, a fabricante gastou, no mínimo US$ 442 mi, ou R$ 2,5 bi para resolver o problema do câmbio defeituoso. Os modelos em questão eram o Fiesta e Focus, também descontinuados por lá.
Ford já sabia do problema no câmbio
Uma investigação do Detroit Free Press publicada em julho de 2019, revelou que a For sabia sobre os defeitos do Powershift. Contudo, continuou a fabricá-los e vendê-los mesmo assim.