Em agosto de 2020, há exatamente um ano, entrou em vigor a nova norma da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para deixar a gasolina mais parecida com o combustível vendido no exterior. Além da densidade ter sido alterada, aumentou-se a octanagem da gasolina, que passou de 87 RON para 92 RON.
De extrema importância para o funcionamento do motor, esse índice está atrelado a um antigo problema: a batida de pino.
O que é a octanagem?
Basicamente, “a octanagem é um índice que informa a resistência do combustível à queima espontânea dentro do motor”, explica Gilberto Pose. O engenheiro é coordenador e especialista em combustíveis da Raízen.
Ou seja, o índice calcula a resistência de certo combustível às altas temperaturas e pressões na câmara de combustão do motor antes da detonação. Isto é, antes que a vela de ignição produza a centelha para a sua explosão. O que vai movimentar os pistões, bielas e virabrequim, e, assim, gerar a potência e o torque que irão para as rodas.
Etanol vs Gasolina
Desse modo, a octanagem da gasolina e do etanol são diferentes. Conforme estipula a ANP, a gasolina comum precisa ter no mínimo 92 RON. Já o combustível derivado da cana-de-açúcar, 112 RON. O combustível com a octanagem correta “apresenta maior resistência à queima descontrolada na câmara de combustão”, afirma Gilberto Pose.
Embora a composição do etanol permita que ele resista mais dentro do motor, necessita-se de mais combustível na câmara até a combustão completa. Por causa desta característica, conhecemos o biocombustível como mais “beberrão”.
Isso explica também porque o carro gera maior potência quando opera com etanol do que quando trabalha com gasolina.
Por ter uma octanagem maior e, portanto, ser mais resistente à combustão, ele aguenta uma pressão maior dentro da câmara. Dessa forma, possui uma taxa de compressão maior que a da gasolina. Em outras palavras, o maior esforço do conjunto mecânico para pressionar o etanol até a combustão completa acaba por gerar alguns cavalos extras de potência.
Octanagem vai subir mais
A partir de 1º de janeiro de 2022, o índice de octanagem da gasolina comum subirá de 92 RON para 93 RON. A novas medidas buscam elevar o padrão de qualidade da gasolina brasileira em relação aos praticados na Europa e nos EUA, por exemplo.
Como os carros flex ajustam o ponto de ignição?
Gilberto explica que os carros com motores flex possuem um sensor de detonação. Essa peça percebe a tendência do combustível de maior ou menor resistência à detonação. Dessa forma, ele alerta ao sistema eletrônico para avançar. Ou para diminuir o ponto de ignição do motor. Que é o ponto em que a vela produz a faísca.
Batida de pino
O sensor busca alcançar, sobretudo, o ponto de ignição ideal de cada combustível. Ou seja, ele busca uma detonação completa do etanol ou da gasolina na câmara dos cilindros do motor.
Quando abastecemos o veículo com gasolina de menor octanagem, a tendência é que ocorra uma queima fora de controle, sem que a vela produza a faísca. No ditado popular, essa combustão prévia à centelha da vela chama-se “batida de pino”. É conhecida assim por causa do barulho que ocorre na câmara de combustão.
Seja como for, “a pré-ignição pode causar sérios danos ao pistão, cilindro e ao cabeçote do motor. Isso a médio e longo prazo”, alerta Pose. Da mesma forma, pode fazer o carro consumir mais combustível a curto prazo. E, no longo prazo, reduzir a vida útil do motor.
Qual combustível colocar para o máximo desempenho?
Primordialmente, devemos seguir o manual do proprietário. Segundo Gilberto, na maioria dos casos, o manual do veículo diz que o motor flex trabalha com gasolina de 92 ou 96 RON.
Assim, de nada adianta o proprietário abastecer com uma gasolina de maior octanagem para garantir uma potência maior. Se o manual do proprietário pede que se abasteça com gasolina comum, é porque a potência máxima do veículo, quando testado, foi extraída quando abastecido com este combustível.
Ou seja, é mito afirmar que, quanto maior a octanagem da gasolina, maior a potência do motor.
E para carros premium?
Normalmente, veículos importados e de maior desempenho tem motores projetados para utilizarem uma gasolina de octanagem maior. Contudo, Gilberto afirma que não tem problema se o proprietário abastecer o carro com a gasolina comum. O que ocorrerá, certamente, é uma potência menor do que a declarada pela fabricante.
Hoje, o mercado oferece alguns combustíveis que tem o índice de octanagem acima dos 98 RON, como o Shell V-Power Racing, Ipiranga Octapro e Petrobras Podium, por exemplo.