Em época de mudanças climáticas – e aquecimento global -, muito se fala sobre carros elétricos. Até no Brasil, que está entre os mercados emergentes, já tem algumas opções disponíveis ao público, com modelos para diversos gostos e bolsos. E é nesse último quesito que a Volkswagen aposta suas fichas, afinal, a meta é popularizar a categoria por meio da chegada do hatch ID.3. Entretanto, como o mercado pede SUVs, o ID.4 também está na manga. E nós dirigimos essa dupla.
Há alguns meses a Volkswagen anunciou que importaria unidades de ambos para testes. Dirigi-los por São Paulo ajuda a repensar o automóvel. Mostra também que os elétricos engatinham a passos lentos no Brasil. Mesmo na região nobre da cidade mais rica do País – local do test-drive -, não encontramos sequer um carro elétrico rodando pelas ruas. Ou seja, há uma longa estrada até esses carros se tornarem comuns nas ruas daqui.
E é justamente de olho em acelerar esse processo que a VW vai dar esse passo. Mas, antes da chegada oficial – prevista para o começo do ano que vem, no caso do ID.3 (o ID.4 fica para depois) – é preciso entender alguns pontos, que vão desde revendedores e locais para recarga até a requalificação de mão de obra. Afinal, será preciso reaprender tudo em mecânica… ou melhor: eletrônica.
Em ambos os carros, as baterias são dispostas no assoalho. A ideia é melhorar o aproveitamento do habitáculo e, ainda, ajudar na estabilidade, com centro de gravidade mais baixo. São elas que por sua vez, alimentam o motor, posicionado no eixo traseiro tanto no hatch quanto no SUV.
Especificações
No ID.3, o pacote de baterias tem 58 kWh. A autonomia total chega a 426 km (ciclo WLTP), de acordo com a Volkswagen. Já no ID.4, a configuração das baterias é maior. São 77 kWh, número que permite ao SUV rodar até 522 km com uma recarga.
Tanto o ID.3 quanto o ID.4 ainda não tinham detalhado as opções de motorização disponíveis para o Brasil. Entretanto, as duas unidades às quais tivemos acesso têm motor traseiro (tração traseira, portanto) em posição transversal. São, em ambos, 150 kW. Isso equivale a 204 cv. O torque é de 31,6 mkgf – ou 310 Nm.
Câmbio não há. Afinal, motor elétrico tem torque máximo desde 1 rpm. Para selecionar as posições, um pequeno manete colado no quadro de instrumentos.
Cabe salientar que os dados do ID.3 e do ID.4 são parecidos devido a construção. A princípio, ambos são baseados na plataforma MEB – voltada aos elétricos do Grupo Volkswagen.
Itens de série
Em relação a itens de série, tanto o hatch quanto o SUV apresentam boa lista na versão First Edition Max. Têm faróis matrix iluminados por LEDs, com ajustes automáticos que adaptam às condições de luminosidade, obstáculos e reflexos. O ar-condicionado tem duas zonas (três no ID.4), carregador wireless para smartphones e suspensão dianteira McPherson e Multilink na parte de trás.
Mas a cereja do bolo dos concorrentes de, respectivamente, Nissan Leaf e Volvo XC40 Recharge (nada confirmado pela VW, que ainda estuda o posicionamento) é o entretenimento. No topo do painel, tela de 10″ no ID.3 e 12″ no ID.4. A central de entretenimento da dupla de elétricos em Full HD tem excelente resolução e atualização remota.
No mais, conexão à internet, comando de voz e projetor de realidade aumentada no para-brisa – não é apenas um head up display. Tem, ainda, entradas USB espalhadas pela cabine, partida por meio de botão (ou apenas pisando no pedal do acelerador) e sistema de iluminação ambiente. Há, por fim, controle de cruzeiro adaptativo, manutenção em faixa e outros itens que auxiliam a condução.
O teste
Chega a hora de dirigir os carros, que chamam a atenção pelas linhas, assinadas pelo brasileiro Marco Pavone, chefe mundial de design exterior da Volkswagen. O ID.3 tem capô curtinho e traseira em tom negro para contrastar com o restante da carroceria. Já no ID.4, chama atenção o capô elevado e a traseira alta.
O espaço interno é digno de elogios em ambos os modelos. Os dois têm entre-eixos de 2,77 metros. Diversos componentes também são iguais na dupla, desde os materiais sensíveis ao toque, até a quase total ausência de botões físicos e o quadro de instrumentos. O acabamento é impecável.
Direção, ambiente e até o conjunto de suspensões da dupla seguem a excelente dinâmica da linha Volkswagen atual. Rigidez na medida certa. Tudo parece normal, só que o ID.3 e ID.4 não fazem barulho. É preciso atenção redobrada com os pedestres.
Na base da tela central, um botão (sensível ao toque) permite selecionar os modos de condução. Mas não dá para acompanhar o processo por animação na tela central ou no painel de nenhum dos dois. Com a tecla Sport pressionada, por exemplo, o carro parece se armar. E o bote chega justamente quando pisa-se no acelerador. Fica mais forte. De quebra, a direção enrijece e ganha precisão.
Travado, mas econômico
Além disso, lá na alavanca de transmissão do ID.3 e do ID.4, dá para selecionar a posição “B” e, com isso, aumentar a regeneração dos freios. Na prática, quanto mais regeneração, mais a sensação de freio motor. É pouco prático em trechos de trânsito, porque o carro fica extremamente duro em baixa velocidade. Entretanto, vale pela economia de bateria.
Em síntese, o ID.3 é sempre disposto e cheio de força, tem respostas imediatas. Deve ser divertido no dia a dia. Já o ID.4, tem a mesma mecânica, mas pareceu mais pesadão e tem direção mais dura (mesmo no modo Comfort). Talvez essa seja a herança do peso extra. Enquanto o ID.3 tem 1.720 quilos, o ID.4 não pesa menos que 2.049.
Essa diferença reflete, inclusive, nos números de desempenho. Mais leve, o hatch chega mais rápido aos 100 km/h (7,3 segundos) contra 8,5 segundos do SUV. Já a velocidade máxima é a mesma em ambos: 160 km/h.
Pesos, tamanhos e números de desempenho
Cara a cara, o ID.3 tem tamanho equivalente ao Golf. O visual é limpo. No total, mede 4,26 metros de comprimento, 1,81 m de largura e 1,57 m de altura. O volume do porta-malas fica em 385 litros. As rodas têm aro 20.
Apesar de ter a mesma plataforma – e o mesmo espaço interno do ID.3 -, o ID.4 foi ampliado tanto na frente quanto atrás. São, nesse sentido, 4,58 m de comprimento, 1,85 m de largura e 1,64 m de altura. No porta-malas digno de sedãs de luxo cabem até 543 litros. As rodas também são maiores: 21″.