O Programa de Avaliação de Veículos Novos para a América Latina e o Caribe (Latin NCAP) divulgou sua mais recente bateria de testes. Desta vez, o órgão não governamental avaliou a geração anterior do Hyundai Tucson (que é vendida no Brasil, em duas versões de acabamento) e o Peugeot 208. A princípio, ambos tiveram resultados ruins.
O SUV da Hyundai ficou com zero estrela nos testes de impacto (veja vídeo abaixo). Mas antes de falar do teste em si, cabe salientar o motivo de a entidade não ter avaliado a geração mais recente do SUV. De acordo com o Latin NCAP, o carro, comprado em fevereiro de 2021, precisou de substituição de peças (parte do processo de avaliação), o que demorou sete meses. Nesse meio-tempo, a geração atual chegou a alguns mercados, ao contrário do que afirmou a Hyundai, inicialmente.
De acordo com o Latin NCAP, dois potenciais motivos explicam esse atraso incomum na obtenção das peças. “Na ação ativa do fabricante do veículo para atrasar (propositalmente) os resultados. Ou, simplesmente, o sistema de peças de reposição da Hyundai é ineficiente, lento e manteria o consumidor esperando meses para obter uma peça original. Ambos os cenários não são bons para os consumidores”, enfatiza o comunicado.
Zero estrela
O Hyundai Tucson, fabricado na Coreia do Sul, tem apenas dois airbags frontais e não apresenta controle de estabilidade na lista de itens de fábrica. Isso, portanto, contribuiu para as baixas notas obtidas em segurança passiva de pedestres.
Em síntese, o SUV atingiu 51,2% na proteção do ocupante adulto; 49,9% na proteção para pedestres e usuários vulneráveis; 7% nos sistemas de assistência à segurança. Por fim, 4,4% na proteção do ocupante infantil.
O desempenho ruim neste último quesito se deve sobretudo à oferta de cinto de dois pontos no centro do banco traseiro (o que já é proibido em qualquer carro 0-km vendido no Brasil). Além disso, a Hyundai se recusou a recomendar o Sistema de Retenção Infantil (SRI) para testes, o que diminui a pontuação.
Para os números, leva-se em conta os testes de impacto frontal, lateral, chicotada cervical e proteção de pedestres realizados em laboratório. O Latin NCAP, contudo, ofereceu à Hyundai testes com a nova geração do Tucson. A marca, entretanto, rejeitou a oferta.
“O Latin NCAP está mais uma vez decepcionado com a Hyundai, com sua atitude em relação à saúde e a segurança dos consumidores latino-americanos. É incrível que um SUV como o Tucson não ofereça proteção lateral e ESC padrão. Também é preocupante o atraso longo na entrega das peças originais. Apelamos urgentemente à Hyundai para fazer uma mudança importante na estratégia de segurança básica”, enfatiza Alejandro Furas, secretário geral do Latin NCAP.
Peugeot 208 tira nota 2
Fabricado na Argentina (e vendido no Brasil), o Peugeot 208, da mesma forma, foi mal e conseguiu apenas duas estrelas do Latin NCAP (veja o vídeo abaixo). Isso se deve, em parte, à falta do interruptor de desconexão do airbag do passageiro, o que compromete a proteção do ocupante infantil. A nota, assim, deixa a desejar por se tratar de um projeto novo.
Embora o modelo tenha quatro airbags e controle de estabilidade, problemas na geometria do cinto de segurança e do assento contribuíram para os números ruins.
No mais, a falta de airbags laterais padrão para a cabeça limitou a pontuação do veículo, de acordo com o Latin NCAP. “Para ganhar pontos de AEB, os modelos necessitam proteção passiva total”, diz o comunicado. O órgão ofereceu à Peugeot novos testes com versões mais bem equipadas do 208. O fabricante, entretanto, rejeitou a oferta.
Em números
Os resultados: 51,5% em proteção de ocupantes adultos; 54,9% em proteção de ocupantes infantis; 54,1% em proteção de pedestres e usuários vulneráveis das estradas; 55,8% em sistemas de assistência à segurança. O 208 foi avaliado em impacto frontal, impacto lateral, chicotada cervical e proteção de pedestres. Teve ainda avaliação de controle de estabilidade, teste de alce e sistema de assistência à velocidade (SAS).
De acordo com o Latin NCAP, contudo, o hatch compacto mostrou desempenho aceitável no impacto frontal e bom no impacto lateral para a proteção de ocupantes adultos. Isso, no entanto, se deve aos sistemas de retenção usados pelo veículo.
Ainda assim, Stephan Brodziak, presidente do conselho de administração do Latin NCAP, não poupou críticas às montadoras envolvidas. “Lamentamos o mau exemplo que a Peugeot dá com o 208 ao retirar os airbags de cabeça nos mercados latino-americanos (equipamentos são de série na Europa)”, argumenta.
Incluindo a Hyundai no pacote, o executivo enfatiza que a região sofre discriminação em segurança veicular por parte de algumas montadoras que “usam nossa região como um mercado abaixo do padrão para maximizar seus lucros”, aponta.
Por fim, o Latin NCAP exige que tanto a Peugeot como a Hyundai implementem urgentemente as normas de segurança necessárias para oferecer proteção adequada em todos os seus modelos.