A Lada, fabricante russa que ficou conhecida nos anos 1990 no Brasil com os modelos Laika, Samara e, principalmente, o jipe Niva, voltou a produzir carros em seu país de origem após parar suas fábricas no início dos conflitos da guerra na Ucrânia, em março. Por questões políticas e também por causa das duras sanções, a fabricante foi vendida pela Renault ao governo de Vladimir Putin. O grupo francês detinha participação majoritária de 67,61% da AvtoVAZ (que produz modelos da Lada), e liderava as vendas no mercado local.
Com a estatização, e a crise no mercado automotivo local, a Lada retoma a produção de carros. Entretanto, com tecnologia do passado. A marca voltou a montar o sedã Granta na versão Classic. O modelo nascido em 2011 ressurge com mecânica antiga, da década de 1990, bem como com itens de segurança da época – ou seja, ultrapassado.
O que o carro (não) tem
Nesse sentido, o sedã compacto russo deixa para trás uma série de de itens que se tornaram fundamentais nos carros. Por exemplo, o Granta Classic sequer tem airbags frontais. O item, obrigatório no Brasil desde 2014, foi descartado por falta de componentes. E tem mais. O país, que tem falta de modelos 0-km e um grande buraco no quesito peças de reposição, oferece o carro sem controle de estabilidade ou mesmo freios ABS. Desde itens básicos, como pré-tensionadores do cinto de segurança até as modernas centrais multimídias, claro, ficam de fora.
O que há de mais moderno no Granta Classic é, portanto, o botão do pânico. Em situações de emergência, basta apertá-lo para entrar em contato com o serviço de emergência russo. Até o ar-condicionado é opcional. Ao menos, o sistema Isofix (para fixação de cadeirinhas infantis) e vidros elétricos dianteiros continuaram na lista. Mas as rodas de liga leve e os sensores de obstáculos traseiros do modelo da foto (abaixo) ficam de fora.
Motor arcaico
E se você se assustou com a (desfalcada) lista de itens de série, a motorização vai além. O 1.6 8 válvulas naturalmente aspirado de 90 cv que equipa o modelo atende à Euro 2. Ou seja, trata-se de um motor feito para cumprir as regras de 1996. Desse modo, nada de redução de poluição e ruídos, como impõe o atual Euro 6, que vem forçando a eletrificação dos veículos. Cabe salientar que, até então, o modelo atendia às normas Euro 5, de 2009.
Oferecido nas carrocerias sedã, hatch, liftback (um cupê de 4 portas) e station wagon, o Granta 2022 vem com câmbio manual de 5 marchas. Dados apontam que o consumo de gasolina fica em 15,3 km/l. No sedã Classic, os preços partem de 678.300 rublos – pouco mais de R$ 60.000, na conversão direta. No comunicado do site há um bônus de 20 mil rublos.
Devido às sanções de governos como Estados Unidos e membros da União Europeia, há restrição por todos os lados. Por exemplo, a Rússia – que perdeu até o McDonalds -, vem sofrendo graves consequências em relação ao abastecimento de peças. Além da crise dos semicondutores, o país não vem conseguindo suprir a falta de componentes.
Por lá, o impacto das barreiras de importação é tão grande que o conserto de carros está totalmente comprometido. Assim, cria-se espaço para o mercado ilegal. Em síntese, por meio dos impactos da guerra no mercado de carros, há quem venha pagando bem mais por um modelo novo. E tudo deve piorar, afinal, não há previsões para o fim da guerra.