As fabricantes francesas de automóveis sempre receberam críticas no Brasil. Desde a década de 1990, fala-se em um alto índice de reclamações feitas por donos de carros de Citroën e Peugeot. São problemas com os veículos e nos serviços de pós-vendas. Por isso, as duas marcas passaram os últimos anos reformando a rede pelo País. Mas o negócio parece estar complicado, pois os concessionários tornaram pública sua insatisfação.
Entenda o caso que envolve Stellantis e concessionárias de Citroën e Peugeot
Na última semana, uma carta obtida pela jornalista Paula Gama, do portal Uol, revelou que as associações de concessionários de Citroën e Peugeot notificaram a Stellantis (grupo que controla as marcas). O documento, assinado por Abracop e Abracit, ameaça até levar a situação à Justiça. A carta fala em “falta de peças e problemas sobre a qualidade dos veículos”.
As associações foram procuradas pelo Jornal do Carro. Contudo, até o fechamento desta reportagem, não responderam aos questionamentos. No site da Abracit, aliás, os serviços da aba “Fale Conosco” estão fora do ar.
Por outro lado, Citroën e Peugeot responderam à reportagem. Com um único comunicado, em nome do grupo. “A Stellantis afirma que detém os mais rígidos testes de qualidade, alinhados com as melhores práticas globais. E que inconvenientes pontuais de abastecimento de peças são tratados e corrigidos com a maior velocidade possível”.
Vai para a Justiça?
Apesar da ameaça, a ação na Justiça (após 10 dias da data das reivindicações) não deve ingressar. Em síntese, as providências contidas na carta enviada à Stellantis podem não chegar às vias de fato. Afinal, se as associações estivessem interessadas em uma resolução, recorreriam justamente à imprensa. O que não aconteceu. Também não confirmação de acordo.
Concessionárias estão de olho em bônus
Uma das principais preocupações contidas na carta era o impacto no recebimento de bônus. “Além do fato de os concessionários não terem condições de atenderem seus clientes de forma satisfatória, isso vem impactando forte e negativamente nos recebimentos dos bônus atrelados às pesquisas de qualidade realizadas pelas marcas”, diz o documento.
As associações alegam que esses indicadores condicionam o pagamento de valores adicionais por desempenho. Ou seja, quanto menor a nota dos clientes, menos se ganha da Stellantis. Nesse sentido, as lojas das marcas reivindicam bonificação retroativa.
Classificação “regular” no Reclame Aqui
O site Reclame Aqui, que recebe avaliação pública, atribuí nota regular para Citroën (6) e Peugeot (6,4). Ambas as marcas mantêm fluxo constante de reclamações sobre consertos e garantias. Por isso, apenas a metade dos usuários voltaria a fazer negócio. Mas o índice médio de solução fica na casa dos 65%. Ou seja, nada muito diferente do de outras fabricantes nacionais, como Chevrolet e Hyundai, com avaliações de 6 pontos.
Entretanto, as redes de Citroën e Peugeot têm muito o que melhorar. Afinal, a Renault, que também é francesa, tem ótima reputação no Reclame Aqui, com nota 8,4. A fabricante, aliás, responde quase 100% das reclamações. E tem índice de solução de quase 90%.
A carta enviada à Stellantis aponta ainda não o recebimento de peças de reposição. Inclusive para recall. Bem como atrasos nas entregas do hatch compacto C3. Com produção em Porto Real (RJ), o modelo foi lançado no Brasil em 30 de agosto de 2022 após meses de atraso. Na época, a justificativa foi a crise dos semicondutores. A nova geração do compacto veio com preço de carro de entrada, próximo de Fiat Mobi e Renault Kwid.