Embora as vendas de carros estejam em baixa, os preços não param de subir. Assim, a ideia da volta do chamado carro popular está ganhando força no mercado. Nesse sentido, já há conversas entre governo, montadoras e representantes dos trabalhadores do setor. Como resultado, Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) e a subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) entregaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), um estudo que aponta possíveis soluções para a viabilidade do projeto. A ideia é ter opções por cerca de R$ 50 mil.
Objetivos
O objetivo do documento (confira os pontos) é estimular a produção de carros com preços acessíveis a mais pessoas, bem como aumentar o porcentual de peças nacionais. Linhas de crédito com juros e prazos mais favoráveis também fazem parte da lista de intenções. Afinal, de nada adianta o carro ser menos caro se o consumidor não puder comprar. “O crédito para financiamento desses carros é importante porque aquece a economia do País”, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges.
Questionado pelo Jornal do Carro sobre a importância da volta do carro popular, Selerges diz, portanto, que é algo bom para toda a população. “A questão (da volta) do carro popular é a geração de emprego não só para os metalúrgicos, mas para diversas categorias de trabalhadores. Porque a fabricação de um carro envolve vários setores. Ou seja, desde a fabricação até a revenda”, argumenta.
Conforme o sindicalista, o ideal é que os componentes desses carros também fossem feitos no Brasil. “Desse modo, entendemos que o carro popular é bom para os mais pobres e bom para o Brasil como um todo. É positivo para toda a economia”, afirma.
Veja algumas propostas entregues ao governo:
- Promover o lançamento imediato de modelos “populares”, com linhas de crédito de longo prazo;
- Incentivar a produção de veículos que considerem grau de nacionalização e quantidade mínima de etapas do processo de fabricação no País;
- Ampliar o programa de estímulo à renovação das frotas de táxis;
- Constituir programa especial de estímulo à renovação dos automóveis que operam em aplicativos de transporte;
- Transição do mix de veículos rumo à descarbonização ao longo dos próximos 12 anos;
- Revisar as alíquotas de imposto de importação de veículos elétricos alinhada à existência de projetos de fabricação nacional.
Mais medidas
Ademais, além de ter preços menores, os populares devem ser oferecidos por meio de operações de crédito de 60 a 72 meses. Além disso, cabe explicar a proposta de descarbonização ao longo dos próximos 12 anos. Ou seja, a ideia é apoiar a renovação da frota e reduzir o estímulo à venda de veículos mais poluidores. Por fim, a revisão das alíquotas de importação de veículos elétricos deverá estar em sintonia com a existência, ou não, de projetos de fabricação desses modelos em território nacional.
Demais setores
Seja como for, as próprias montadoras divergem sobre a proposta. Conforme noticiado pelo Estadão, o presidente da General Motors, Santiago Chamorro, diz que seria melhor criar condições mais favoráveis de crédito. Conforme o executivo, assim o consumidor poderia comprar os carros de entrada que já são oferecidos no mercado. “Se perguntarmos para o brasileiro se ele quer um carro menor, menos tecnológico, certamente a resposta será não”, afirma.
Por sua vez, a Fenabrave, federação que reúne as associações de concessionárias, defende que a chegada de carros mais baratos ajudaria a aumentar da produção. Como resultado, isso reduziria o risco de perda de postos de trabalho. Vale lembrar que várias fábricas estão reduzindo a produção por causa da baixa demanda por carros novos.
Por fim, o estudo levado ao governo apresenta três possíveis cenários para a cadeia automotiva do Brasil. O primeiro é de transição qualificada, no qual o País voltaria a ser um centro produtivo essencial e expressivo no mundo. O segundo é o de estagnação tecnológica, o que tornaria o Brasil um dos últimos mercados onde seriam vendidos veículos a combustão. Ou seja, com a degradação longa e lenta de toda a cadeia instalada. E o terceiro é de irrelevância global, com a consequente importação de veículos mais avançados tecnologicamente em detrimento da produção local.
Números
Cabe lembrar que a produção de veículos no Brasil em 2022 foi de 2,2 milhões de unidades. Ou seja, houve queda de 37% na comparação com 2012, o melhor ano do setor no País, com 3,5 milhões de unidades. Seja como for, o primeiro trimestre de 2023 registrou alta. Porém, o resultado é muito aquém do potencial produtivo do Brasil. Afinal, mesmo os modelos mais baratos estão distantes do poder de compra da maioria da população.
Atualmente, dois carros disputam o posto de mais barato do País. São eles o Fiat Mobi Like e o Renault Kwid Zen . Conforme informações dos sites das respectivas montadoras, os dois têm preço sugerido a partir de R$ 68.990. Ou seja, estamos falando das versões de entrada e mais simples de suas linhas.