Se o motorista pegar um empréstimo no banco e deixar de pagar as parcelas, a empresa financeira pode fazer uma busca e apreensão do automóvel. Este é o caso de 5,4% das pessoas que financiaram veículos em 2023, mas que, agora, estão com pagamentos atrasados há pelo menos 90 dias, conforme o Banco Central. O Jornal do Carro procurou especialistas para entender como sair da inadimplência e evitar que o banco recupere o carro e o leve para leilão.
O valor médio da parcela no financiamento de veículos no Brasil alcançou R$ 1.202,53 em março de 2024, segundo o levantamento da Serasa Experian. Esse foi o segundo maior valor registrado ao longo do ano, atrás apenas de fevereiro, que teve o ticket de R$ 1.204,11. A pesquisa também mostra que a pontualidade nos pagamentos das parcelas ficou em 80,2% em março de 2024. Esse foi o menor patamar atingido ao longo de toda série histórica.
Por que aumentou a inadimplência?
O coordenador dos cursos da área automotiva da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antônio Jorge Martins, explica que, apesar da melhora acentuada no contexto econômico, com menor inflação e com uma leve redução na taxa de juros, muitas pessoas estão inadimplentes por causa da queda no poder de compra. Conforme pesquisa da Genial/Quaest publicada em julho, a capacidade de compra está menor para 63% dos brasileiros nos últimos 12 meses.
Outra questão é o elevado custo do setor automotivo. “Algumas montadoras apontaram para mim que ocorreu um incremento de custos durante toda a pandemia da ordem de 50%. Grande parte desses custos foram repassados pelos preços. Mas não houve melhoria de renda proporcional a esse encarecimento. Por isso, existe uma tendência de as pessoas ficarem inadimplentes”, explica Martins.
Automóvel dobrou de preço em poucos anos
Os brasileiros estão pagando, em média, R$ 152,5 mil em um carro de passeio, um aumento de 8,5% em relação ao ano passado, quando o valor era de R$ 140,6 mil. É o que apontou um recente levantamento da agência AutoData. Enquanto isso, a renda domiciliar per capita no Brasil cresceu 11,5% em 2023 em comparação a 2022, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas sobre uma base de cálculo muito menor.
Uma das formas que existem para reduzir os preços de veículos, de acordo com o professor da FGV, é acirrar a concorrência. Ou seja, deixar vir o maior número de concorrentes para o mercado, de tal forma a exigir que todos reduzam os preços que estão sendo praticados – muitos deles acima da capacidade de pagamento da sociedade.
O que fazer para não ter o carro recuperado?
O diretor-adjunto de produtos da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rafael Baldi, recomenda que a pessoa nem atinja o estágio de inadimplente. “Se o cliente percebeu que vai ter problemas de caixa para pagar as parcelas, é melhor ligar para o banco para tentar reperfilar a dívida, mudar a estrutura da dívida para facilitar o pagamento”.
Caso o cliente fique inadimplente, o diretor explica que a primeira coisa a se fazer é ligar para o banco para renegociar a dívida e estabelecer um novo prazo, uma nova taxa de juros ou um novo valor de parcela. Se não renegociar o contrato, o banco busca as vias judiciais para fazer uma ação de cobrança. E de busca, então, a apreensão do veículo. Por fim, se o valor do veículo no leilão for maior do que a dívida, o residual volta para o cliente (algo raro).
Para que o cliente pague as parcelas de forma confortável, Baldi sugere que a pessoa analise antes se a compra é necessária. Bem como se cabe no orçamento familiar, que pode sofrer imprevistos financeiros. Depois disso, o cliente deve verificar qual banco tem a melhor taxa e serviço, e qual o prazo para renegociação da dívida.
O diretor da Febraban também reforça que o tamanho do banco não significa que este fornece boas taxas. Até mesmo pequenas fintechs, segundo Baldi, podem ser alternativas para o pagamento de parcelas com um serviço de qualidade.
Marco Legal das Garantias espera definição
A lei 14.711/231 do “Marco Legal das Garantias”, sancionada em outubro de 2023, visa a simplificação do acesso ao crédito. Com a sanção da lei, deve estar previsto no contrato que o banco pode fazer o processo de busca e apreensão extrajudicial do veículo. Porém não houve a adaptação completa ainda. “Membros de bancos, do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP), registradoras e cartórios estão se reunindo para adequar o processo”, comenta o diretor.