Quanto custa recuperar o carro que entrou em enchente? A resposta é: depende. Afinal, o serviço leva em conta todos os componentes do carro afetados pela água suja do alagamento em questão. O veículo afetado pode sofrer sérios danos tanto nas partes elétrica e mecânica, bem como nos acabamentos internos, estofados e peças, como faróis e lanternas.
No entanto, parte-se do princípio de que para recuperar um carro alagado por enchente, o proprietário desembolse, no mínimo, R$ 450 – reparo de um carro de entrada, como Volkswagen Polo, por exemplo. Em síntese, caso a água tenha invadido apenas a parte do assoalho, o serviço é mais simples.
Entretanto, mesmo nestes casos, é preciso desmontar o interior do automóvel, retirando console, bancos, carpetes e trocar os feltros (um tipo de algodão que fica no assoalho). “Se essa troca não for feita, é muito improvável conseguir a impermeabilização (tirar aquele cheiro de mofo e de água suja)”, explica Marco Lisboa, CEO e fundador da KoalaCar, microfranquia de limpeza a seco de veículos, que fica em São Paulo.
Situações mais críticas
Já quando a água suja alcança o painel, molha toda a parte eletrônica. “E aí o trabalho começa a ficar mais complexo. Porque vai precisar mexer no carro inteiro e abrir todas as conexões”, pondera Lisboa.
Portanto, ao se deparar com um local alagado, o melhor remédio é parar em lugar seguro e jamais enfrentar a enchente. E, se não for possível, só atravesse se a água não ultrapassar a metade da roda. O Jornal do Carro, inclusive, já publicou reportagem sobre cuidados e a melhor maneira de dirigir nessas situações (leia aqui).
Alagou o carro? O que fazer?
Se o carro ficou no meio da enchente e o proprietário não tem seguro (que arca com o prejuízo, salvo, quando há enfrentamento voluntário), o primeiro passo é – caso o motor não funcione – chamar um guincho e retirá-lo do local. Se o veículo estiver na garantia, deve ir para uma concessionária. Do contrário, leve a uma oficina especializa. Lá, os profissionais entenderão a possibilidade de recuperação. Afinal, o carro pode ter alagado até o nível dos bancos, do painel ou ficado totalmente submerso. Quanto mais danos e comprometimento de componentes eletrônicos e mecânicos, mais difícil (e cara) a chance de reparo.
Na KoalaCar, que realiza a recuperação de veículos que passaram por enchente, serviço leva entre 7 e 10 dias, dependendo das condições climáticas. Em casos mais simples, quando a água atinge só o assoalho, e se faz necessária apenas a higienização (banco e forro de portas) de um carro médio, o custo médio é de R$ 450. Em carros maiores (como SUVs, por exemplo), o valor sobe para R$ 600.
Custo por nível
De acordo com Rogerio Chamelette, dono da marca Dry Dream e proprietário de três lojas, existem três tipos de carro alagado. “O nível 1 acontece quando a água entra até a altura dos bancos. No nível 2, o carro estacionando sofre enchente, chega a flutuar, mas é guinchado sem ligar o motor. Por fim, o nível 3 é atingido quando o motorista tenta passar pela enchente e, assim, o veículo alaga e o motor trava”, explica. A empresa, que tem unidade especializada no ramo de carros alagados, cobra cerca de R$ 1.500 a R$ 2.000 para o nível 1 de reparo.
Para cada um desses níveis, no entanto, existem tratamentos diferentes. Os gastos, consequentemente, são proporcionais ao nível e ao tipo de veículo. Assim, quando atinge o nível 2, o custo sobe e fica entre R$ 1.500 e R$ 3.900. Envolve, de acordo com Chamelette, troca de óleo, filtros e bateria. Sem contar os módulos de conforto que, em alguns carros, ficam abaixo do carpete. O estabelecimento, localizado na capital paulista, já recuperou cerca de 30 carros (níveis 1 e 2) desde novembro de 2024.
Assim como em todo serviço, a recuperação de carro vítima de enchente também segue o lema de quanto maior a complexidade do trabalho, mais caro fica. Na KoalaCar, quando a água infiltra e atinge o carpete do veículo e precisa remover bancos, tirar o carpete, trocar os feltros e fazer toda higienização interna do banco ao teto, o custo sobe para R$ 1.400, em média.
Orçamento caso a caso
Entretanto, para um carro que ficou submerso depois de tentar atravessar a enchente, por exemplo, os reparos ficam ainda mais trabalhosos e impossíveis de calcular. Para conseguir um orçamento, o ideal é que o veículo seja vistoriado por uma empresa especializada. Na Dry Dream, os danos muito severos, onde necessita refazer motor, a estimativa de gasto é de R$ 20 mil a R$ 25 mil. Lembrando que essa é a base de um carro popular, pois tudo depende do modelo do veículo. Chamelette comenta que o período do conserto vai de 3 dias a duas semanas, dependendo do estrago.
Desligue a bateria
É possível que sistemas elétricos, como os levantadores dos vidros, lâmpadas e faróis, por exemplo, precisem de substituição. Além disso, Lisboa conta que quando um carro passa por enchente, “a primeira providência consiste em desligar a bateria, imediatamente. Afinal, existem circuitos que são residentes dentro do carro e que ficam ligados o tempo todo. Inclusive, se der para prever que a água vai entrar no assoalho, desligue a bateria para não haver passagem de corrente”. O motivo é a complexidade do reparo. Pois quando isso acontece todos os contatos precisam ser abertos. Sem contar a limpeza e secagem da parte eletrônica.
Em síntese, é preciso desligar a bateria, porque o ato de dar a partida no motor pode gerar calço hidráulico. Ou seja, “se os pistões encherem de água, acarreta no empenamento das bielas, rachadura de bloco, empenamento do cabeçote, ou seja, é o pior dos cenários”, detalha Lisboa. “Tem que tomar muito cuidado. Durante a recuperação de um carro que pegou enchente, a primeira providência é tirar as velas e rodar o motor com a mão (tem chave específica) para ter certeza de que toda a água foi posta para fora”, salienta.
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