A situação econômica do País mostra obstáculos para quem sonha com a compra do carro zero km. Desse modo, a escolha por usados e seminovos se torna a única saída para quem não quer mais andar a pé ou de transporte público. No entanto, para fechar negócio com segurança, alguns pontos precisam ser analisados. É necessário saber, por exemplo, se o carro está com a documentação em dia, se não foi avariado ou furtado e, também, se não foi vítima de enchente.
De acordo com especialistas, é extremamente necessário fazer inspeção visual em todo o carro. Afinal, identificar sinais de que um veículo passou por alagamentos evita problemas futuros de funcionamento e até de segurança. “A aquisição de um usado exige atenção e alguns cuidados para garantir uma boa escolha. Além de ser uma alternativa econômica, é preciso avaliar os detalhes com calma para evitar surpresas no futuro”, orienta Leonardo Furtado, superintendente do Auto Shopping Internacional Guarulhos.
Portanto, para não errar, uma das principais dicas para saber se o carro não passou por alagamento é examinar cuidadosamente a pintura, os acabamentos internos e os estofados. Se não entender, leve junto um profissional de confiança.
Dentre os problemas com carros expostos a enchentes, existe a depreciação acentuada. Nesse sentido, o histórico pode afastar potenciais compradores no futuro. Tem, ainda, a contaminação. Neste ponto, a dita contaminação vai além das inúmeras bactérias às quais um carro que enfrentou enchente adquiriu. Afinal, o uso de bactericida é um dos processos da recuperação de carro alagado. Aqui, no entanto, o termo se refere ao comprometimento a integridade do veículo contaminado pela água suja, esgoto, barro, óleo e outros resíduos presentes nos alagamentos.
Pode afetar a segurança
“Vários carros afetados por alagamentos não são segurados e, por isso, acabam sendo recuperados e voltam a circular normalmente nas cidades brasileiras. Embora um veículo que passou por enchente possa parecer esteticamente bem restaurado, o maior risco está em componentes mecânicos e elétricos, que podem apresentar falhas com o tempo. Muitas dessas avarias não são visíveis a olho nu e necessitam da análise de um especialista para serem identificadas”, alerta Beto Reis, sócio-diretor da Super Visão, empresa de vistorias automotivas.
De acordo com a empresa, componentes de segurança, como freios e airbags, podem ficar severamente afetados em carros vítimas de alagamentos. Principalmente, se o veículo passou muito tempo submerso. Isso também aumenta o risco de contaminação e deterioração. Sem contar que, dependendo do dano, o veículo pode ter reprovação pela vistoria do seguro. Consultadas, algumas revendas de veículos foram unânimes em dizer que quando um veículo é reprovado no laudo pericial, as seguradoras não aceitam cobri-lo em 100%.
Como saber?
Um dos princípios para fazer uma boa compra é contar com lojas ou vendedores idôneos. Porém, caso quem esteja comercializando o carro não queira expor o fato, um faro mais apurado é capaz de descobrir.
Na hora da compra, deve-se verificar cada canto do veículo que se pretende comprar. Por isso, especialistas indicam a checagem dos carpetes, motor, parafusos (que enferrujam quando o carro passa por enchente) e, especialmente, das guarnições de portas e porta-malas, que podem acumular sujeira e lama. Observe com cuidado todas as áreas internas do carro, especialmente em locais menos visíveis. Teto e paineis das portas também precisam de atenção, afinal, é nestes locais que as manchas originadas na enchente podem se esconder.
Além das manchas, a umidade também indica problemas com enchente, tanto nos bancos quanto nos feltros (aquele material que parece um algodão). Portanto, passe a mão nos bancos e nos carpetes, e verifique se há qualquer sinal de umidade ou mofo.
Use o olfato
Por falar em mofo, dá para usar o olfato, também, na vistoria de compra de carro novo. “Do mesmo jeito que percebemos o cheiro de carro novo, percebemos o cheiro ruim. O odor do mofo consiste num dos sinais mais evidentes de que um carro pode ter passado por enchente. Isso vem da umidade que permanece presa nos estofados, carpetes e outros materiais absorventes no veículo. Mesmo após limpeza profunda, o cheiro pode persistir, sobretudo se o carro ficou fechado por longo período enquanto ainda estava úmido”, explica a Super Visão. Isso, por fim, pode afetar a saúde dos ocupantes do carro.
No motor
Na área do motor e na longarina, note se há sinal de ferrugem. Caso positivo, fuja da compra. Qualquer sinal de oxidação pode indicar que o carro foi exposto à água de forma prolongada. Ou seja, um forte sinal de que o veículo pode ter sido submerso. Verifique, também, se há suor – sinal de infiltração – ou sujeira dentro dos faróis. Em síntese, água suja pode infiltrar nas partes mais inacessíveis do veículo durante enchente. Por fim, também suspeite se o carro teve todos os faróis trocados.
Para Ycaro Martins, CEO e sócio fundador da Vaapty, empresa do segmento de intermediação de venda de veículos, carros que passam por enchentes também costumam apresentar panes elétricas mesmo depois dos reparos. “Comprar automóveis em regiões que costumam enfrentar muitas enchentes também é um risco alto”, pondera.
Por fim, se mesmo depois de analisar todos os detalhes, o comprador ainda ficar com o pé atrás na hora da compra, a última saída é contratar uma empresa de vistoria. “A única forma 100% segura de identificar que um veículo passou por alagamento é se ele for vistoriado por uma perícia cautelar. A Vaapty leva isso tão à sério que, no final do ano passado, lançamos a Auto Check. Trata-se de uma perícia veicular feita por Inteligência Artificial. Ela é mais precisa, rápida e mostra falhas como batidas, riscos na pintura, e problemas estruturais”, explica Martins.
Siga o Jornal do Carro no Instagram!