A chuva caía fraca e constante na deserta e monótona Tacoma, nos Estados Unidos, palco escolhido pela Harley-Davidson para a apresentação mundial de seu novo motor 107 Milwaukee-Eight, que estará nos modelos maiores da marca no Brasil (Ultra Limited, Road King e Street Glide Special) a partir do fim de novembro. Ao pressionar o botão de ignição, a expectativa é a de ficar tão molhado quanto quem fica ao lado de um cão que se chacoalha após tomar banho. Mas não! Para espanto geral, nem mesmo o retrovisor está vibrando.
Imediatamente surge a sensação de que o novo V2 trouxe mudanças importantes – e positivas – para as Harley.
Após montar no assento da Ultra Limited, um funcionário da empresa passa cerca de 10 minutos dando explicações sobre o roteiro da avaliação. E algo novo acontece: o V2 de 1.750 cm³ não fez as pernas assarem – mais uma vez nem parecia que a moto era uma Harley.
Mas foi só pegar a estrada para perceber que tudo que permeia a identidade da marca está lá (moto pesada, estilosa, com um baita torque e bom acabamento). O que houve foi um avanço gigantesco em termos de tecnologia, motivado pela crescente concorrência e pela necessidade de renovação da lista de clientes.
Outra novidade, que contribui para o conforto é que o novo motor foi criado para ter dimensões menores, com o recuo para dentro de filtros e algumas partes metálicas. Com isso, o piloto não precisa ficar com as pernas semiabertas enquanto roda em uma das Touring da marca. Isso melhorou até a aerodinâmica e cansa menos em viagens longas.
O torque aumentou 10% – agora é de cerca de 15,8 mkgf -, assim como a taxa de compressão e o poder do sistema de admissão, que ficou 50% mais eficiente. Tudo isso aliado à adoção de quatro válvulas por cilindro (eram duas) transformou a moto em um foguete, que chega aos 100 km/h com muita facilidade e a deixou no limite da adoção de um controle de tração. Quem exagerar no acelerador em saídas de curvas certamente vai levar um susto.
A direção continua pesada e a suspensão agrada em buracos menores – nos grandes ainda bate seco e dá muito retorno de mola. No entanto, a evolução na capacidade de fazer curvas continua e hoje já não dá mais para dizer que motos da Harley só são capazes andar em linha reta. Esse paradigma foi quebrado desde a linha 2016 e continua em franco avanço.
A caminho de Port Angeles, uma das cidades onde se passa a saga “Crepúsculo”, a Harley pareceu menos sedenta. Segundo a fabricante, o novo V2 é 6% mais econômico que o anterior.