Há 15 anos nascia comercialmente no Brasil o carro com motor flexível. O sistema permite abastecer o tanque com gasolina ou etanol em qualquer proporção. Hoje ele equipa praticamente todos os modelos vendidos no País, entre nacionais e até importados. A proporção ronda os 95%. A ideia não é nova, mas ganhou força a partir dos anos 1990 com a oscilação na oferta do etanol nas bombas. O primeiro carro com motor flexível lançado no País foi o Volkswagen Gol com motor 1.6.
Nesses anos, houveram algumas evoluções técnicas no sistema flexível. A maior mudança foi a saída dos tanquinhos de partida a frio de vários modelos. O primeiro sistema adotado usava um reservatório de gasolina, que é misturada na admissão para ajudar o carro a funcionar em temperaturas baixas. A ausência é compensada com alternativas mais eficientes, como aquecimento dos dutos de injeção de combustível. No entanto, alguns modelos ainda usam o antigo – e perigoso – tanquinho. O reservatório fica no compartimento do motor e precisa ser abastecido de tempos em tempos.
Alguns modelos já rodam também com injeção direta de combustível, como o motor 2.0 da Ford, presente em Focus e EcoSport. A Volkswagen também tornou flexível o 1.4 turbo que equipa Golf e Audi A3 sedã e Q3. Também lançou o 1.0 turbo flexível, que equipa Up!, Polo e Golf. Peugeot e Citroën também tornaram flex seu 1.6 turbo, que passou a render bons 173 cv, ante os 165 da versão apenas a gasolina.
O sistema também ganhou modelos de luxo, como BMW e Mercedes-Benz. As versões mais vendidas de seus modelos nacionais também são bicombustíveis. Modelos chineses também passaram a ser importados com motor flex para se encaixar na preferência nacional.
Recentemente, com a alta do preço do etanol, a gasolina voltou a ser a alternativa mais viável em praticamente todo o País. A conta leva em consideração preço e consumo do combustível. Apesar de mais barato, o etanol faz o carro consumir mais. Por isso, se o etanol custar mais de 70% do preço da gasolina, o derivado de petróleo é economicamente melhor.
Contudo, isso não deve diminuir o apelo do carro flex no Brasil. Poder escolher o combustível se tornou fundamental por aqui. A não ser que catastroficamente algum dos combustíveis deixe de ser oferecido, a opinião do brasileiro não deverá mudar sobre isso.
Nem mesmo as queixas de perda de eficiência energética com a adoção da injeção flexível foi capaz de frear o avanço da tecnologia. A reclamação era de que eles consumiam mais que os modelos antigos. Comum entre motoristas que trocaram seus carros a gasolina por modelos idênticos, mas mais novos e flexíveis. Isso mesmo quando abastecidos somente com gasolina.
História
O primeiro carro capaz de rodar com mais de um tipo de combustível foi o antigo Ford T, no início do século passado. No Brasil, embora os carros a etanol existam desde 1979, a tecnologia do motor flexível apareceu somente no início dos anos 1990. A Bosch instalou o sistema num Chevrolet Omega. No entanto, o funcionamento era lento (para mudar os parâmetros da injeção) e toda a operação era muito cara para produção em larga escala. O primeiro carro totalmente movido a etanol foi o Fiat 147.
Na virada do ano 2000, começamos a ver de novo a volta de algumas versões apenas a etanol – popularmente chamado de álcool. Modelos como Volkswagen Gol e Ford Fiesta tiveram opções movidas somente a etanol logo antes do lançamento do carro flex.
A Volkswagen foi a primeira em 2003 com o Gol TotalFlex, seguida de perto pela Chevrolet, que colocou o sistema Flexpower nos Corsa 1.8. Ambas optaram por lançar a tecnologia em versões de menor volume. Na época, as versçoes 1.0 dominavam o mercado com mais de 70% de participação. Somente depois os modelos mais baratos ganharam opção flexível. Eles demoraram a tirar de cena as variantes monocombustível. Essas versões só foram sumir depois da consolidação da preferência pelo sistema flex.