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Austrália: o que nocauteou sua centenária indústria automobilística?

Apesar da ira de Donald Trump, marcas importantes como Audi, BMW, Toyota e outras continuam investindo no México, atraídas pelo baixo custo de produção

Boris Feldman

13 de nov, 2017 · 6 minutos de leitura.

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Austrália
Crédito: Quase 500 mil unidades foram produzidas na Austrália em 1974. Apenas 87 mil carros deixaram as fábricas do país no último ano

O último carro produzido na Austrália foi um Holden, da GM, em 20 de outubro. Duas semanas depois do último Toyota Camry e um ano depois de a Ford também fechar sua fábrica no país.

Era uma indústria centenária que teve início em 1925, quando a Ford iniciou a produção do famoso modelo T. Nesta época James Alexander Holden já tinha transformado sua selaria (fundada em 1856) numa produtora de carrocerias para automóveis que fornecia para diversas marcas. Inclusive para a GM, que se instalou em 1926 na Austrália importando chassis e mecânica. Na década de 1930 ela comprou a fábrica de Holden, constituindo sua subsidiária australiana. A GM chegou a importar o australiano Commodore para o Brasil como substituto do Chevrolet Omega, entre 1998 e 2012.

Em 1963 foi a vez da Toyota desembarcar no país. Chegou a ser sua maior produtora nos últimos dez anos. Outras marcas também tentaram se estabelecer na Austrália e produzir localmente (Nissan e Mitsubishi entre elas), mas desistiram e passaram a importar seus modelos para o nada desprezível mercado de 1 milhão de carros anuais.

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As fábricas australianas produziram quase 500 mil carros em 1974, mas o ritmo foi reduzindo. O recorde da Ford foi em 1984, com 155 mil unidades, a Holden com 165 mil, em 2004, e a Toyota com 148 mil carros, em 2007. No ano passado, as três juntas produziram apenas 87 mil automóveis, volume insuficiente para manter sequer uma fábrica.

O fim da indústria australiana de automóveis levanta a questão dos custos elevados de produção que dificultam a competição com fábricas de países em desenvolvimento. O México é um bom exemplo: apesar da ira do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, as grandes do setor continuam investindo lá atraídas pelo baixo custo de produção. Audi, BMW, Toyota e Mazda entre elas.

O problema da Austrália

O grande problema da Austrália não está longe dela. E tem nome: Tailândia. Lá, um operário de uma linha de montagem recebe seis vezes menos que seu colega na Austrália. Os modelos australianos tinham então de ter grande porte e sofisticação para se tentar absorver o custo elevado da mão de obra. Ford, Holden e Toyota tinham sob o capô grandes motores V8 ou V6 com potência entre 200 e 300 cv. O baixo volume de produção exigia volumosos subsídios governamentais, que acabaram eliminados. E o tiro de misericórdia veio em 2005 quando os governos da Austrália e Tailândia estabeleceram um acordo de livre comércio de péssimo resultado para o primeiro: uma festa para as fábricas tailandesas que despejaram desde então mais de dois milhões de compactos, médios e SUVs no mercado australiano, sem nenhuma contra-partida pois o tailandês rejeitou os carros caros, grandes e bebedores. Além disso, o governo da Tailândia estabeleceu super-impostos para modelos de grande cilindrada.


A Toyota, por exemplo, por ter fábrica do Corolla na Tailândia, exportava 70% de sua produção australiana dos grandes Camrys para o Oriente Médio. Quem domina hoje o mercado na Austrália são as japonesas, seguidas das tailandesas e com as coreanas em terceiro.

Fábricas com elevado custo (como na Australia) só se viabilizam exportando a maior parte de sua produção, como a Inglaterra ou Alemanha. Substituindo a mão de obra por robôs e integrando sua linha de produtos à demanda global, perfil oposto ao das fábricas australianas. Sua derrocada não deixa de sinalizar o risco que corre a indústria de países que não definem sua estratégia nem estabelecem uma clara política de desenvolvimento e participação no mercado global.

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Oficina Mobilidade

Testes de colisão validam a segurança de um carro; entenda como são feitos

Saiba quais são os critérios utilizados para considerar um automóvel totalmente seguro ou não

03 de mai, 2024 · 2 minutos de leitura.

Na hora de comprar um carro zero-quilômetro, muitos itens são levados em conta pelo consumidor: preço, complexidade de equipamentos, consumo, potência e conforto. Mas o ponto mais importante que deve ser considerado é a segurança. E só há uma maneira de verificar isso: os testes de colisão.

A principal organização que realiza esse tipo de avaliação com os automóveis vendidos na América Latina é a Latin NCAP, que executa batidas frontal, lateral e lateral em poste, assim como impactos traseiro e no pescoço dos ocupantes. Há também a preocupação com os pedestres e usuários vulneráveis às vias, ou seja, pedestres, motociclistas e ciclistas.

“Os testes de colisão são absolutamente relevantes, porque muitas vezes são a única forma de comprovar se o veículo tem alguma falha e se os sistemas de segurança instalados são efetivos para oferecer boa proteção”, afirma Alejandro Furas, secretário-geral da Latin NCAP.

As fabricantes também costumam fazer testes internos para homologar um carro, mas com métodos que divergem do que pensa a organização. Furas destaca as provas virtuais apresentadas por algumas marcas.

“Sabemos que as montadoras têm muita simulação digital, e isso é bom para desenvolver um carro, mas o teste de colisão não somente avalia o desenho do veículo, como também a produção. Muitas vezes o carro possui bom design e boa engenharia, mas no processo de produção ele passa por mudanças que não coincidem com o desenho original”, explica. 

Além das batidas, há os testes de dispositivos de segurança ativa: controle eletrônico de estabilidade, frenagem autônoma de emergência, limitador de velocidade, detecção de pontos cegos e assistência de faixas. 

O resultado final é avaliado pelos especialistas que realizaram os testes. A nota é dada em estrelas, que vão de zero a cinco. Recentemente, por exemplo, o Citroën C3 obteve nota zero, enquanto o Volkswagen T-Cross ficou com a classificação máxima de cinco estrelas.

O que o carro precisa ter para ser seguro?

Segundo a Latin NCAP, para receber cinco estrelas, o veículo deve ter cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça em todos os assentos e, no mínimo, dois airbags frontais, dois laterais ao corpo e dois laterais de cabeça e de proteção para o pedestre. 

“O carro também precisa ter controle eletrônico de estabilidade, ancoragens para cadeirinhas de crianças, limitador de velocidade, detecção de ponto cego e frenagem autônoma de emergência em todas as suas modalidades”, revela Furas.

Os testes na América Latina são feitos à custa da própria Latin NCAP. O dinheiro vem principalmente da Fundação Towards Zero Foundation, da Fundação FIA, da Global NCAP e da Filantropias Bloomberg. Segundo o secretário-geral da entidade, em algumas ocasiões as montadoras cedem o veículo para testes e se encarregam das despesas. Nesses casos, o critério utilizado é o mesmo.

“Na Europa as fabricantes cedem os carros sempre que lançam um veículo”, diz Furas. “Não existe nenhuma lei que as obrigue a isso, mas é como um compromisso, um entendimento do mercado. Gostaríamos de ter esse nível aqui na América Latina, mas infelizmente isso ainda não ocorre.”