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F1 no Rio ou São Paulo: e agora, José?

O governo do Rio "conseguiu" perder o Grande Prêmio de Fórmula 1 há 30 anos. Conto os bastidores da mudança para São Paulo

Boris Feldman

17 de jun, 2019 · 6 minutos de leitura.

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Vista aérea do Autódromo de Interlagos, que receberá o MSXP
Crédito: JF DIORIO/ESTADÃO

Está anunciada a construção de um novo autódromo no Rio, no bairro de Deodoro, com custos bancados por investidores privados. O governo se excedeu no entusiasmo e anunciou a nova pista sediando a corrida de Fórmula 1 em 2020. Mas os paulistas lembraram as autoridades governamentais de que o contrato com Interlagos vai até o próximo ano. E não pretendem abrir mão do evento nos anos seguintes.

Uma das dificuldades para se levar a F1 de volta para o Rio é que a empresa internacional que a organiza (Liberty) não é mais de Bernie Ecclestone, mas tem gente  que se lembra muito bem o porquê de a corrida ter deixado o autódromo de Jacarepaguá há 30 anos.

O presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) em 1989 era o piloto e empresário Piero Gancia e eu era seu vice. Poucos dias depois da corrida daquele ano, Ecclestone, “dono do circo”, nos procurou para relatar que a Riotur, dona da pista de Jacarepaguá, exigia uma “contribuição” de US$ 3 milhões de dólares para a campanha eleitoral de Leonel Brizola, então governador do estado e candidato à presidência da República.

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Quem dirigia a Riotur era um parente do Brizola (casado com sua sobrinha) e condicionou a permanência da corrida em Jacarepaguá àquele pagamento.

Ecclestone contou a história quase rindo, incrédulo da exigência estapafúrdia e da ignorância da Riotur, que nem imaginava a disposição de outros países capazes do contrário: pagar muito mais ao “Mister F1” para convencê-lo a levar a corrida para suas pistas. Ele nos deu então um prazo para resolver o assunto, caso contrário, adeus F1 no Brasil.

Fórmula 1 em São Paulo?

A primeira ideia da CBA foi consultar São Paulo. Mas nem tentamos, ao lembrar que a prefeitura estava sob o comando de Luiza Erundina, do PT. Desde quando – pensamos – uma prefeita petista vai se interessar por corrida de Fórmula 1.


Saímos então em busca de outro autódromo. Pistas existiam várias, mas haviam exigências para receber o “circo” e a mais complicada era existir uma rede hoteleira de alta capacidade e qualidade

Brasilia e Goiânia eram algumas das que se enquadravam e seus prefeitos se entusiasmaram com a ideia e marcaram reunião de seus assessores com a CBA. Mas surgia então uma demanda que inviabilizava o plano: além de um percentual do faturamento do evento para a prefeitura, teria um outro, “por fora”. Inacreditável como a equipe de cada alcaide colocava as “taxas” na mesa sem sequer se enrubescer.

O tempo corria, nada de pista, e o Bernie deu um ultimatum ao Piero: estava organizando o calendário de 1990 e lamentava, mas levaria a corrida para outro país.


Aí, pensamos, já temos o “não” em São Paulo sem sequer conversar com os paulistas. Vamos então à última cartada: procurar a Luiza Erundina. Primeira surpresa nossa foi ela ter manifestado enorme interesse pelo assunto.

Segundo espanto: na reunião com assessores e secretários, todas as reivindicações da CBA para reforma do autódromo seriam atendidas. E rigorosamente ninguém insinuou destinar  verba nenhuma para Caixa 2 de nenhum político. A CBA bateu o martelo com Interlagos e com Ecclestone para o ano seguinte (1990), decretando o fim da Fórmula 1 no Rio.

Não me esqueço da reação dos cariocas com a notícia. A começar da associação dos hoteleiros que tentou forçar a permanência  da corrida, foi conversar com Brizola e até publicou um manifesto na imprensa, alegando que a Fórmula 1 não era o evento que mais trazia turistas à cidade (era o carnaval), mas responsável por seu maior faturamento.


Além da rede hoteleira, são dezenas de milhões de dólares canalizados por turistas com alto poder de compra para lojas, bares, restaurantes, taxistas, bordéis…

Pelo visto, vamos presenciar um embate entre as duas cidades. E agora, José, para onde vai a festa?

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