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Acredite: em agosto, gasolina brasileira ficará ‘imbatível’

Resolução da ANP estabelece novas exigências e aumenta a qualidade da nossa gasolina - que já era muito boa

Boris Feldman

03 de fev, 2020 · 5 minutos de leitura.

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Crédito: Marcello Casal Jr | Agência Brasil

Não é à toa que a gasolina brasileira é tão pichada: ela era tão ruim que carros exportados para nosso mercado até a década de 80 passavam por um processo de “tropicalização” que reduzia a taxa de compressão do motor para torná-la compatível com sua baixa octanagem.

Durante algum tempo existiu uma “melhorzinha” chamada de “azul”. Fim do vexame em 1994 com a substituição do tóxico chumbo tetra-etila pelo etanol, tornando-a mais limpa e aumentado sua octanagem.

Em 2014, mais uma tacada para encurtar a distância entre nossa gasolina e a do Primeiro Mundo: redução do teor de enxofre de 200 para apenas 50 partes por milhão (ppm). Com essa medida e a elevada octanagem, nossa gasolina equivale às melhores do mundo. Mas continua (agora, inexplicavelmente) a ser pichada.

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Densidade da gasolina

Na verdade, para ter padrão internacional, faltava uma regulamentação específica para sua densidade. A da gasolina gira no entorno de 700 g por dm³. A do etanol em cerca de 750 g/dm³ (a da água é de 1 kg por dm³, ou 1 kg por litro).

A eficiência de um motor depende da densidade do combustível: quanto maior, mais potência e menos consumo. Entretanto, à falta de uma regulamentação, nossa gasolina podia variar de densidade, embora quase toda fornecida pela Petrobrás.

Mas, com a possibilidade de ser importada e formulada por outras refinarias, parte da gasolina comercializada nos postos poderia ser formulada com densidade inferior, interferindo na potência e consumo.


Resolução da ANP

Neste mês de janeiro, a ANP, que regulamenta os combustíveis, estabeleceu novos padrões para a gasolina, incluindo a densidade mínima.

Em sua resolução 807 (de 23/01) ela reclassifica a octanagem, que é seu poder de resistir à compressão antes (e durante) da combustão. A octanagem tem dois padrões de medição, o método de pesquisa (RON) ou método motor (MON). O método RON é utilizado na Europa. No Brasil adota-se hoje o mesmo que nos EUA, média entre RON e MON chamado IAD (Índice AntiDetonante).

Nossa gasolina comum, por exemplo, tem octanagem 82 pelo índice MON e 93 pelo RON. A média entre as duas (MON+RON)/2 = 87, que corresponde ao índice IAD utilizado nos EUA e no Brasil.


E quais as alterações desta resolução entram em vigor em 2 de agosto de 2020?

Em relação à octanagem, muda o padrão de classificação da gasolina, de IAD (norte-americano) para o europeu (RON). Então:

Tipo de gasolina 
Gasolina comum e aditivada; Atual (IAD): 87; Resol. 807 (RON): 93
Gasolina Premium; Atual (IAD): 91; Resol. 807 (RON): 98

Existem ainda as gasolinas especiais , com octanagem ainda superior à premium, não padronizadas pela ANP: a Podium (BR), Octapro (Ipiranga) e Shell Racing. Seu IAD é de cerca de 95 que corresponde a RON 102, mas não são encontradas em todos os postos.


Então, no caso da octanagem , não houve exigência de mudança, apenas do padrão de classificação, porque nossa gasolina já tem elevados níveis (em função da adição de etanol): nossa comum, de 93 RON já está próxima da Super na Europa (95 RON) e a Premium corresponde à Super Plus europeia, ambas com 98 RON.

Vale observar que nossas especiais (Podium, Octapro e Shell R) são as gasolinas comerciais com maior teor de octanagem do mundo, acima de 100 RON.

Outros componentes nocivos como hidrocarbonetos oleofínicos e aromáticos e o benzeno já estavam limitados em níveis compatíveis com os do Primeiro Mundo.


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