Blog do Boris

O motorista brasileiro, encurralado

A eficiência que falta para manter rodovias, sobra para instalar lombadas irregulares e radares que saqueiam o brasileiro

Boris Feldman

13 de ago, 2018 · 7 minutos de leitura.

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O motorista brasileiro não tem por onde escapar. Na compra, no uso e na venda, é vítima da ganância de empresários acobertados pela leniência das autoridades.

Carro 0 km

Na compra do novo, o motorista brasileiro pode ser vítima da fábrica, concessionária ou da legislação precária. Se não conferir no porta-malas, pode descobrir mais tarde que o pneu sobressalente é de outra marca. Ou que foi vítima de propaganda enganosa e não encontra no carro o anunciado pela fábrica. A concessionária de padrão ético duvidoso oferece desnecessária proteção de pintura, já protegida desde a linha de montagem. Ou promete reparo de pintura defeituosa que jamais terá mesma qualidade que a original.

Carro usado

Se corre risco de ser enganado no carro zero, o usado dá margem a um cipoal de picaretagens. Hodômetro que deu “marcha-ré”, pneu frisado ou remoldado, “gatilho” na mecânica e até carro que já deu PT, brilhando de volta na vitrine…

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Segurança

Motorista brasileiro está certo de contar com uma legislação que exige segurança em seu carro novo. Está enganado: ela é falha, desatualizada e prova disso são as simulações realizadas pelo LatinNCAP, entidade independente uruguaia que classifica os modelos comercializados no Brasil de acordo com seu nível de proteção.

Nos testes de impacto lateral, por exemplo, muitos dos nossos compactos “tomam pau” e recebem apenas uma das cinco estrelas possíveis. O fabricante explica o fiasco sempre com o argumento de seguir a legislação brasileira. Às vezes, para atenuar o impacto da imagem negativa, corre para reforçar a carroceria…

No posto

Pode pagar pela gasolina aditivada e receber a comum. Ou adulterada. Aliás, uma das adulterações foi até oficializada por Dilma (para agradar usineiros às vésperas de sua reeleição) que autorizou subir o “batismo” com etanol para 27%. É gato por lebre, pois o álcool contem menos energia que a gasolina. Tem também posto desonesto que adultera a bomba e entrega menos combustível do que marca o visor. Mas são poucos fiscais para milhares de postos.


Na reposição

O mercado paralelo de peças exige muita atenção pois governo faz vista grossa para as picaretagens. Só se põe a mão no fogo se embaladas de fábrica (chamadas originais) pois no mercado paralelo tem de tudo. São confiáveis se fabricadas pelos fornecedores da fábrica. Mas também de fabricantes independentes que podem, ou não, oferecer mesma qualidade. Fora o fantasma das importadas de países asiáticos, de procedência e qualidade duvidosas. É salve-se quem puder..

Certificação

A atuação do Inmetro, órgão do governo responsável pela normatização dos componentes de reposição, é escandalosa. Permite a remoldagem de pneus sem se  identificar as características originais da carcaça. Já autorizou a recauchutagem de pneus para motos. Anunciou o controle dos componentes no mercado de reposição, mas elaborou uma minguada lista de 20 componentes que atende muito mais ao interesse do fabricante que do consumidor. “Esqueceu-se” de centenas de peças que comprometem a segurança (freio, transmissão, direção e suspensão), mas exigiu seu selo em componentes internos do motor. Pode?

DPVAT

Além dos absurdos impostos de circulação (IPVA), ainda enfrenta modalidade única no mundo: pagar o seguro obrigatório somente numa seguradora (Lider), monopólio que é verdadeira maracutaia e que – comprovadamente – já desviou bilhões de reais tomados à força e à forceps do motorista brasileiro.


Contran/Denatran

O motorista brasileiro é presa fácil nas mãos das autoridades de trânsito e parlamentares coniventes com os empresários que inventam despesas mirabolantes para saqueá-lo. Já tivemos estojo de primeiros socorros, extintor de incêndio, curso para renovação da CNH e outras exigências estapafúrdias. Mas incapaz de tirar do papel a inspeção veicular e de regulamentar as cadeirinhas infantis.

Armadilhas

Motorista brasileiro não escapa se não paga imposto. Mas sofre no bolso e na vida com as crateras asfálticas que danificam pneus, rodas e suspensão. E provocam acidentes. Falta eficiência na conservação da rodovia, mas não falta competência para instalar lombadas (quebra-molas) irregulares e radares. Estes, explicados hipocritamente com o objetivo de “educar o motorista. O brasileiro tem certeza de que se prestam exclusivamente para saqueá-lo…

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