Blog do Boris

Pinóquio de Ouro 2018: E o prêmio vai para… o Pinox

Pino de aço fabricado na Áustria promete reduzir em até 20% o consumo de gasolina. Teste revela que é propaganda enganosa

Boris Feldman

14 de jan, 2019 · 7 minutos de leitura.

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Pinox

Vários veículos da imprensa especializada atribuem anualmente prêmios para o melhor, o eleito, o queridinho, o favorito e vai por aí. O AutoPapo prefere denunciar a maior mentira do ano que, em 2018, foi para um destes economizadores de combustível anunciados às dezenas na internet, quase todos prometendo economia de até 20% no consumo e ganho de desempenho.

Sem suar a camisa

O raciocínio que derruba todas estas tentativas de enganar o consumidor é simples: alguém imagina que, se funcionasse de fato, as fábricas de automóveis não sairiam correndo para adquirir sua patente, ou a própria “empresa” que o produz, ou milhares deles para instalar na linha de montagem?

Aliás, consultados, os engenheiros das fábricas confessam “suar a camisa” para conseguir uma redução de 2% ou 3% no consumo… E ficam perplexos ao tomar conhecimento dessas picaretagens anunciadas na internet.

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Mas, é sempre conveniente verificar se algum “Professor Pardal” não inventou de fato um dispositivo capaz de derrubar todos os conceitos físico-químicos da engenharia automobilística. E, para isso, o AutoPapo testou o Pinox, um dos mais recentes anunciados na internet, produzido (segundo o manual) na Áustria. Que não passa de um pino de aço, de tamanho e preço variáveis de acordo com a cilindrada do motor, comercializado no Brasil pela BE-Fuelsaver Brasil Ltda, de São Paulo.

O que diz seu anúncio na internet:

“O otimizador automotivo PINOX é um dispositivo que possui uma frequência bioenergética, que altera fisicamente a estrutura molecular do combustível, proporcionando condições ideais para uma queima mais completa da gasolina e do diesel”.

Testando o pino mágico


Adquirimos então, por R$ 540,00, um Pinox especificado para motores a gasolina de 1.0 a 1.6 de cilindrada. A FCA cedeu para os testes um Fiat Argo 1. 0 com cerca de 17.500 km rodados e os testes foram realizados pelo engenheiro e perito judicial Sergio Melo. Exatamente de acordo com as recomendações do manual que acompanha o dispositivo.

O pino, que tem cerca de 4 cm de comprimento por 0,8 cm de diâmetro, foi instalado junto à uma mangueira que conduz a gasolina ao motor. Segundo o fabricante, ele pode também ser alojado diretamente no fundo do tanque de combustível. Pode ser transferido de um carro para outro e funciona com gasolina ou diesel. Tem garantia de 30 anos.

O engenheiro Melo rodou quase 250 km com o Argo, circulando quatro vezes num circuito de 58 km numa rodovia de duas pistas e que permitia manter velocidade de 100 km/h sempre em quinta marcha.


Resultado: nenhum!

Em cada reabastecimento, eram registrados quantos km percorridos e litros consumidos. Os resultados obtidos foram os mesmos em todas as medições efetuadas, sem modificação de consumo com ou sem o dispositivo (diferença na segunda casa decimal não foi considerada e pode ter sido provocada por alguma variação de velocidade durante o teste).

Sem Pinox: 16,97 km por litro de gasolina

Com Pinox: 16,90 km por litro de gasolina


Todos os abastecimentos e registros no hodômetro do automóvel foram gravados para registro dos valores obtidos.

Certificação

Falta no Brasil uma preocupação em certificar componentes e equipamentos no mercado de reposição. Fabrica-se e vende-se livremente qualquer produto, seja de empresa idônea, seja um “fundo de quintal”.

Na Europa, nada, mas nada mesmo é colocado à venda sem a aprovação de um órgão homologado pelo governo. O mais famoso é o TÜV na Alemanha: só se coloca no mercado um produto aprovado por ele.


Curiosamente, o fabricante do Pinox exibe um certificado do TÜV. Mais curiosamente ainda, apesar de produzido na Áustria, país vizinho da Alemanha, ele foi buscar o documento no TÜV do Oriente Médio. No “TÜV SÜD Middle East”. Enigmático, não?

Histórico dos Laureados

Relação da menos cobiçada premiação da imprensa automobilística brasileira

2005 – Toyota (garantia de três anos do Corolla )


2006 – Oficinas “empurroterapeutas”

2007 – Vectra GT (Não era Vectra, muito menos GT…)

2008 – Peugeot –(mentira do 306 vencer Stock Car)


2009 – Pirelli – (negou recall a pneus 17” do Vectra)

2010 – Caoa-Hyundai (Conar obrigou a tirar propaganda do ar)

2011 – Mantega (Mentiras do Ministro)


2012 – Effa (nº chassis alterado)

2013 – Civic (“ganhou” copa Petrobrás)

2014 – BMW Flex (só gasolina no start-stop)


2015 – Monroe (aqui 40 mil km, nos EUA 80 mil km)

2016 – Sindicom (cartel dos preços nos postos)

2017 – Nissan Frontier (suspensão Multilink)


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