Blog do Boris

Tretas e mutretas

Fabricantes e importadoras utilizam as brechas da lei (ou da ética) para se contornar a própria e "se dar bem"

Boris Feldman

13 de mai, 2019 · 7 minutos de leitura.

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A Folha de São Paulo divulgou que o Denatran demitiu, no fim do ano passado, sua equipe responsável pela emissão do Certificado de Adequação à Legislação de Trânsito (CAT). Qualquer veículo a ser comercializado no Brasil tem que se submeter à homologação do CAT.

Por que seus funcionários foram demitidos? Porque participaram de uma festa da Scania para lançamento de um novo modelo, hospedados no Sofitel Jequitimar de Guarujá (SP) às custas da empresa. O que vai contra o código de ética de funcionários de órgãos federais. Desde então, os lançamentos de veículos estão meses em atraso pela pilha de pedidos não atendidos pelo Denatran.

O que é jipe?

Mas não é de hoje que se questiona a lisura dos funcionários do Denatran. Uma das “tretas” assinadas por eles foi a homologação do Mercedes ML 320 CDI como jipe, possibilitando sua venda no Brasil com motor diesel.

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A fábrica obteve o documento apesar de o utilitário esportivo não estar enquadrado na legislação como jipe, que exige a caixa de redução na transmissão. A Mercedes “dobrou” o Denatran com o frágil e indefensável argumento de que os recursos eletrônicos do SUV cumpriam as mesmas funções da reduzida mecânica.

Houve até quem defendesse o governo, alegando que a exigência não decorria de uma lei, mas de uma portaria do DNC (Departamento Nacional de Combustíveis), já substituído há anos pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). E que já caducou por obsolescência. Mas, é óbvio que a lei, se obsoleta, não deve ser descumprida, mas alterada para se adequar à modernidade.

Além do mais, tivesse caducado, já seria possível automóveis a diesel no Brasil. Óbvio que, no rastro da Mercedes, várias outras marcas que fabricam utilitários esportivos de luxo homologaram seus modelos para o diesel.


O que contraria frontalmente a ideia do governo que, para reduzir a importação de diesel na época, restringiu seu uso a veículos pesados (ônibus e caminhões) e agrícolas (tratores, máquinas e jipes). Além disso, cortou impostos do combustível para reduzir os custos operacionais destes veículos. Mas jamais permitir que automóveis de luxo se valessem deste subsídio.

O que é híbrido?

É o que tem, por definição, dois motores: a combustão e elétrico, ambos responsáveis por tracioná-lo. A Mercedes-Benz lançou recentemente um automóvel com uma tecnologia supermoderna, a motorização EQ Boost.

Tem os dois motores, mas o elétrico (que é também motor de arranque e alternador) apenas aumenta a potência do motor a combustão e não é capaz de tracionar sozinho o carro, ao contrário dos híbridos de fato, ou “paralelos” como Prius, Fusion, Lexus, Golf GTE e outros.


A denominação “Boost” indica exatamente que o elétrico apenas amplia a potência do motor a combustão. Existem veículos com os dois motores não considerados híbridos: BMW i3, Nissan e-Power, Chevrolet Volt e outros, em que o motor a combustão não traciona, apenas gera energia elétrica para as baterias.

Nem a própria Mercedes define o EQ Boost como híbrido de fato.  A imprensa o chama de “híbrido-leve”, “meio-híbrido”, “híbrido que  não é híbrido” e quetais. Mas a fábrica não perde a chance para anunciar que o modelo escapa do sistema de rodízio em São Paulo. Por ser “híbrido”…

Carga

Não faltam tretas oficiais e oficiosas. A Kia, no passado, aumentou a capacidade de carga da Carnival no Brasil para chegar aos 1.000 kg, ser homologada como veículo de carga e fazer jus ao diesel.


Troller

A Ford aproveita uma brecha da lei para não equipar o Troller com airbags: estão realmente isentos os veículos off-road, embora todos os demais tenham o equipamento que pode ser desligado na trilha.

Conversão

No Brasil, tudo é possível: já teve concessionária VW de São Paulo anunciando conversão de carro a gasolina para flex. Só trocando o chip…

Assentos

E uma da Fiat na Grande BH adaptava dois assentos no pequeno espaço traseiro da Strada com cabine estendida.


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Jornal do Carro
Oficina Mobilidade

Sistemas de assistência do carro podem apresentar falhas

Autodiagnóstico geralmente ajuda a solucionar um problema, mas condutor precisa estar atento

22 de abr, 2024 · 2 minutos de leitura.

Os veículos modernos mais caros estão repletos de facilidades para a vida do motorista e, dependendo do nível, podem até ser considerados semiautônomos. Câmeras, sensores, radares e softwares avançados permitem que eles executem uma série de funções sem a intervenção do condutor.

As tecnologias incluem controlador de velocidade que monitora o carro à frente e mantém a velocidade, assistente para deixar o veículo entre as faixas de rolagem, detectores de pontos cegos e até sistemas que estacionam o automóvel, calculando o tamanho da vaga e movimentando volante, freio e acelerador para uma baliza perfeita.

Tais sistemas são chamados de Adas, sigla em inglês de sistemas avançados de assistência ao motorista. São vários níveis de funcionamento presentes em boa parte dos veículos premium disponíveis no mercado. Esses recursos, no entanto, não estão livres de falhas e podem custar caro para o proprietário se o carro estiver fora da garantia.

“Os defeitos mais comuns dos sistemas de assistência ao motorista estão relacionados ao funcionamento dos sensores e às limitações do sistema ao interpretar o ambiente”, explica André Mendes, professor de Engenharia Mecânica da Fundação Educacional Inaciana (FEI). 

Recalibragem necessária

O professor explica que o motorista precisa manter sempre os sensores limpos e calibrados. “O software embarcado deve estar atualizado, e a manutenção mecânica e elétrica, ser realizada conforme recomendações do fabricante”, recomenda.

Alguns sistemas conseguem fazer um autodiagnóstico assim que o carro é ligado, ou seja, eventuais avarias são avisadas ao motorista por meio de mensagens no painel. As oficinas especializadas e as concessionárias também podem encontrar falhas ao escanear o veículo. Como esses sistemas são todos interligados, os defeitos serão informados pela central eletrônica.

A recalibragem é necessária sempre que houver a troca de um desses dispositivos, como sensores e radares. Vale também ficar atento ao uso de peças por razões estéticas, como a das rodas originais por outras de aro maior. É prudente levar o carro a uma oficina especializada para fazer a checagem.

Condução atenta

A forma de dirigir também pode piorar o funcionamento dos sensores, causando acidentes. É muito comum, por exemplo, o motorista ligar o piloto automático adaptativo e se distrair ao volante. Caso a frenagem automática não funcione por qualquer motivo, ele precisará agir rapidamente para evitar uma batida ou atropelamento.

Então, é fundamental usar o equipamento com responsabilidade, mantendo sempre os olhos na via, prestando atenção à ação dos outros motoristas. A maioria dos carros possui sensores no volante e desabilita o Adas se “perceber” que o condutor não está segurando a direção.

A desativação ocorre em quase todos os modelos se o assistente de faixa de rolagem precisar agir continuamente, sinal de que o motorista está distraído. Alguns carros, ao “perceber” a ausência do condutor, param no acostamento e acionam o sistema de emergência. “O usuário deve conhecer os limites do sistema e guiar o veículo de forma cautelosa, dentro desses limites”, diz Mendes.