Estilo e agressividade nunca faltaram ao Ford Mustang. Força e desempenho, convenhamos, também não. Mas para reforçar essa fama, a marca traz uma nova versão com o motor 5.0 V8 mais potente da história. É nada menos que a recriação do Mach 1 — original 1969 e com atualizações em 1974 e 2003. O cupê chega ao Brasil com o primeiro lote — de 80 unidades — já esgotado. E, agora, sai por nada menos que R$ 523.950.
O palco para a apresentação oficial do Mustang Mach 1 à imprensa brasileira foi Autódromo Velocitta, em Mogi Guaçu, interior de São Paulo. Lá, o Jornal do Carro teve a oportunidade de acelerar o ícone, que é equipado com o mesmo motor da versão Black Shadow (vendida no Brasil até março). No entanto, o propulsor é 17 cv mais potente. Ou seja, gera até 483 cv. O torque foi mantido em parrudos 56,7 mkgf a 4.900 rpm.
Além dos altos números, outras características de performance do Mustang Mach 1 se devem à herança de componentes do modelo Bullitt e da linha Shelby (topo de gama com motor 5.2 V8 de 526 cv ou 760 cv). Deste último vêm controle de admissão, corpo de borboleta maior e sistema de arrefecimento do motor, por exemplo.
Do GT 500, o Mach 1 pega emprestado escapamento, difusor traseiro, conjunto de braços, bem como buchas da suspensão traseira e sistema de arrefecimento do diferencial traseiro.
Nos bastidores
A ansiedade é grande, mas, antes de acelerar, observamos a fileira de Mustang Mach 1, ali, com cada uma de suas oito cores de carroceria. São 4,80 metros de comprimento e cerca de 2 metros de largura — medidas que, por si só, já impõem respeito. O capô continua longo, mas a extremidade dianteira recebeu mudanças em relação ao Black Shadow.
Tem nova grade (que otimiza a turbulência), novo para-choque — com linhas desenhadas para otimizar o fluxo de ar —, assim como novo defletor inferior, cuja função é melhorar o fluxo de ar e aumentar o resfriamento dos freios e o downforce (força que empurra o carro contra o solo em movimento) em 25%.
Os faróis com iluminação full LED dão um ar ainda mais carrancudo ao cupê. Da mesma forma, a traseira curta tem lanternas em tom branco, aerofólio e o emblema Mach 1 ao centro. As rodas de 19″ de alumínio em tom cinza brilhante completam o visual.
Já do lado de dentro do esportivo, momento de contemplação. Um espaço com acabamento excepcional. Nada difícil encontrar a melhor posição ao volante. Mérito dos ajustes elétricos dos bancos (com desenho imitando o primeiro Mach 1, de 1969) e de altura e profundidade do volante — redondão, multifuncional e com aquecimento.
Estilo retrô vs conteúdo moderno
O estilo retrô é evidente. E não só pelo revestimento que rememora a versão original, mas por todo o conjunto, inclusive pelo painel reto e curto.
Por outro lado, a modernidade impera com painel de instrumentos digital (tela de 12″, personalizável) e central multimídia Sync 3 (tela e 8″), que oferece fácil leitura e comando de funções como sistema de navegação, além de Apple CarPlay e Android Auto. As funções do ar-condicionado bi-zone e do som também podem ser feitas pela tela. No mais, comandos de voz, duas entradas USB e sistema de som Bang & Olufsen com 12 alto-falantes.
O isolamento acústico é sob medida para que o som invada a cabine abruptamente — quando convidado pelo acelerador. E os detalhes de costura do revestimento interior conferem boa dose de esportividade e capricho. Ainda em equipamentos, tem câmera de ré, detector de pedestres, frenagem automática, os alertas de colisão e de permanência em faixa com detector de fadiga, entre outros itens que justificam seu preço de meio milhão de reais.
Na pista
Com uma saudade imensa de acelerar em circuito fechado (o repórter que vos escreve não pisava num autódromo desde antes da pandemia, ou seja, há quase dois anos), nada de perder tempo. Hora de deixar a área dos boxes e acelerar, mas ainda com o pé direito leve.
Já na pista, pé cravado no pedal do acelerador — apenas para ouvir o ronco instigante daquele 5.0, com os oito cilindros trabalhando incansavelmente. Na sequência de curvas à esquerda, à direita, em subida e descida, o foguete exala vigor. O banco esportivo impede que o motorista vá, então, de um lado para o outro.
Para testar a eficiência dos freios ABS com distribuição de força (e não abusar da velocidade), exercícios de frenagem com desvio estavam na pista. O desempenho do Mustang Mach 1 é excelente e trabalha para evitar o abandono de trajetória — mesmo jogando a carroceria de um lado para o outro e com o motor a todo momento tentando despejar o máximo de torque. Digno de elogios.
Comportamento
Sempre com os pulmões cheios, o Mustang Mach 1 encara o asfalto com desenvoltura ímpar, especialmente em altas rotações. A utilização do câmbio automático de 10 marchas (usado no Black Shadow, mas reprogramado) tem opção de trocas sequenciais por meio de borboletas atrás do volante. Na pista, a diversão é certa.
As trocas, aliás, mudam de comportamento dependendo do modo de pilotagem. Assim, quanto mais agressiva, mais as trocas atrasam. Uma verdadeira sinfonia aos ouvidos de quem realmente curte aquela “música” que sai pelos quatro escapamentos do esportivo.
Em todos os tipos de curvas (feitas em altas e baixas velocidades) e também nas barreiras, o Mach 1 é previsível e seguro. Mesmo com aquele aspecto pesadão, quem dirige tem o controle total do veículo a todo instante — isso, claro, com o controle de estabilidade (ESP) ligado. É ele quem tem o alto poder de correção, mesmo quando o piloto decide desafiar a física.
Suspensão é lida 1.000 vezes por segundo
A suspensão Magneride (adaptativa, com fluido magnético viscoso e ajuste independente nas quatro rodas) também tem bom comportamento em pista. Firme. Não dá para esperar algo confortável, afinal, essa não é a proposta. Claro que no péssimo asfalto brasileiro, o desconforto é certo. Mas, para melhorar quesitos como rolagem, aderência e outros aspectos, o conjunto faz a leitura dos sensores nada menos que 1.000 vezes por segundo.
Mesmo nas subidas da pista, o vigor do Mach 1 impressiona. Ganha velocidade rapidamente. Com a ajuda dos sete modos de condução (basta pressionar uma alavanca no painel central), é possível mudar o comportamento em geral, desde a velocidade de troca de marcha ou a resposta do acelerador, até o ajuste de direção, a atuação dos freios, bem como o ronco do escapamento.
Como tudo tem um fim, hora de pisar nos freios (Brembo) e voltar aos boxes. O que fica é a lembrança e a certeza de que, além de um comportamento insano, o Mach 1 tem muita tecnologia embarcada. Aliás, quer saber quanto o carro está gastando, planejar o abastecimento ou mesmo travar as portas? É só acessar o aplicativo Ford Pass Connect e fazer tudo por meio do smartphone.