A Renault já produz e comercializa o Duster no Brasil há mais de 10 anos, mas o SUV nunca foi referência em desempenho e sofisticação. O utilitário derivado da linha Logan e Sandero sempre brigou na entrada do segmento, com foco na relação custo/benefício (preço x espaço). Por causa disso, passou a última década com boa saída nas versões 1.6 flex.
No topo da gama, o Duster tinha o veterano motor 2.0 flex e o câmbio automático de quatro marchas. Entretanto, com as novas regras de emissões de poluentes, em vigor desde 1º de janeiro de 2022, a Renault teve de aposentar o velho conjunto mecânico. Assim, o SUV finalmente tem um trunfo para além do tamanho avantajado e do farto espaço na cabine.
O novo motor turbo
Recém-chegada às lojas, a linha 2023 do Duster traz o novo 1.3 turbo flex da marca francesa. Ele foi feito com a Mercedes-Benz, e, por isso, está disponível (em versão a gasolina) em modelos da marca da estrela, como o SUV de 7 lugares GLB, atual carro de entrada da alemã no Brasil. Na Renault, ele estreou há poucos meses no SUV Captur.
Porém, a sua chegada no Duster é mais simbólica. O SUV compacto é mais vendido e conhecido dos brasileiros. Em 2021, foram 22.457 emplacamentos dele contra 8.304 unidades do Captur. Entretanto, o Duster traz o motor turbo somente na versão topo de linha Iconic. Na linha Captur, todas as versões saem de fábrica com o 1.3 TCe.
Em ambos os SUVs, o conjunto é rigorosamente o mesmo. Tem 162 cv de potência com gasolina e 170 cv com etanol. Além disso, gera 27,5 mkgf de torque máximo a partir de 1.600 rpm com ambos os combustíveis. Até a aceleração de zero a 100 km/h é a mesma: leva 9,2 segundos, com velocidade máxima de 190 km/h.
Segundo a Renault, as retomadas estão até 36% mais rápidas. E isso ficou nítido ao volante. O SUV acelera como nunca antes, embora o câmbio automático do tipo CVT, que simula 8 marchas, priorize o menor consumo de combustível. Nesse sentido, faltou um “modo Sport” e borboletas no volante para trocas manuais de marcha.
Consumo exagerado com etanol
Já em relação ao consumo, talvez seja melhor pisar mais leve. Neste primeiro contato, o Duster turbo fez média com etanol abaixo do esperado. O SUV chegou a marcar 5,6 km/l em ciclo misto. Ou seja, bem menos que a média de 10,8 km/l, feita com base no consumo do Inmetro, que é de 11,7 km/l na estrada e 9,9 km/l na cidade.
Duster ou Captur 1.3 turbo?
Por uma questão de posicionamento de produtos, o Duster turbo chega mais barato que o Captur. Porém, o preço de R$ 135.590 é um paradoxo para o modelo. Não tanto por causa do irmão com design francês, mas porque o Duster fica caro pelo que entrega. A versão Iconic tem bastante conteúdo, mas deve itens mais sofisticados na lista.
Por exemplo, o novo Jeep Renegade 2022 acaba de chegar com motor 1.3 turbo. Ele é um pouco mais potente, com 185 cv, e tem o mesmo torque de 27,5 mkgf. Na versão Sport, usa câmbio automático de seis marchas e tem tabela bem abaixo do Duster turbo, a partir de R$ 123.990. Contudo, já nesta versão tem recursos semiautônomos de série.
Dessa forma, o Renegade custa menos e tem sistemas como frenagem automática de emergência, que pode evitar uma colisão no trânsito, e assistente de permanência em faixa, que corrige a trajetória. No SUV da Renault, não tem nenhum desses recursos modernos. A segurança tem duplo airbag frontal, ABS, Isofix e controle de estabilidade.
Tem até equipamentos interessantes que valem destaque, como, por exemplo, os alertas de ponto cego nos espelhos retrovisores. E o sistema de câmeras “multivisão”, que ajuda muito na hora de estacionar. Outro recurso na lista é o Start&Stop, que desliga o motor no trânsito para poupar combustível. Por fim, tem faróis automáticos e chave presencial.
Dirigibilidade supera eletrônica
Esta nova geração do Duster, lançada em 2020, logo no início da pandemia, trouxe evoluções dinâmicas e na cabine. Com a direção elétrica, o SUV é mais dócil em manobras e parece mais macio em movimento. Um ponto alto da versão turbo é o ajuste de suspensão bem dosado, que entrega robustez e boa firmeza em curvas, com ótima estabilidade.
Ao mesmo tempo, em pisos rugosos, os conjuntos filtram bem e isolam a cabine, entregando um rodar agradável. Ao pisar mais fundo no acelerador, o motor responde rapidamente, sem aquele pequeno atraso que é comum em modelos com motores pequenos com turbo. Aqui, ajuda o peso de 1.279 kg – é bem mais leve que o Renegade e seus 1.468 kg.
A cabine também evoluiu em estilo e se revela mais interessante que na geração anterior. Não há luxo e o acabamento tem mais plásticos pretos do que molduras estilizadas. Assim, não é como o Hyundai Creta, por exemplo, que tem várias peças prateadas e black piano, além de interior em dois tons. Resumindo, o Duster turbo é mais rústico.
Some-se a isso outros itens, como o freio de estacionamento por alavanca ou o arcaico comando satélite na coluna de direção. Mesmo a central multimídia poderia ser melhor. Ela tem tela de 8 polegadas e conexão por cabo com os sistemas Android Auto e Apple Carplay. Tem ainda GPS nativo e comando de voz, mas fica devendo internet e serviços conectados.
Vale a compra?
Se você é daqueles que gostam dos carros à moda antiga, sem tantas modernidades, o Duster turbo é uma ótima opção. O modelo atual estreou em 2020 e vai ficar ainda um bom tempo no mercado brasileiro antes de mudar, o que deve acontecer apenas em 2025. O motor 1.3 turbo flex também é novinho e entrega desempenho de alto nível.
Quem pisar fundo vai se decepcionar com o consumo médio, que será bem menor que o aferido pelo Inmetro. De toda forma, pelo preço de R$ 135.590, o Duster Iconic TCe deveria vir com mais conteúdos modernos. É muito por um SUV que foca na relação custo/benefício. Nesse caso, a versão 1.6 flex de 120 cv e 16,2 mkgf, com preço na faixa de R$ 100 mil, é mais negócio.