A próxima geração da Volkswagen Amarok será baseada na Ford Ranger. A nova picape média vai ser feita na Argentina e chegará ao mercado em 2022. Esses são os principais destaques, para a América Latina, da parceria global entre as duas empresas, cujos primeiros detalhes foram revelados na manhã desta terça-feira, 15, nos EUA.
O Grupo VW também revelou que investirá US$ 800 milhões na fábrica de Chattanooga. Na planta do Tennessee serão feitas as versões finais dos conceitos ID Crozz e ID Buzz .
Tanto o SUV quanto a van, uma releitura da Kombi, serão elétricos. O início da produção dos dois modelos, comemorada até pelo presidente dos EUA, Donald Trump, está previsto para 2022.
Chamada de “aliança”, termo jurídico utilizado nos EUA para designar esse tipo de operação, a união das duas empresas não envolve troca de ações. A parceria prevê cooperação no desenvolvimento de veículos elétricos, autônomos e serviços de mobilidade.
Este último já avança rapidamente na forma do C-V2X, recurso que será lançado nos carros da Ford nos EUA em 2022. Trata-se de um sistema de comunicação sem fio que permite que veículos troquem informações entre si, com outros modelos que estejam na via, pedestres e até com a infraestrutura de trânsito.
O C-V2X foi apresentado durante a CES, feira de tecnologia em Las Vegas, EUA, na semana passada. O sistema está sendo desenvolvido por um consórcio de empresas, do qual fazem parte outras montadoras, como Nissan e Audi.
O grupo inclui também a sistemista Continental, a Ericsson e a Qualcomm, das áreas de comunicação e tecnologia de processamento de dados. Durante uma demonstração dinâmica da qual o Jornal do Carro participou, há uma semana, em Las Vegas, foi possível constatar que a cooperação entre a Ford e a Volkswagen caminha a passos largos.
O exercício envolvia cinco veículos circulando em um ambiente controlado. Além dos Ford F-150 e Fusion, havia um Audi Q8 e uma motocicleta da Ducati, marcas que pertencem ao Grupo Volkswagen.
Ranger será global
“Essa é uma oportunidade de cada companhia obter o que há de melhor da outra”, diz o presidente da Ford Sul, que reúne Argentina, Peru, Paraguai e Uruguai, Gabriel Lopez. A opção pelo desenvolvimento em conjunto da nova Amarok deixa isso bem claro.
Lançada no Brasil em abril de 2010, a primeira picape média da VW nunca deslanchou em vendas. Em 2014, por exemplo, a Amarok somou cerca de 18 mil emplacamentos no Brasil, ante mais de 24 mil Ranger. Em 2016, foram vendidas, respectivamente, cerca de 9.200 unidades da VW e 15.800 da Ford no País.
A Ranger voltou ao mercado norte-americano no fim de 2018. Sete anos antes disso, a Ford abandonara o segmento em prol da F-150.
Bem maior que a Ranger, a F-150 é, talvez, o produto mais rentável da Ford nos EUA. E é o veículo mais vendido do mercado norte-americano há décadas, com emplacamentos anuais em torno de 1 milhão de unidades.
Um dos segredos desse sucesso é a gama ampla. De entrada na linha e voltada ao trabalho, a versão XL tem preço sugerido de pouco mais de US$ 28 mil (cerca de R$ 105 mil na conversão direta, sem impostos). A tabela da Limited, de topo, passa dos US$ 67 mil (algo como R$ 250 mil).
Mas a Ford não pretende entregar sua galinha dos ovos de ouro à Volkswagen. Por isso, ressuscitou a Ranger, que será transformada em um produto global. Atualmente, a picape feita na Argentina é bastante diferente da produzida nos EUA, por exemplo.
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Sinais surgiram há dois anos
Os primeiros movimentos na direção da parceria surgiram há pelo menos dois anos. Na edição de 2017 do Salão de Detroit, a Ford anunciou que voltaria a produzir a Ranger nos EUA.
Mais recentemente, a empresa informou que deixaria de produzir vários modelos, como o sedã Fusion e a linha Focus, inclusive na Argentina. O objetivo, segundo a empresa, seria concentrar a produção em modelos mais rentáveis, sobretudo SUVs.
No mesmo período, a VW começou a encerrar a produção, na Europa, de veículos menos rentáveis. Ao mesmo tempo, anunciou o lançamento de vários SUVs, como o T-Cross e o Tarek, que logo estarão no Brasil.
VW quer resgatar imagem nos EUA
Com a aliança, a Volkswagen pretende se reestruturar nos EUA, principalmente depois do “dieselgate”. Já a Ford precisa cortar custos e voltar a crescer na Europa, América Latina e China.
A VW está pagando um alto preço pelo escândalo da fraude dos dados de emissões de motores a diesel nos EUA, que vão além das indenizações milionárias. A escolha do local para divulgação da parceria não poderia ser mais emblemático.
Em vez de o anúncio ocorrer em um “campo neutro”, foi feito na sede da Ford, em Dearborn, próximo a Detroit, nos EUA. Na Sala Thunderbird, reservada para reuniões nas quais são discutidos os rumos da empresa, o presidente e CEO da Ford, Jim Hackett, recebeu o CEO da Volkswagen, Herbert Diess.
Nenhuma das duas empresas divulgou mais detalhes acerca da aliança. A mensagem mais repetida é que os próximos passos dependem de novos acertos e estudos mais profundos.
A demora está relacionada a questões jurídicas e dependem de análises de advogados. Juntas, as duas companhias empregam mais 800 mil pessoas e faturam mais de US$ 400 bilhões (cerca de R$ 1,6 trilhão, na conversão direta) por ano no mundo todo.
Veículos de passeio
Presidente da Ford América do Sul, Lyle Watters diz que não há nada decidido acerca do desenvolvimento de veículos de passeio. Mas há claros indícios de que a Ford utilizará o expertise da VW em segmentos nos quais não é tão competitiva.
É o caso, por exemplo, de elétricos, como os que a VW fará no Tennessee. E também de hatches e sedãs médios, como a linha Focus, e sedãs médios-grandes, caso do Fusion.
Recentemente, a Ford anunciou o fim da produção do Focus na Argentina e do Fusion no México. Isso abre espaço para, por exemplo, novos modelos baseados nos queridinhos VW Golf e Passat, mas com emblema da Ford na grade dianteira.
Além da Ranger, as linhas de vans das duas empresas também terão novidades em breve. A Ford produz a Transit e a VW, a Transporter e a Caddy. Todas são voltadas ao mercado europeu.
O jornalista viajou a convite da Ford