Apesar de dificuldades como desemprego (que afeta 14 milhões de brasileiros), real desvalorizado, falta de insumos e, claro, as paralisações impostas pela pandemia da Covid-19, a indústria conseguiu produzir 597,8 mil veículos entre janeiro e março, apontam dados divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Esse número é 2% maior que o acumulado do ano de 2020, que registrou 585,9 mil.
Das 60 fábricas de montadoras (associadas à Anfavea) instaladas em 10 Estados brasileiros, metade foi afetada pelas paralisações das últimas semanas. Ainda assim, a produção subiu 1,7% entre fevereiro (197 mil unidades) e março (200 mil). O crescimento é ainda maior quando comparado ao terceiro mês do ano passado, com 190 mil – alta de 5,5%.
No entanto, mesmo com elevação nos registros de produção, vendas e exportações, o cenário é bastante preocupante aos olhos do presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes. “Juros e Selic em alta, índice de confiança lá embaixo e insegurança jurídica assustam o setor automotivo. É preciso que Brasília pense mais no Brasil”, afirma o executivo.
Anfavea quer reverter alta no ICMS
Um dos principais pontos discutidos durante a coletiva de imprensa realizada pela entidade nesta quarta-feira (7) foi o aumento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em São Paulo. Questionado sobre as tentativas de reversão da alta, Moraes afirma que judicializar a questão não é o caminho.
“Estamos dialogando, na tentativa de sensibilizar o Governo e a Fazenda (Secretara da Fazenda e Planejamento), do contrário, é arcar com queda drástica em vendas nos próximos meses. Nenhum consumidor consegue absorver um aumento de 20%! Não adianta focar apenas no caixa do País, é necessário olhar para a sociedade como um todo”, argumentou Moraes em menção ao descaso do Estado com a importância do tema.
Vendas e exportações
As vendas de veículos tiveram alta. Foram 13,1% a mais entre fevereiro e março. Respectivamente, 167,4 mil emplacamentos e 189,4 mil. Em comparação com março de 2020 (163,6 mil), o crescimento é ainda maior: 15,7%. No entanto, os números deixam a desejar quando se fala dos emplacamentos do primeiro trimestre de 2021 e de 2020. A queda foi de 5,4% no período – 558,1 mil (2020) contra 527,9 mil (2021). Lembrando que, em janeiro e fevereiro do ano passado, o Brasil ainda estava alheio ao novo coronavírus.
De acordo com Moraes, os números só não foram piores porque, nesse meio-tempo, o brasileiro aprendeu a conviver com a pandemia, realizando ações como atendimento e emplacamento digital, por exemplo. “Isso facilitou a compra de veículos e, consequentemente, atenuou a queda.”
Com registro de 36,8 mil veículos em março, as exportações cresceram 11,2% em relação a fevereiro (33,1 mil) e 19,5% quando comparado a março de 2020 (30,8 mil). No primeiro trimestre, a princípio, o número é 7,6% maior que o mesmo período do ano passado – 95,8 mil (2021) 89 mil (2020). Ainda assim, cabe salientar que, apesar da alta, o montante fica muito aquém do registrado há três anos. Em 2018, as exportações somaram 180,2 mil unidades entre janeiro e março, ou seja, quase o dobro do número praticado hoje.