É interessante ver como a Citroën mudou ao longo dos últimos 15 ou 20 anos. Se antes sua proposta era ser mais elitista que as demais generalistas, agora o objetivo é se tornar uma marca popular. Tanto que seu lema agora é Citroën 4 All, para todos.
Essa mudança de paradigma começou com o C3, que hoje é um dos hatches mais baratos do mercado brasileiro. Em nada lembra do C3 redondinho que mirava modelos mais sofisticados, nada de concorrer com Volkswagen Gol ou Fiat Palio. Agora chega o segundo modelo dessa nova empreitada: o C3 Aircross.
O novato chega para brigar no segmento de SUVs compactos, mirando especialmente rivais como Chevrolet Tracker e Hyundai Creta. Mas traz um diferencial importante: é o único modelo a oferecer versões de sete lugares em sua categoria.
Entretanto, outro carro de um segmento diferente é o que deve ser mais impactado pelo lançamento. Apesar de ser uma minivan, a Chevrolet Spin é atualmente o modelo mais barato de sete lugares do mercado brasileiro, por R$ 135.370.
Por ora, o C3 Aircross começa a ser vendido apenas na versão com cinco assentos, mas no primeiro trimestre de 2024 estreiam as opções de sete lugares. Ainda não sabemos quanto elas vão custar, mas devem ficar na mesma faixa de preços da minivan. Já outros carros que oferecem versões com sete lugares estão em um patamar de valor mais elevado, partindo de cerca de R$ 200 mil.
Medidas do novo Citroën C3 Aircross
Construído na plataforma CMP, a mesma do hatch, o C3 Aircross tem o design marcante dos modelos da Citroën. O conjunto óptico dividido e a grade que liga as luzes diurnas de LED com o duplo chevron ao centro caracterizam a dianteira. Mas apesar de parecer um C3 “bombado”, o SUV tem suas particularidades, com para-lamas alargados e para-choque que divide a parte inferior do veículo.
Nas medidas, o modelo tem 4,32 metros de comprimento, 1,80 m de altura e 1,72 m de largura. O entre-eixos de 2,67 m oferece um bom espaço interno para quem viaja atrás, especialmente na versão de cinco lugares. Na de sete, a segunda fileira de bancos é deslocada 10 centímetros para a frente para que os dois assentos sobressalentes possam ser colocados.
Mesmo assim há conforto suficiente na segunda fileira, o que não pode ser dito para a terceira, entretanto. Ali apenas crianças conseguem se acomodar bem, mas serve como um quebra-galho para levar adultos (pequenos, de preferência) em trajetos curtos. Não que isso seja uma surpresa: até em SUVs de porte médio, ou mesmo grande, os passageiros da terceira fileira são “sacrificados”.
O porta-malas tem ótimos 493 litros de capacidade na configuração tradicional, mas essa medida praticamente zera com os bancos adicionais. Além disso, o C3 Aircross também tem boa altura em relação ao solo, de 23,3 cm, e ângulos de entrada (23,8º) e de saída (32º), o que ajuda na hora de enfrentar trechos mais acidentados.
Interior e equipamentos
Desde a versão de entrada Feel, que parte de R$ 109.990, o C3 tem uma lista de equipamentos razoável. Há direção elétrica, ar-condicionado, três entradas USB (uma na frente e duas atrás), controles da áudio no volante e central multimídia com tela de 10” com conexão para Apple CarPlay e Android Auto sem fio.
Já a intermediária Feel Pack, de R$ 119.990, acrescenta painel de instrumentos digital, rodas de liga leve aro 16, sensor de estacionamento traseiro e retrovisores elétricos, por exemplo. Por fim, a topo de linha Shine, por R$ 129.990, traz também bancos e volante revestidos de couro sintético, câmera de ré, faróis de neblina e pintura bitom (veja aqui todo o conteúdo de cada uma das versões).
O acabamento é simples, com plásticos duros, mas as peças são bem encaixadas, sem rebarbas. Diferentemente das primeiras unidades do C3, que tinham muitos problemas desse tipo quando o carro estreou. Outro destaque do interior na configuração de sete lugares é a solução encontrada para que os ocupantes da última fileira possam aproveitar o ar-condicionado: as saídas de ventilação ficam no teto, como nas vans de passageiros, para que o ar circule com mais eficiência.
Motor e câmbio
Todas as versões do SUV trazem o mesmo trem de força. O motor é o 1.0 turboflex que entrega 125 cv com gasolina e 130 cv com etanol, além de 20,4 mkgf com os dois combustíveis. Esse propulsor está presente em vários carros do grupo Stellantins, como no Fiat Pulse ou no 208. O câmbio é CVT que simula sete marchas. O conjunto torna o C3 Aircross o SUV turbo automático mais em conta do Brasil.
De acordo com a Citroën, o utilitário esportivo acelera de 0 a 100 km/h em 10,1 segundos com gasolina e 9,8 s com etanol. Já a velocidade máxima é de 191 km/h independentemente do que estiver no tanque. Dados do Inmetro atestam consumo de 10,6 km/l (gasolina) e 7,4 km/l (etanol) na cidade e de 12 km/l (gasolina) e 8,6 km/l (etanol) na estrada.
Primeiras impressões
Existem SUVs que não parecem SUVs ao volante e outros que não escondem a origem. O C3 Aircross faz parte da segunda categoria. Logo de cara, pela posição de dirigir, não há como negar que se trata de um carro mais alto e com visão privilegiada. Mesmo que existam alguns gatos pingados que odeiem essa característica, os SUVs se tornaram objeto de desejo nos quatro cantos do planeta, então jogar com a maioria sempre será um bom negócio.
Preferências à parte, o modelo da marca francesa oferece conforto e um bom encaixe para o motorista. Por ser um carro mais em conta que outros de sua categoria, não espere tecnologias mais avançadas, como partida por botão, freio de estacionamento eletrônico ou chave presencial. Falando em chave, a Citroën bem que poderia ao menos colocar um chave-canivete para o Aircross…
Rodando, dá para notar que a sua vocação é bem familiar e voltada para o conforto. A suspensão, por exemplo, é macia, mas tem um ajuste bem feito, sem ser mole demais e absorver os impactos com eficiência. Mas a falta de firmeza de um conjunto mais esportivo é sentida quando você entra em uma curva em alta velocidade. O carro não tem tanta estabilidade, e com o centro de gravidade mais alto, não dá para abusar. Melhor aliviar o pé esquerdo.
Bom custo-benefício
Mas essa nem a proposta do C3 Aircross. Ele não foi desenvolvido para ser um carro de grandes performances e acelerações incríveis. Então, vai muito bem para o seu objetivo. O casamento entre motor e câmbio foi uma união feliz. Eu, particularmente, não costumo gostar de CVTs, mas o trabalho desse conjunto foi muito bem feito. Então você não vai acelerar horrores o tempo todo, mas o 1.0 turbo mostra a que veio quando é preciso de uma força extra em ultrapassagens ou arrancadas.
Aliás, nem é muito bom que o velocímetro ultrapasse os 120 km/h. Em velocidades acima disso, dá para perceber uma espécie de vazamento de vento na cabine. Os ocupantes escutam um leve assobio que indica que o ar está entrando, mas sem identificar por onde.
Em conclusão, o C3 Aircross pode até ter um probleminha ou outro, mas nada muito grave. Por ter uma boa lista de equipamentos, mecânica confiável (quem diria isso dos franceses algum tempo atrás?) e espaço interno interessante, é um carro com ótimo custo-benefício para a família. E você ainda pode optar por usar um baita porta-malas ou levar mais gente, ainda que com certo aperto. A Spin, que nunca teve realmente um rival, vai ter agora um motivo para se preocupar. Isso porque mesmo que sua reestilização esteja próxima e ela fique mais moderna, o antiquado motor 1.8 aspirado vai continuar sob o seu capô.
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