O Gol é o maior sucesso comercial da VW no Brasil. Isso é indiscutível. Mas o hatch saiu de linha. E para o seu lugar, a marca lançou em fevereiro o Polo Track. Em um primeiro olhar, alguns dirão que o novo hatch é igual ao modelo que se despediu do mercado.
Talvez realmente tenha faltado um pouco mais de ousadia aos designers da marca alemã. Isso porque não dá para negar que o Polo Track mantém o estilo clássico dos carros da Volkswagen. O hatch até tem uns toques modernos, mas pouca coisa. No geral, as linhas são um pouco “mais do mesmo”, o que talvez não seja bom para um modelo tão novo. Afinal, o carro de entrada da VW agora utiliza a plataforma modular MQB-A0.
Isso muda bastante coisa. Por exemplo, este novo Polo Track tem arquitetura mais leve e feita com aços de alta-ultra resistência. Assim, é mais seguro que o Gol. Com a base modular, tem ainda os itens que forçaram a aposentadoria do antigo popular da marca. Ou seja, vem de série com quatro airbags (duplos frontais e laterais dianteiros), ABS, Isofix, assistente de saída em rampas e os controles eletrônicos de estabilidade e de tração.
Polo Track tem receita campeã, mas conseguirá êxito?
Herdar a simplicidade do Gol é algo que fez bem ao Polo Track. Isso porque o hatch traz o essencial e entrega mais ao volante. O motor é rigorosamente o mesmo do velho popular. Ou seja, o 1.0 MPI flex de três cilindros e 12 válvulas, capaz de gerar até 84 cv de potência com etanol e um torque máximo de 10,3 mkgf. Com gasolina, são 77 cv e 9,6 mkgf. O câmbio manual MQ200 de embreagem a seco também está lá, com trocas curtas e precisas.
A direção elétrica (em vez do sistema hidráulico do Gol) deixa o Polo Track mais macio e rápido nas respostas ao volante. Isso torna o hatch prazeroso e mais confiável nas manobras. Aliás, a engenharia conseguiu excelentes ajustes de suspensão e freios. Embora use discos ventilados somente na dianteira, com tambores atrás, as frenagens são seguras e estáveis. Além disso, os balanços curtos têm bons ângulos e dão robustez sob piso irregular.
Mesmo diante de valetas, lombadas e buracos (cada vez mais frequentes em São Paulo), o Polo Track não ofereceu sustos e passou “liso”. Por fim, o consumo de combustível se revelou nos padrões aferidos pelo Inmetro. Com gasolina, faz entre 13 km/l e 15 km/l. Com etanol, tem médias entre 9 km/l e 10 km/l. Não é o carro mais econômico do segmento (veja o ranking), mas tem ótima autonomia com o tanque de 52 litros cheio de gasolina – faz até 780 km na estrada.
Ignorar multimídia é o pecado capital do Polo Track
Neste primeiro teste da vida real com o Polo Track, ficou claro que a Volkswagen se preocupou muito com a parte técnica. Ou seja, em entregar um carro bem melhor e mais moderno que o antecessor. E, nesse ponto, não há como negar: o novo hatch de entrada é bem melhor que o Gol. Além dos airbags laterais e dos controles de estabilidade e de tração, tem arquitetura mais rígida e já preparada para uma eletrificação futura com versão híbrida leve.
O problema do Polo Track é talvez ser simples demais em um mercado cada vez mais exigente. Por exemplo, não oferecer opção de multimídia é um pecado capital no modelo. Com essa decisão, a VW obriga quem deseja ter uma tela no painel a comprar o novo Polo 2023. Isso pode ser coisa de momento, afinal, a Volkswagen sofre com a falta de chips eletrônicos. Inclusive, já parou a produção do Polo Track em Taubaté (SP).
Mas não é só na ausência de multimídia que o Polo Track peca. Por exemplo, o novo hatch de entrada leva ao extremo o corte de custos. Por exemplo, não tem opção de retrovisores com ajuste elétrico nem de acionamento dos vidros traseiros por botão – é preciso girar a boa e velha manivela. Além disso, o acabamento é totalmente de plástico, sem muito capricho ou partes de contato forradas com tecido. Para completar, vem com rodas de 15″ com calotas.
O básico com qualidade, mas e a ousadia?
A Volkswagen fez o certo, que era trocar o Gol por um substituto mais moderno. O Polo Track pode ser basicão, mas está uns bons degraus acima do antigo campeão de vendas em projeto. O problema é o custo. Para entregar as evoluções necessárias, e, assim, cumprir a legislação brasileira, que exigirá o controle eletrônico de estabilidade em todos os carros novos a partir de 2024, o hatch compacto chega no limite do preço.
Com tabela a partir de R$ 80.580, o Polo Track está longe de ser um popular. O modelo custa mais que outros hatches de entrada, como Renault Kwid, Fiat Mobi e Citroën C3, que começam abaixo de R$ 70 mil. Aliás, na lista dos carros mais baratos à venda no País, o sucessor do Gol é apenas o 7º colocado. Isso porque cobra mais caro que rivais como Fiat Argo 1.0 e Hyundai HB20 Sense. O problema é que o preço é decisivo nessa faixa.