As vendas de carros elétricos no Brasil ainda são minúsculas quando comparadas aos emplacamentos desses veículos em países como China, Estados Unidos e Japão. Entretanto, a rapidez como esse mercado cresce por aqui já impressiona e chama a atenção da indústria. Pois uma nova pesquisa aponta que, em 2035, o País terá em torno de 5,5 milhões de carros elétricos em circulação. O levantamento foi feito pela consultoria Kearney, a pedido da General Motors.
Mesmo que a passos lentos, o segmento de carros totalmente elétricos é o que mais cresce nas vendas globais. Para se ter uma ideia, em 2021, esses modelos representaram 7% das vendas de veículos de passeio e comerciais leves. Segundo o estudo, esse número foi alcançado por conta das novas políticas públicas de redução de emissões de carbono, bem como o aumento nos preços dos combustíveis. Além disso, algo que ainda não vemos por aqui, mas já é realidade lá fora, é que o aumento da oferta desses veículos faz com que eles fiquem mais acessíveis.
Um exemplo dessa ascensão é que, recentemente, o Brasil superou a marca dos 100 mil veículos eletrificados no mês de julho. No entanto, de acordo com os dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o destaque foi para os modelos 100% a bateria. Nos primeiros seis meses do ano, eles venderam cerca de 3.395 unidades. Ou seja, 19% acima do total de BEVs vendidos no ano passado.
Corremos o risco de sobrecarga de energia?
Em complemento, a pesquisa também mostrou que essa frota de mais de 5 milhões de carros elétricos seria responsável apenas por 3% do consumo de energia do Brasil. Números, inclusive, semelhantes aos de outros países da América do Sul, como é o caso do Chile e da Colômbia.
De acordo com a gerente de desenvolvimento e infraestrutura de veículos elétricos da GM na América do Sul, Glaucia Roveri, aproximadamente quatro em cada cinco usuários desses modelos carregam os carros à noite, em casa. Neste período, o consumo geral da rede é menor. Afinal, é quando a maioria das pessoas repousam, fábricas param e o comércio fecha. Dessa forma, o risco de uma sobrecarga é menor.
“O próximo passo na evolução será que este tipo de automóvel poderá fornecer energia para alimentar residências e a própria rede elétrica em horários de pico, por exemplo, reduzindo ainda mais o risco de sobrecarga no sistema mesmo com uma frota mais numerosa de EVs em circulação pelo Brasil”, acrescentou Roveri.
Elétricos tem consumo de eletrodomésticos
Outra questão que surge com o aumento na venda de carros movidos a baterias é sobre quanto custa carregar um modelo desse segmento. Nesse caso, o valor do kWh dependerá da bandeira vigente, que tem preços diferentes em cada estado. Para ilustrar, a pesquisa realizou um comparativo com a energia consumida por equipamentos domésticos.
No Chevrolet Bolt EV, que já está no Brasil, a bateria tem capacidade de 66 kWh que, segundo o ciclo WLTP, consegue rodar uma média de 459 quilômetros com carga completa. Assim, para “abastecer” o hatch elétrico, gasta-se a mesma energia que uma geladeira intermediária das mais eficientes consome por mês. Além disso, o estudo também ilustrou que para rodar 1.200 km mensais, 40 km por dia, o motorista vai gastar cerca de 170 kWh para carregar a bateria. Ou seja, a mesma quantidade para deixar um computador ligado durante o mês.
Outro ponto importante é a comparação entre o Bolt elétrico com um automóvel de porte e conteúdos semelhantes, que possui um motor flex. Com o preço médio atual da energia, da gasolina e do etanol, o estudo afirma que o custo por quilômetro rodado do carro elétrico chega a ser quatro vezes menor que o a combustão num trajeto misto (urbano e rodoviário).
Quanto custa a energia elétrica?
A cobrança pela recarga de carros elétricos é algo novo no Brasil, já que a maioria dos pontos disponíveis ainda permite o carregamento sem custos. Como não há legislação estabelecida para a cobrança, os valores variam. Por exemplo, o custo em carregadores de parede residenciais (Wallbox), com potências de 7,4 kW, é bem menor que o recém-lançado eletroposto da Shell. Uma carga neste equipamento é tarifada pelas companhias de energia elétrica, como a Enel X.
Mas, tal como o Jornal do Carro publicou em abril, o valor médio do kWh fica em R$ 0,66. Portanto, encher o pacote de baterias de 26,8 kWh do Renault Kwid E-Tech, por exemplo, têm um custo inferior a R$ 18 por carga. O hatch elétrico tem autonomia para até 298 km. Dessa forma, tem um gasto mensal com combustível quase dez vezes menor que o de um VW T-Cross turbo flex.