“Não há dúvidas: a Honda perdeu o seu mojo.” A frase de efeito se torna mais ainda impactante com a revelação de quem é seu autor. Ela foi dita por ninguém menos que o CEO mundial da Honda, Takahiro Hachigo.
E não foi só isso. Para executivos da montadora, a Honda passou tantos anos obcecada em bater a Toyota que perdeu a qualidade. As afirmações surgiram em entrevista coletiva com mais de 20 alto executivos da companhia, de acordo com a agência Reuters.
Na ocasião, o objetivo era revelar as metas que têm o objetivo de levar a fabricante de volta ao caminho do sucesso. “Nós perdemos os atributos de empresa de engenharia que fizeram da Honda tudo o que ela representou no passado”, falou Hachigo.
De acordo com o artigo da Reuters, nos anos 80 a empresa estava na vanguarda. Nas pistas e fora delas. A parceria com a McLaren à época, na Fórmula 1, foi muito bem sucedida. Ayrton Senna sagrou-se tricampeão pela equipe e passou a ser o garoto propaganda da Honda.
Fora das pistas, a marca obtinha grande sucesso com Civic e Accord, que eram dois dos carros mais adorados dos Estados Unidos. Além disso, foi a primeira montadora, conforme a Reuters, a revelar um carro elétrico a bateria, o EV Plus.
Trinta anos após o que a Reuters chama de “Momento Senna”, a situação é bem diferente. A qualidade dos produtos despencou. Indício disso é o fato de a montadora ter promovido recall de mais de 11 milhões de veículos desde 2018. Isso apenas nos Estados Unidos.
A empresa também perdeu também o bonde da história no desenvolvimento de elétricos, ultrapassada pela Tesla, entre outras. Na Fórmula 1, a parceria com a McLaren foi retomada.
No entanto, em sua terceira temporada na categoria, a Honda é a empresa que produz os piores motores da categoria. Por causa da parceria, a McLaren, que sempre manteve a tradição de disputar títulos, amarga agora posições no fundo do grid.
A ORIGEM DO PROBLEMA
A obsessão pela Toyota, e por ganhar participação de mercado, foi a principal razão para a perda de qualidade dos produtos da Honda. “Priorizamos a participação de mercado, em detrimento da inovação”, disse o CEO de pesquisa e desenvolvimento da marca, Yoshiyuki Matsumoto, à Reuters.
“Estávamos tão obcecados em bater a Toyota que começamos a nos parecer com ela. Nos esquecemos de nossa essência como companhia”, complementou.
Um exemplo dessa política é o Civic de nona geração – anterior a que é vendida atualmente. Lançada no início do ano, ela é fruto da redução de custos.
Seu design era mais careta que o do modelo de oitava geração, com o qual compartilhava a maioria das peças. Além disso, foram tantas as determinações de redução de custo durante seu desenvolvimento que o carro acabou ficando menor e menos espaçoso que o planejado.
Quando foi lançado, no início da década, o Civic foi muito criticado por especialistas da indústria mundial. O sedã só começou a recuperar sua reputação em 2015, com o lançamento da décima – e atual – geração.
A Honda sofreu uma queda abrupta em rankings de qualidade dos EUA. Em 2000, era a sétima montadora mais renomada, de acordo com a J.D. Power. Em 2017, ficou a 20ª posição nessa mesma lista.
COMO ‘VOLTAR AO CAMINHO’
De acordo com Hachigo, a base do plano de voltar a brilhar é dar aos engenheiros a liberdade de correr riscos. Para o executivo, isso é primordial na cultura Honda, mas a empresa deixou de arriscar nas últimas duas décadas.
O executivo disse que a Honda formou diversos grupos de engenheiros para pensarem exclusivamente em inovação. Os moldes são adotados por empresas como a Apple, por exemplo.
O objetivo é colocar a Honda de volta à vanguarda do desenvolvimento do carro do futuro – eletrificado, autônomo e conectado. No momento, a empresa está atrasada na criação de inovações para esses parâmetros.
VEJA TAMBÉM: CARROS QUE PERDERAM RELEVÂNCIA NO MERCADO
Volkswagen Tiguan
Há diversos modelos que já fizerem muito sucesso. Alguns foram até líderes de suas categorias. No entanto, geralmente por falta de inovação, eles foram perdendo o poder de atração. Alguns, hoje, respiram por aparelhos no mercado, de tão irrelevantes que são suas vendas. Nos áureos tempos, o Tiguan vendeu muito bem, e era objeto de desejo. Tanto que, até hoje, é figurinha comum nas ruas. Porém, nos últimos anos, as vendas do modelo passaram a ser totalmente irrelevantes. Em junho, ele teve menos de 50 emplacamentos.
Kia Cerato
Já apareceu em terceiro lugar no ranking de sedãs médios e, com preço competitivo, chegou a ameaçar a hegemonia de Corolla e Civic. Agora, o Cerato desapareceu. Em junho, teve 145 emplacamentos.
Volkswagen Golf
Um dos carros mais adorados pelos entusiastas, o Golf está minguando no ranking de vendas. Aqui, o problema é mais do segmento, que caminha para o desaparecimento no Brasil. O Golf, porém, tem registrado vendas ainda mais baixas que as de Cruze e Focus nos últimos meses, nos quais suas médias foram de 300 unidades.
Fiat Palio
Há dois anos, o Palio era líder de vendas no Brasil. Porém, desde o fim de 2017, ele vem perdendo mercado e, de abril para cá, não conseguiu chegar nem a 1.500 unidades emplacadas por mês. Hatch já sofre ameaça de ficar fora do "top 30".
Volkswagen SpaceFox
Outro segmento que está bastante ameaçado no Brasil é o de peruas. Já quase não há modelos da categoria no País. Os que são oferecidos não vendem nada. A SpaceFox registrou médias mensais abaixo de 50 unidades durante a maior parte do ano.
Ford Fiesta
O Fiesta já foi o Ford mais vendido do País e, antes, tinha cadeira cativa no "top 10" de vendas - com ocasionais visitas ao "top 5". Porém, há muito tempo ele já não frequenta nem o "top 20". Suas médias, neste ano, foram de cerca de 1.300 unidades. Problemas com seu câmbio automático (Powershift) ajudaram a manchar a imagem do modelo.
Nissan Sentra
Em seus momentos mais brilhantes, já foi o terceiro sedã mais vendido do País. Agora, tem médias mensais de vendas de 350 unidades.
Renault Duster
Foi o carro que mais perdeu com a chegada dos novos SUVs compactos. Nos últimos meses, suas vendas vêm despencando (leia detalhes aqui).
Honda CR-V
Em outros tempos, frequentava as primeiras posições da lista de vendas de SUVs. Desde o ano passado, vem aparecendo no pé deste ranking. Desde abril, suas vendas não passam de 50 unidades. O CR-V está sem mudanças há muitos anos, mas sua nova geração em breve estará nas lojas do País.
Fiat Strada
Não dá para dizer que a Strada, de uma hora para a outra, tornou-se irrelevante. É fato, porém, que a ex-líder disparada do segmento de picapes vem perdendo o brilho no ranking mês a mês. Sua situação é muito ruim quando são consideradas apenas as vendas no varejo. Cerca de 88% dos emplacamentos da Strada são provenientes de negócios fechados no atacado (leia aqui).