Há 40 anos, Chevrolet, Fiat, Ford e Volkswagen dividiam um mercado interno de pouco mais de 600 mil veículos por ano no Brasil. As importações estavam proibidas, a inflação corroía o poder de compra e os carros estavam atrasados tecnologicamente. Desde então, o Jornal do Carro (JC), que surgiu como um caderno impresso, acompanhou todos os planos econômicos que buscavam conter o processo inflacionário. E que, portanto, sempre atingiam os automóveis, como na reabertura dos portos aos importados, a introdução de novas tecnologias, na chegada de várias fabricantes ao País.
Relembre alguns dos principais momentos dessas quatro décadas, passando por congelamentos de preços, ágio, o fim do Fusca, em 1986 – e seu retorno, em 1993 –, a implantação do programa que criou o “carro popular”, bem como o crescimento do mercado e o aumento da competição no setor até a introdução de tecnologias pioneiras no mundo, como o sistema híbrido flexível.
Confira 40 fatos marcantes desde a criação do JC
Anos 1980
ESTREIA – Nasce o Jornal do Carro, em 4 de agosto de 1982. A indústria nacional era composta por quatro montadoras – Volkswagen, Ford, General Motors e Fiat –, que, naquele ano, venderam 641.992 veículos.
PRIMEIRO PRÊMIO – Em 1982, o JC ganha, assim, o Prêmio Chico Landi de Jornalismo. A reportagem “Por que é tão caro o carro mais barato do mundo”, de Marcos Garcia de Oliveira, mostrava o peso da carga tributária no País.
EDIÇÃO SEMANAL – Ao completar dois anos, em 15 de agosto de 1986, o JC passa a circular semanalmente.
TABELAMENTO – O Plano Cruzado entrou em vigor em fevereiro de 1986 e, então, congelou os preços dos veículos. A medida não surtiu o efeito desejado e resultou em ágio.
DE OLHO NA POLUIÇÃO – Em junho do mesmo ano, o Conselho Nacional do Meio Ambiente publicou a Resolução nº 18. Era o início do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores, o Proconve.
ADEUS AO BESOURO – O Fusca sai de linha e ganha uma capa especial do Jornal da Tarde, em 13 de agosto 1987.
SURGE A AUTOLATINA – VW e Ford se unem, em 1987, para reduzir custos por meio de sinergia entre produtos. É o caso, por exemplo, de Santana/Versailles e Apolo/Verona.
JC 4 EM 1 – Em 19 de agosto de 1988 começa a circular a edição com quatro cadernos independentes: Carro, Moto, Mercado e Serviço.
AVANÇO TECNOLÓGICO – Em 1988, a VW leva o Gol GTi, primeiro carro nacional com injeção eletrônica, ao Salão do Automóvel. O esportivo chegou às lojas no ano seguinte.
Anos 1990
PLANO COLLOR – Para tentar controlar a hiperinflação, em 1990 o Plano Collor confiscou o dinheiro das contas, que ficaram só com Cr$ 50 mil. Surgiram boatos de gente vendendo carros por valores irrisórios. O JC mostrou que a história era falsa e encontrou apenas um Fiat 147 em péssimo estado, por Cr$ 56 mil.
PRIMEIRO IMPORTADO – Após 24 anos com portos fechados, em 1990 as importações são liberadas. O JC avaliou, com exclusividade, o primeiro importado a chegar ao País, um BMW 520i. O sedã tinha câmbio automático, freios ABS e motor 2.0 de 95 cv.
A ESTREIA DO CATALISADOR – Em 1991, o VW Santana torna-se o primeiro carro nacional com catalisador e ABS.
POPULAR – O governo federal lança, em 1993, o programa que cria o, então, carro “popular”. Surgem modelos com motor 1.0 e acabamento espartano.
BESOURO RESSUSCITA – Incentivada pelo presidente Itamar Franco, a VW retoma a produção do Fusca em 1993. Dessa forma, JC faz uma edição especial com o título “De volta ao passado”.
SHOW DO MILHÃO – Graças ao programa do “carro popular”, em 1993, pela primeira vez, as vendas superam 1 milhão de autos e comerciais leves.
TURBO DE FÁBRICA – Em março de 1994, a capa do JC trazia um Uno vermelho, o primeiro turbo nacional de fábrica.
PRECISÃO – O JC passa a fazer testes no Campo de Provas da Cruz Alta, da GM, em 1994. Um Mercedes-Benz C280 estreou, dessa forma, o sistema eletrônico.
BOLSAS QUE SALVAM – Fiat e GM disputaram o pioneirismo do airbag nos nacionais, em 1996. Com bolsa para motorista, o Tipo veio antes. O Vectra chegou depois, mas com o item também para o carona.
Era das “newcomers”
MAIS FÁBRICAS – Novas empresas começam a produzir no País. A primeira foi a Honda, que, em 1997, inaugura a planta de Sumaré (SP) para, então, fazer o Civic nacional.
RENAULT PARANAENSE – Em 1998, a Scénic estreia a linha de produção da Renault, em São José dos Pinhais (PR).
L200 GOIANA – A Mitsubishi passa a fazer, em 1998, a picape L200 em Catalão (GO).
COROLLA PAULISTA – A Toyota inicia a produção do Corolla em Indaiatuba (SP).
DAKOTA PARANAENSE – A Chrysler lança a picape Dakota feita em Campo Largo (PR).
DEFENDER PAULISTA – Em São Bernardo do Campo (SP) a Land Rover passa a montar o Defender.
A3 E GOLF PARANAENSES – Em 1999, o Grupo VW inaugura a fábrica de São José dos Pinhais (PR) e, assim, passa a fazer o VW Golf e o Audi A3.
CLASSE A MINEIRO – Em Juiz de Fora (MG), a Mercedes-Benz começa a montar o Classe A.
Novo Século
O novo século trouxe mudanças importantes para o setor de veículos em todo o planeta, bem como no Brasil.
PEUGEOT E CITROËN VIRAM FLUMINENSES – Em 2001, o grupo francês PSA inaugura uma fábrica para produzir veículos da Peugeot e da Citroën em Porto Real, na região sul do Rio de Janeiro. De início, da linha de montagem saíam o hatch Peugeot 206 e a minivan Citroën Xsara Picasso.
FRONTIER PARANAENSE – A Nissan passa a produzir a picape Frontier na mesma fábrica da Renault, em 2002. A novidade foi, portanto, um dos primeiros frutos da união da marca francesa com a japonesa, iniciada em 1999. Anos depois, a Nissan teria sua planta própria no País, no Rio de Janeiro, bem perto da fábrica do Grupo PSA.
A revolução da tecnologia flex
MOTORES FLEXÍVEIS – Uma das mais importantes inovações tecnológicas do setor de veículos foi lançada em 2003: os motores flexíveis. O VW Gol Total Flex foi, então, o pioneiro a permitir a utilização de gasolina, etanol e/ou a mistura dos dois combustíveis em qualquer proporção. A tecnologia, que também ajuda a reduzir as emissões, em seguida seria adotada pela maioria das marcas no País.
CAOA EM GOIÁS – O Grupo Caoa, fundado pelo empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, inaugura sua fábrica em Anápolis (GO) em 2007. A planta fazia, inicialmente, os Hyundai Tucson (SUV) e HR.
RECORDE DE VENDAS – Pele primeira vez na história, em 2007 as vendas de automóveis e comerciais leves superam as 2 milhões de unidades no mercado brasileiro. Naquele ano, foram registrados 2.341.223 emplacamentos.
VENDAS DE 3 MILHÕES – Como resultado do aumento da produção e da estabilidade econômica, em 2009 o País rompe a barreira de 3 milhões de emplacamentos, com 3.008.867 unidades. No mesmo ano, Chery anunciou que traria o SUV Tiggo do Uruguai.
Anos 2010
HYUNDAI PAULISTA – Em 2012, a Hyundai inicia as operações de sua fábrica em Piracicaba, no interior paulista (à dir.), para produzir o hatch HB20, inédito no Brasil. Mas a importação de veículos da marca continua a cargo do Grupo Caoa.
SÉRIE 3 CATARINENSE – A BMW inaugura a planta de Araquari (SC), em 2014. Com isso, o sedã Série 3 e o SUV X1, que vinham da Alemanha, passam, assim, a ser brasileiros.
MARCH FLUMINENSE – No mesmo ano, a Nissan inicia a produção nacional do March. O hatch inaugurou a nova fábrica da empresa em Resende (RJ), que fica a 17 km da linha de montagem da PSA.
CELER PAULISTA – Também em 2014, a Chery inaugura sua fábrica em Jacareí (SP), a primeira fora da China. Com isso, a até então importadora inicia a produção da linha Celer no Brasil. Porém, as vendas nunca decolaram. Para salvar o negócio, em 2017 a marca vende parte da operação para o Grupo Caoa, o que criou a Caoa Chery, empresa que chegou a figurar entre as dez mais emplacadas do País.
Brasil vira polo de produção global
RENEGADE PERNAMBUCANO – A FCA (Fiat Chrysler Automóveis) inaugura a fábrica de Goiana (PE), em 2015, para produzir o Jeep Renegade. Mais tarde, a planta passaria a fazer a Fiat Toro e os Jeep Compass e Commander.
DEFENDER FLUMINENSE – Em 2016, a Jaguar Land Rover inaugura a fábrica de Itatiaia (RJ). E passa a montar o Land Rover Discovery Sport no Brasil.
CLASSE C PAULISTA – No mesmo ano, a Mercedes-Benz inaugura a fábrica de Iracemápolis (SP) para fazer o sedã Classe C e o SUV GLA. A linha funcionou até 2020. Em 2021, a planta foi vendida à chinesa Great Wall Motors.
INÉDITO HÍBRIDO FLEXÍVEL – A Toyota lança, em 2019, o primeiro veículo híbrido flexível do mundo, o Corolla. Com isso, dá início a uma nova fase tecnológica no País, que, em breve, contará com várias outras marcas.