Leandro Alvares
A ideia de transferir tecnologia das pistas para os carros de rua, que rapidamente surge à mente ao se pensar em uma categoria como a Fórmula 1, não pode ser associado à Stock Car quando o assunto é combustível. No caso da competição nacional, o processo é inverso: o etanol aditivado desenvolvido pela Shell para os veículos de passeio é utilizado pelos modelos de turismo.
“Se um carro da Stock Car trafegasse nas ruas e parasse em um posto de combustível para encher o tanque com etanol Shell V-Power, poderia usar o derivado da cana-de-açúcar sem nenhum problema”, afirma o engenheiro de combustíveis da Shell, Gilberto Pose.
“Nossa gasolina aditivada nasceu após o aprendizado que tivemos com a Ferrari na F-1. Depois disso, utilizamos todo o conhecimento e adaptamos os aditivos para o etanol. Por isso, foi um produto desenvolvido direto para as ruas, e a Stock Car passou a usufruí-lo,” explica.
Nos próximos anos, no entanto, a tendência é que a Stock Car sirva de laboratório para aperfeiçoamentos do combustível. “Pode ter retorno para os carros de rua. “Já estamos trabalhamos com o etanol de segunda geração, obtido a partir das folhas e do bagaço da cana, e precisaremos de um campo para testar isso”, destaca Pose.
Na opinião dos pilotos, a tecnologia das ruas tem feito muito bem ao esporte. “O ganho de potência nos carros de Stock Car com o uso do etanol aditivado foi significativo”, diz o competidor Valdeno Brito. “Os mecânicos também ficaram impressionados com o combustível, que diminui o desgaste dos componentes”, ressalta.
O caminho da cana. De oito a 14 horas. Este é o tempo necessário para a cana-de-açúcar se transformar em etanol nas usinas da Raízen, empresa pertencente à Shell. O Jornal do Carro visitou a unidade de Piracicaba, no interior, onde são produzidos diariamente 800 mil litros do combustível.
O processo parece simples, mas é muito complexo: a cana retirada por enormes colheitadeiras (há 23 delas em Piracicaba) é transportada por caminhões a uma área para lavagem do vegetal. Depois, é picada e desfibrada antes de ser direcionada à moenda para a obtenção do caldo. O próximo passo é a separação do líquido em duas etapas. Na primeira, retira-se o açúcar. Na segunda – com o acréscimo de leveduras e outras substâncias para fermentação -, o etanol.
Na destilaria, são adicionados detergentes e moléculas de redução de atrito para elaborar etanol aditivado. Segundo a Raízen, uma tonelada de cana produz 80 litros do combustível.
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