O Renault Duster tem longa trajetória no mercado brasileiro. Em pouco mais de 10 anos, já foi líder de vendas e também amargou o ocaso – quase foi aposentado. Agora, em 2022, longe de ser ofuscado pelo irmão Captur, o Duster tem uma nova chance de se destacar no segmento com a adoção do motor 1.3 turbo flex feito em parceria com a Mercedes-Benz.
Ele foi desenvolvido na Espanha e equipa, por exemplo, o SUV de 7 lugares Mercedes-Benz GLB em versão só a gasolina. Na linha Renault, o 1.3 turbo é flexível e estreou no Captur. No Duster, está disponível apenas na versão topo de gama Iconic TCe, com preço de R$ 133.990 (em São Paulo), valor já com o IPI reduzido – antes, partia de R$ 135.590.
O Jornal do Carro avaliou o SUV e destaca cinco pontos. Veja o vídeo!
1. Força bruta
O marketing da Renault abusa da licença de engenharia-poética ao realçar “tecnologia de F1” na construção do motor TCe, feito na Espanha em parceria com a Mercedes-Benz. Mas o fato é que a unidade 1.3 turbo flex, de 170 cavalos a 5.500 giros e torque de 27,5 mkgf logo a 1.600 giros é uma renovação gigante para o Duster.
Com isso e os 1.279 kg de peso (em ordem de marcha), o Duster consegue fazer frente ao todo-poderoso Renegade, que agora também usa motor 1.3 turboflex. O Jeep tem potência maior, com até 185 cv, mas entrega o mesmo torque máximo.
Tem mais: como o Renegade sempre vai ser mais pesado (a versão de entrada tem 1.468 kg), a relação peso/torque – quantos quilos cada mkgf puxa – é sempre mais favorável ao Duster. Se no Renegade 2022 a conta fica em, no mínimo, 53,5 kg/cv, no Duster TCe temos pouco mais de 49 kg/cv. E puxar menos peso obviamente melhora o desempenho.
2. Bom consumo
De forma surpreendente, o câmbio CVT Xtronic do Duster 2023 tem uma programação bem sincronizada com este motor Renault/Mercedes 1.3 turbo. É melhor que os automáticos de seis ou nove marchas usados no Renegade 1.3 turbo.
Assim, o Duster não é o mais veloz no 0 a 100 km/h – ele faz em 9,2 segundos, contra 9,5 s do Renegade S, mas 8,7 s do Renegade Sport. Entretanto, além de ser algo irrelevante para um SUV, o SUV da Renault é mais ágil nas saídas de semáforo, bem como em retomadas ou mesmo nas ultrapassagens em rodovias.
E também consome menos, o que é relevante no atual momento. Isso também por conta da melhor programação do sistema Start/Stop. Dessa forma, o Duster faz até 14 km/l na cidade com gasolina, passando dos 16 km/l na estrada, com autonomia batendo os 800 km (dados oficiais). No máximo, o Renegade vai encostar nos 13 km/l… na estrada.
3. Porte avantajado
Aqui, o Duster novamente leva vantagem contra o Renegade e outros SUVs compactos. Mas o recado vai mesmo para o irmão mais novo (e menor) Captur. Mesmo compartilhando plataforma e tendo quase as mesmas medidas de comprimento (4,37 metros) e entre-eixos (2,67 m), o Duster tem a cabine mais arejada que o Captur. Muito por conta de maior altura livre, em 7 centímetros, e por ser 3 cm mais largo.
Mais relevante ainda, o Duster tem porta-malas 38 litros maior, com um total de 475 litros. Praticamente tira todo o motivo de existir do Captur, que deveria ser reformulado para uma configuração para sete passageiros, como acontece em partes da Europa. Já na comparação com o líder Renegade, vantagem para o Duster com folga: são 10 cm a mais na distância entre-eixos, fora os 155 litros extras para bagagens.
4. Preço
O grande ponto do Duster é o preço contra rivais. Na calculadora, fica R$ 20 mil mais barato que o Captur e, na linha atual, pode ser até mais de R$ 30 mil mais em conta que o Renegade na versão de topo, com tração 4×4. O Renault parte de R$ 134 mil, com opcional de R$ 1.400 (o Outsider Pack, que acrescenta molduras de porta e caixas de roda, um “quebra-mato” medonho, com jeitão de máscara de Darth Vader, bem como luzes de longa distância). Isso fora as cores pagas à parte, de R$ 700 a R$ 1.650.
Ou seja, na soma, o Duster turbo alcança R$ 137.050. Nesse sentido, está longe de ser acessível como em outros tempos atrás, quando tinha preço a partir da faixa dos R$ 60 mil. Por nascer de um projeto mais antigo, o Duster não avança tanto na tabela, mas também não traz o fino das novidades. Como, por exemplo, recursos semiautônomos.
Apesar de bem equipado na configuração Iconic, sem apresentar defeitos crônicos, como encaixes mal feitos e rebarbas, ou plásticos de baixa qualidade, o Duster tem seus probleminhas. Ele traz um belo conjunto de rodas diamantadas Maldives (pneus 215/60 R17), mas tem apenas piloto automático com limitador de velocidade, e uma multimídia que não faz bem a integração com Android Auto e Apple Carplay.
Mas, no geral, é sincero na entrega dos itens. Auxílio nas saídas em rampa e sensor de ponto cego estão lá. Podia retomar um projeto de 4×4 e adotar a suspensão traseira independente da Oroch, né Renault? Tá em tempo e ia ser um reforço contra Renegade e outros rivais.
5. 2023? Mas já?
Por fim, precisamos falar dessa mania de algumas fabricantes de antecipar ano/modelo em relação à temporada cronológica. Isso não apenas causa confusão – ou galhofa –, mas gera um efeito de desvalorização dos seminovos, que estão no mesmo ano/modelo de concorrentes, mas que já são do modelo anterior.
Ruim já: para o consumidor que, porventura, tenha comprado um 2022 no final de 2021, mas que, agora, já tem o SUV velho. Ruim à frente: para toda a linha, nessa espiral de desvalorização. Com as mudanças, você consideraria o Duster frente aos SUVs do segmento e sobretudo, frente ao líder Renegade? Vá ao YouTube do JC e nos conte nos comentários.