O convite era irrecusável: fazer parte do primeiro grupo de jornalistas a pilotar um Stock Car na fase moderna da competição. O modelo, da Cimed Racing, seria guiado no autódromo do Velopark, em Santa Rita, no Rio Grande do Sul. Com apenas 2.278 metros de extensão, a pista é difícil, com muitas curvas, reta curta e desgate intenso de freios e pneus.
Isso ficou claro no reconhecimento da pista, em que, tendo o piloto Lucas Foresti como “zequinha”, me empolguei a bordo de um Chevolet Equinox e dei cabo dos freios do SUV em apenas quatro voltas. A fumaça que saia das rodas e os cacos de pneus soltando mostravam o que o calor de 32 graus na pista e as frenagens intensas poderiam causar. Fora isso, havia outros riscos, como passar uma marcha errada e quebrar o câmbio do Stock, que custa US$ 25 mil dólares (cerca de R$ 90 mil). A diversão era garantida, mas havia muitas responsabilidades em jogo.
Devidamente equipado com capacete e macacão, bota e luva anti-chama sigo para perto do Stock. O piloto Marcos Gomes me dá boas vindas e se prepara para mostrar o traçado ideal visto de dentro do carro de competição. Já na saída dá perceber a rudeza do bólido. Ele é como uma jaula, que segura o monstro do lado de fora. O banco é duro, a suspensão é dura, a forma de pilotar ela é dura… Não é nada fácil, ainda mais com todas as curvas do Velopark. A animação dá lugar a uma grande ansiedade.
Chega a minha vez de ir ao volante do Cruze Stock. Ligo a fera por meio de um botão no teto. Os 550 cv do V8 acordam como se já prontos para atacar. No Velopark, o carro fica parametrado para render 450 cv, já que a reta é curta e é preciso mais torque para sair das curvas do que potência.
Passo a primeira das cinco marchas do câmbio sequencial (pezada forte e rápida no pedal e alavanca para baixo sobe marcha, ao contrário desce) e começo acelerar o carro, que embola um pouco em baixa. Já na saída de reta ele mostra o quanto é rápido, com marca de 0 a 100 km/h em 3,4 segundos. Eu já pilotei muitos carros mais fortes que isso, mas nada se compara ao acerto de pista. Tudo é mais visceral e a sensação não se iguala a nada feito para rodar na rua.
Por mais que estivesse muito feliz e sorrindo por dentro, tenho certeza que uma foto do momento revelaria a testa franzida e o olhar um pouco assustado. Os pedais são muito duros e juntos e o volante fica grudado no peito e tem pouquíssimo giro. Tudo é muito diferente de um carro normal e não há tempo para se habituar. É sentar, se prender no assento com o cinto de quatro pontos e acelerar, simples assim, mesmo que não seja nada simples.
O Stock da Cimed, que agora é Chevolet Cimed Racing, é grudado no chão de uma forma que eu nunca tinha experimentado. É impressionante a forma como ele chega nas curvas e sai delas quase não precisando de mim. Aliás, qualquer pisada mais forte fora do padrão nas saídas de curvas fazem o carro “soltar” a traseira, então era bem mais fácil eu atrapalhar o carro do que ajudar.
Isso não aconteceu, eu estava muito concentrado, apesar do calor infernal que fazia dentro do carro, e consegui completar as voltas que me cabiam satisfeito com a minha performance e com um baita sorriso debaixo do capacete, mesmo tendo passado bem longe da velocidade máxima do carro, de 346 km/h. Ela foi apurada pelo piloto Caca Bueno no deserto de Bonneville Salt Flats, em Utah, EUA.
Por falar no maior campeão em atividade na Stock Car no momento, fui agraciado a dar uma volta rápida ao lado do piloto na pista. Ele perguntou se podia acelerar e eu quase implorei que sim. Durante as duas voltas que ele deu comigo puder perceber duas coisas bem claramente. Primeira: a ignorância é uma bênção, eu não acelero nada perto dele. Segunda: é preciso ser bem fora do normal em termos de reflexo, concentração e resistência física para ficar por uma hora disputando lugar dentro de um carro de corrida como este.